Ao longo das últimas semanas, têm-se multiplicado no Facebook publicações que garantem que o governo britânico emitiu um alerta dirigido à população, aludindo a um aumento “sem precedentes” de mortes de jovens vacinados contra a Covid-19 com vacinas de mRNA. Terá algumas destas alegações adesão à realidade?

Comecemos pelo alegado aumento significativo de mortes de jovens britânicos imunizados com vacinas de mRNA contra a Covid-19. A publicação em causa partilha um artigo de um site de informações falsas e desinformação, chamado Planeta Prisão, que cita dados alegadamente publicados pelo Gabinete Nacional de Estatísticas do Reino Unido. O artigo refere que, de acordo com aquela entidade britânica, “os jovens entre os 18 e os 39 anos que receberam quatro vacinas contra a Covid têm até 318% mais probabilidade de morrer [por efeitos provocados pela vacina] do que aqueles que não receberam as vacinas experimentais”.

A frase tem um link associado, que remete, não para a página do gabinete de estatísticas britânico nem para qualquer estudo sobre a matéria, mas sim para um outro site de desinformação, chamado The Exposé.

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No final de março, e perante as informações que começaram a circular primeiro nestas páginas de desinformação e depois nas redes sociais, o Gabinete Nacional de Estatísticas do Reino Unido veio esclarecer a questão. “Não encontramos evidências de um risco aumentado de morte cardíaca em jovens após a vacinação contra a Covid-19“, disse a vice-presidente do organismo, Julie Stanborough, citada pela BBC.

O ONS (na sigla em inglês) analisou os resultados logo após a vacinação e concluiu que não existe risco acrescido de morte cardíaco em pessoas entre os 12 e os 29 anos.

Aliás, o organismo comparou o risco de morrer por evento cardíaco nas primeiras seis semanas após a vacinação — quando a possibilidade de um efeito colateral é maior — com o período de sete a doze semanas a seguir à vacinação e não encontrou diferenças significativas entre os dois períodos no que diz respeito ao risco por faixa etária, sexo, dose ou tipo de vacina recebida.

O organismo admite que foram registadas mais mortes em jovens nesta faixa etária no Reino Unido em 2021 — comparativamente com a média dos quatro anos anteriores à pandemia (2015 a 2019), passando de uma média de 3598 para 3777 mortes nesse ano –, mas sublinha que esse excesso de mortalidade não se deveu a um aumento das mortes por doenças circulatórias/cardíacas.

Os autores do relatório da ONS, Charlotte Bermingham e Vahé Nafilyan, sublinham que os primeiros indícios apontam para um aumento das mortes em jovens no ano de 2021, em resultado de um crescimento do número de suicídios, particularmente em mulheres jovens, e de envenenamentos acidentais (principalmente provocados por drogas) em homens jovens.

Recorde-se que, seis meses após a administração massiva das vacinas contra a Covid-19, a Agência Europeia do Medicamento emitiu um alerta para casos de inflamações cardíacas, como miocardite e pericardites, detetados em jovens vacinados nos EUA e no Reino Unido, mas sublinhou que os casos eram raros e provocavam doença ligeira. O regulador do medicamento no Reino Unido acrescentou ainda que a recuperação das pessoas afetadas acontece de forma natural, sem necessidade de tratamento médico.

Quanto ao alegado alerta emitido pela autoridades britânicas relativo a este assunto, não existe nenhuma referência a nenhum aviso no site oficial do Ministério da Saúde britânico ou em notícias de órgãos de comunicação considerados credíveis.

Conclusão

O governo britânico não alertou para um aumento das mortes de jovens vacinados contra a Covid-19. Apesar de se ter registado um ligeiro aumento do número de mortes de jovens em 2021, o Gabinete Nacional de Estatísticas do Reino Unido concluiu que esse aumento não se deveu a causas cardíacas (associadas às vacinas contra a Covid-19), mas sim a um aumento do número de suicídios e envenenamentos.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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