Uma publicação que circula na rede social Facebook, e que expõe o título e entrada de uma notícia publicada pelo portal brasileiro Entorno, sugere que o governo do Reino Unido anunciou uma indemnização, no valor de 120 mil euros, para pessoas que comprovem terem ficado com danos causados pelas vacinas contra a Covid-19, bem como aos familiares das pessoas que morreram e que estavam vacinadas.
Mas terá o governo britânico realmente tomado esta medida? É verdade que existe, no Reino Unido, um pagamento de 120 mil libras (e não euros) destinado a pessoas que fiquem com danos comprovadamente incapacitantes em resultado da vacinação contra várias doenças. No seu site oficial, o governo britânico explica que se uma pessoa ficar “gravemente incapacitada em resultado da vacinação contra certas doenças, poderá receber um pagamento único isento de impostos de 120 mil libras, o chamado Pagamento de Danos à Vacina”. Pagamento que também poderá ser “solicitado em nome de alguém que morreu depois de ficar gravemente incapacitado por causa de certas vacinas”.
No entanto, esta indemnização existe desde 1979 e não foi anunciada recentemente devido à pandemia de Covid-19. A título de curiosidade, entre esse ano e o ano de 2004, foram pagas 917 indemnizações deste tipo no Reino Unido, segundo a BBC, o que equivale ao uma média de cerca 36 por ano.
O que aconteceu foi que a Covid-19 foi incluída na lista de doenças cuja vacinação pode dar direito a uma indemnização — mas apenas se daí resultar um grau de incapacidade severa para a pessoa imunizada. Na lista estão também incluídas as vacinas contra a difteria, meningite B, C e W, gripe, HPV, sarampo, poliomielite, gripe A, rotavírus, varíola ou tétano.
No entanto, e tal como acontece em todos os países, no Reino Unido o número de reações adversas resultantes da vacinação contra a Covid-19 é muito baixo. Segundo os últimos dados do governo liderado por Rishi Sunak, até 21 de dezembro de 2022, tinham sido administradas 145.104.738 vacinas contra a Covid, entre primeiras doses e doses de reforço. Destas, apenas foram reportadas reações adversas em 444.128 vacinações, isto é, 0,3% do total.
O governo do Reino Unido garante que “a esmagadora maioria está relacionada com reações no local da injeção (como dor no braço, por exemplo) e sintomas generalizados, como uma doença ‘tipo gripe’, dor de cabeça, calafrios, fadiga (cansaço), náusea (enjoo), febre, tontura, fraqueza, dor muscular e batimentos cardíacos rápidos. Geralmente, estes acontecem logo após a vacinação e não estão associados a doenças mais graves ou duradouras.” Ou seja, não se trata de reações graves.
A notícia do portal Entorno — conotado com a extrema-direita brasileira — refere ainda o relatório publicado pela Agência de Saúde do Reino Unido (UK Health Security Agency) que apontou que os vacinados são uma maioria entre as mortes por Covid-19 registadas durante o mês de março deste ano (2023) no Reino Unido. Será mesmo assim?
A informação é verdadeira mas, mais uma vez, enganadora. Esta situação explica-se, como esclarece a própria UK Health Security Agency ao jornal Estadão, com o facto de haver “mais pessoas vacinadas do que não vacinadas”. “Não é que as pessoas vacinadas tenham maior probabilidade de morrer”, sublinha a agência. “Haverá sempre algumas infeções que levam à morte porque nenhuma vacina é 100% eficaz, mas uma pequena proporção de uma população muito grande (vacinada) é geralmente maior do que uma proporção maior de uma população menor (não vacinada)”.
Conclusão
A informação transmitida na publicação de Facebook é, no mínimo, enganadora. O governo britânico não anunciou uma indemnização para pessoas “vítimas da vacina contra a Covid-19”. A realidade é que essa indemnização já existe há décadas e é atribuída a pessoas que fiquem comprovadamente incapacitadas em resultado da vacinação contra um grupo alargado de doenças, onde recentemente foi incluída a Covid-19.
Tal como é enganadora, colocada sem contexto, a afirmação de que a maioria das mortes provocadas pela Covid-19 são de pessoas vacinadas. Isso acontece porque há incomparavelmente mais vacinados do que não vacinados, e, como se sabe, as vacinas não são 100% eficazes.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.