A publicação é longa e terá sido adaptada a partir de outras, feitas ao longo dos últimos três anos, desde que a pandemia do SARS-CoV-2 foi declarada.
Diz o texto, publicado no início de fevereiro de 2023, que médicos alemães terão descoberto a cura para a doença — cuja vacina foi descoberta e distribuída mundialmente a partir do final de 2020 —, ao não “obedeceram à lei de saúde global da OMS, que exige fortemente não fazer autópsias em mortes por coronavírus”.
Segundo a publicação, ao fazerem tábua rasa dessa “proibição”, os médicos alemães, que não são identificados, nem pelos nomes nem através das instituições em que trabalham, chegaram à conclusão de que não é um vírus mas uma bactéria a responsável pelas mortes associadas à Covid-19.
“A Alemanha derrota a chamada Covid-19, que nada mais é do que ‘Coagulação Intravascular Generalizada’ (trombose). E a forma de lidar com isso, ou seja, o seu tratamento, são ‘antibióticos, anti-inflamatórios e anticoagulantes’. Primeiro de tudo, ASPIRINA”, continua a post de Facebook, que credita a informação entre aspas e fora delas ao Ministério da Saúde alemão.
Sem surpresas, não existe qualquer informação sobre o tema no separador dedicado à Covid-19 no site do Bundesministerium für Gesundheit, o Ministério da Saúde alemão.
E também não é verdade que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha alguma vez proibido as autópsias nos casos de morte por suspeita de infeção pelo SARS-CoV-2 — como aliás o Observador já tinha confirmado há mais de um ano, por meio de outro fact check. Pelo contrário, o que a OMS fez foi partilhar um guia, publicado logo a 24 de março de 2020, em que explicava os cuidados a ter ao manusear cadáveres com infeção confirmada ou suspeita de infeção.
No que diz respeito ao facto de as mortes por Covid-19 poderem dever-se a uma bactéria e não a um vírus, a informação científica disponível é igualmente contundente e contraria a 100% esta teoria. A começar pelo nome que a comunidade científica internacional adotou para a doença: CO, de corona, VI, de vírus, D, de disease (ou doença, em português).
No site da OMS, é possível aceder ainda às informações mais elementares sobre a doença, que ao longo dos últimos anos foi responsável por 6,87 milhões de mortes em todo o mundo. “A doença de coronavírus (Covid-19) é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2. A maioria das pessoas infetadas com o vírus apresentará doença respiratória leve a moderada e recuperará sem a necessidade de tratamento especial. No entanto, alguns ficarão gravemente doentes e exigirão atenção médica. Idosos e pessoas com condições médicas subjacentes, como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias crónicas ou cancro, têm maior probabilidade de desenvolver doenças graves. Qualquer pessoa pode adoecer com Covid-19 e ficar gravemente doente ou morrer em qualquer idade.”
De acordo com um estudo publicado em 2022 no British Medical Journal e desenvolvido por médicos suecos — que monitorizaram mais de um milhão de pessoas com testes positivos ao SARS-CoV-2 entre fevereiro de 2020 e maio de 2021 e as compararam depois com quatro milhões de pessoas que não foram infetadas, da mesma idade e do mesmo sexo —, existe efetivamente uma correlação entre Covid-19 e tromboses. “Os resultados deste estudo sugerem que a Covid-19 é um fator de risco para trombose venosa profunda, embolia pulmonar, e hemorragia. Estes resultados podem ter impacto nas recomendações de diagnóstico e estratégias profiláticas contra o tromboembolismo venoso após o Covid-19”, pode ler-se nas conclusões dos especialistas suecos.
Daí a concluir que a Covid-19 não passa de uma trombose, como se lê na publicação é uma grande extrapolação — que não corresponde à verdade.
Conclusão
Não é verdade que médicos alemães tenham descoberto que a Covid-19 seja uma bactéria e não um vírus. Não existe qualquer fundamentação científica para essa argumentação. Também não é verdade que a Organização Mundial da Saúde alguma vez tenha proibido as autópsias em casos de suspeita de infeção ou infeção confirmada pelo SARS-CoV-2.
Por muito que a Covid-19 se tenha revelado um fator de risco para o desenvolvimento futuro, entre outras doenças, de tromboses venosas profundas, dizer que a Covid-19 “nada mais é do que ‘Coagulação Intravascular Generalizada’ (trombose)”, também é um erro.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.