O alerta foi lançado por uma espetadora do programa Hora da Verdade, uma parceria entre o Observador e a TVI para a verificação de factos: “Circulam boatos na Internet de que um militar de Viseu ficou surdo na sequência da toma da vacina contra a Covid.” Perante a falta de informações públicas sobre o caso, a espetadora pretendia perceber se estava em causa apenas um boato ou se podia tratar-se de uma reação adversa a uma das vacinas disponíveis em Portugal contra a doença provocada pelo novo coronavírus.

Em contactos posteriores, foi possível perceber que o militar visado no “boato” pertence ao Comando Territorial de Viseu da GNR. Recebeu a primeira dose da vacina a 23 de fevereiro e, de acordo com o gabinete de relações públicas desta força de segurança, “apresentou queixas de surdez no ouvido esquerdo no início do mês de março”.

O tema saltou de imediato para os grupos informais de WhatsApp da GNR. E, nos últimos dias, a situação clínica do militar ocupou boa parte das discussões nesses grupos fechados, estabelecendo-se uma relação direta entre a toma da vacina (não se sabe qual das vacinas foi prescrita ao militar) e os sintomas sentidos cerca de uma semana depois.

O caso está a ser seguido por um médico, civil, que exerce funções no Comando da GNR de Viseu. Depois de o militar ter manifestado os primeiros sintomas de “surdez”, foram realizados vários exames e, neste momento, o militar “encontra-se a aguardar o resultado” desses exames. O Observador sabe que a Direção-geral da Saúde ainda não assumiu a condução deste caso clínico uma vez que o médico que está a acompanhar o processo optou por aguardar pelos resultados para, se necessário, reportar a situação ao organismo que centraliza a resposta à pandemia (na qual se insere o processo de vacinação em curso).

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Por essa razão, e ao contrário da associação debatida nos grupos WhatsApp da GNR, não foi estabelecida uma associação direta entre a toma da vacina e a surdez no ouvido esquerdo — o caso está ainda a ser estudado localmente. Ao Observador, aquela força de segurança refere isso mesmo: “O militar encontra-se a aguardar o resultado de exames médicos realizados, não existindo, de momento, informação que permita estabelecer o nexo de causalidade entre esta ocorrência e a vacinação contra a Covid-19.”

A Direção-geral da Saúde também foi contactada a propósito deste caso. O objetivo era, por um lado, perceber se haveria alguma relação comprovada entre a toma da vacina e os sintomas manifestados e, por outro, saber se havia relatos de casos idênticos. Mas, até à publicação deste artigo, não foi possível obter qualquer resposta.

Conclusão

Nos grupos WhatsApp de militares da GNR, abordou-se nos últimos dias a possibilidade de um militar daquela força de segurança ter desenvolvido uma “surdez no ouvido esquerdo” depois de ser vacinado contra a Covid-19. Há uma correlação entre os dois acontecimentos: a GNR confirmou ao Observador que, dias depois da toma da vacina, o militar revelou aqueles sintomas. Mas não foi estabelecida, até ao momento uma relação de causa-efeito. Ou seja, não está clinicamente provado que a vacina tenha sido responsável pelo desenvolvimento dos sintomas, tornando por isso enganadora a associação que tem sido feita.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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