Corre nas redes sociais a imagem de um gráfico que tem por objetivo fazer querer que o número de mortes causadas pela toma de vacinas disparou em 2021, altura em que começou a campanha de vacinação mundial contra o vírus da Covid-19 — ou seja, que a vacina contra o SARS-CoV-2 está a ser a causa de morte de milhares de pessoas. Na publicação que o Observador analisou, a imagem é acompanhada do seguinte comentário: “Ninguém quer falar do elefante na sala?”
O que mostra o gráfico? Uma evolução, de 1990 até 2021, do número de mortes notificadas ao VAERS, o Sistema de Notificação de Reações Adversas às Vacinas norte-americano. Em 1990, mostra 29 mortes. Dali para a frente, o gráfico de barras mostra sempre um valor acima das 100 notificações, até chegar ao ano atual. Embora não faça referência a quantos meses de 2021 estão representados, a barra mostra que as notificações de mortes vão em 3.409. O número atual é até mais elevado — o valor do ano está longe de estar fechado, por isso, deverá manter-se em crescendo até dezembro —, mas isso não significa que houve mais de 3 mil mortes relacionadas com a toma da vacina contra a Covid-19 ou, na verdade, relacionada com a toma de qualquer outra vacina.
Para perceber que não é possível estabelecer uma relação direta entre os dados recolhidos pelo VAERS — criado em 1990 para detetar eventuais problemas de segurança relacionados com vacinas aprovadas nos Estados Unidos — é preciso perceber como funciona o sistema de notificação.
Em primeiro lugar, como se pode ler na página do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), qualquer pessoa pode enviar uma notificação para o VAERS, mesmo não sendo o doente afetado e mesmo sem estar claro se foi, ou não, uma vacina a causar o problema de saúde.
“Como o VAERS permite que qualquer pessoa relate possíveis efeitos colaterais das vacinas, ele inclui relatórios que podem ou não ser causados pelas vacinas. O VAERS não foi projetado para identificar causa e efeito. Os relatórios VAERS por si só não podem ser usados para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um evento adverso ou doença. Alguns relatórios podem conter informações incompletas, imprecisas, coincidentes ou não verificáveis”, lê-se na página do CDC. E continua: “Os dados dos relatórios do VAERS devem sempre ser interpretados com essas limitações em mente.”
De cada vez que uma notificação dá entrada no sistema, a equipa do VAERS investiga o sucedido, recorrendo aos registos médicos para perceber os detalhes da situação, de modo a poder concluir se foi a toma da vacina (ou não) que causou o evento adverso sério (que pode ser um óbito).
“Se os especialistas em segurança de vacinas encontrarem uma relação entre um evento adverso sério e uma vacina, o FDA [ Food and Drug Administration] e o fabricante da vacina trabalharão para encontrar uma solução apropriada para abordar a preocupação específica de segurança”, explica-se no site do CDC.
O assunto já foi tema de vários fact checks nos Estados Unidos, incluindo um da agência Reuters. Naquele país, o assunto ganhou maior relevo depois de um comentador político e apresentador da Fox News, Tucker Carlson, abordar o tema: “Entre o final de dezembro de 2020 e o mês passado, um total de 3.362 pessoas aparentemente morreram depois de receber a vacina Covid nos Estados Unidos”, afirmou o analista político norte-americano durante o seu programa. “É uma média de cerca de 30 pessoas por dia. O número real é certamente maior do que isso, talvez muito maior do que isso.”
O The New York Times foi um dos jornais que avançou com uma verificação de factos àquelas declarações de Carlson e, para desmentir as alegações, baseou-se na informação do CDC.
“Quando o CDC examinou os relatórios do VAERS sobre as vacinas Covid-19 administradas de 14 de dezembro a 3 de maio encontrou 4.178 relatórios de mortes entre as pessoas que receberam a vacina. A agência ressalvou, no entanto, que após ‘uma análise das informações clínicas disponíveis, incluindo atestados de óbito, autópsia e registos médicos, não estabeleceu uma relação causal com as vacinas Covid-19’”, escreve o NYT.
Conclusão:
É falso que exista uma relação entre a morte de mais de 3 mil pessoas nos Estados Unidos e a toma da vacina contra a Covid-19. Segundo o CDC norte-americano, não foi possível estabelecer uma relação de causa efeito entre a inoculação e a morte de qualquer doente. Por outro lado, qualquer pessoa pode enviar uma notificação para o VAERS, mesmo não sendo o doente afetado e mesmo sem estar claro se foi, ou não, uma vacina a causar o problema de saúde.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.