Circula nas redes sociais uma publicação em que se alega que a série de televisão Os Simpsons (que está no ar desde 1989 e conta já com 35 temporadas) previu o início da guerra na Ucrânia em 2022, uma explosão nuclear em maio de 2024 e a morte do Presidente dos EUA, Joe Biden, em 2024.

A publicação inclui uma colagem de várias imagens que aparentam ser retiradas de episódios da conhecida série de animação. Numa delas surge uma pedra tumular com a inscrição “RIP 2024 Joe Biden”; noutra, é possível ver uma cena de guerra com Homer Simpson a empunhar uma bandeira ucraniana e Vladimir Putin na mira de uma espingarda com o ano 2022; noutra ainda, surge uma aparente explosão nuclear com a data 05/05/2024.

Não é a primeira vez que surgem publicações em que se alega que Os Simpsons previram grandes acontecimentos mundiais. O Observador já desmontou, aliás, algumas outras supostas previsões, como a do coronavírus ou a da queda do Silicon Valley Bank. A ideia de que episódios antigos de Os Simpsons têm previsões do futuro já se tornou, de resto, uma espécie de piada recorrente na internet.

Mas, tal como em vários outros casos, também esta nova suposta previsão se baseia em imagens adulteradas, como já veio publicamente confirmar um produtor da série.

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A primeira “previsão” que surge nesta publicação é a da morte de Joe Biden, através da imagem de uma pedra tumular onde se lê “RIP 2024 Joe Biden”. Porém, a imagem foi adulterada, como explica a Agência Reuters.

A imagem original surgiu no episódio número 468 da série, intitulado “Treehouse of Horror XXI”, e as letras não dizem “Joe Biden”, mas sim “I.M. Dead”, uma piada linguística com um nome cujas iniciais e apelido, quando lidos em voz alta em inglês, parecem dizer “I am dead”, ou seja, “eu estou morto”. A página WikiSimpsons, uma página de fãs dedicada a informações sobre a série, tem uma imagem da pedra original aqui.

A imagem seguinte, que alega prever o início da guerra na Ucrânia em 2022, é também uma montagem. A imagem do soldado surgiu, originalmente, no episódio número 650 da série, emitido em 2019. Na página oficial de Os Simpsons no Twitter é possível ver que, na imagem original, o soldado não tem a bandeira ucraniana no braço nem a espingarda tem o ano de 2022 escrito, como surge na montagem.

A imagem de Vladimir Putin, por seu turno, apareceu originalmente num curto vídeo publicado nas redes sociais pela série por ocasião das eleições norte-americanas de 2016. A certa altura, aparece Putin com uma t-shirt vermelha onde se lê “Red Sox”, e não a sigla CCCP (sigla da União Soviética em caracteres cirílicos).

Por seu turno, a imagem de Homer Simpson com uma bandeira da Ucrânia, que surge ao fundo do fotograma, vem de um outro episódio, o oitavo episódio da 17.ª temporada, de dezembro de 2005. Mas, na imagem original, Homer Simpson está com uma bandeira norte-americana nas mãos.

Por fim, a imagem da explosão de uma bomba atómica surgiu no episódio “To Surveil with Love”, da temporada 21, mas sem qualquer referência à data de 5 de maio de 2024, como sugere a montagem.

Em declarações por escrito à Agência Reuters a propósito da circulação desta publicação, Matt Selman, produtor executivo da série, confirmou que todas as imagens foram “adulteradas”. Selman confirmou também que todas as publicações com alegações de “previsões” de eventos futuros são “falsas” e “criadas por pessoas que não têm nada a ver com o programa de televisão”.

Conclusão

Trata-se de uma publicação falsa. Todas as imagens que surgem na montagem foram adulteradas ou tiradas do contexto, pelo que não há qualquer previsão da morte de Joe Biden, do início da guerra na Ucrânia ou de uma explosão nuclear na série. Isso mesmo foi também confirmado por um produtor de Os Simpsons à Agência Reuters.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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