Tal como a Covid-19, nas últimas semanas os vídeos do chamado “teste da vela” têm-se propagado pelo YouTube. O objetivo do teste é avaliar a fiabilidade das máscaras. Como funciona esse suposto teste? Com a máscara colocada, tente apagar a chama de uma vela. Se não conseguir, fica provada a eficiência da máscara. Se conseguir, é porque a máscara não é fiável. Mas será isso verdade? Não, como explica o El Mundo.
À semelhança de muita da informação que nos chega diariamente através das redes sociais, também este teste é muito pouco rigoroso. Não passa de um teste caseiro sem regras e parâmetros definidos e cujas condições em que é realizado podem variar, o que certamente também põe em causa a avaliação final. A título de exemplo das ideias erradas que se foram formulando a propósito destas máscaras, um post no Facebook sugere o seguinte exercício:
“Acenda um fósforo, vela ou isqueiro e tente soprar para apagar através da máscara, se conseguir apagar sem muito esforço, esta máscara não te dá muita proteção.” Mas este “teste” à funcionalidade destes equipamentos de proteção individual não é rigoroso. Vamos perceber porquê.
Não devemos, antes de mais, esquecer a função principal das máscaras: filtrar microorganismos de tamanho entre os 10 e os 100 nanómetros. O tal teste caseiro começa por falhar, ao esquecer que as partículas de oxigénio medem apenas um nanómetro, que dificilmente será retido pela máscara. Na verdade, é desejável, até, que o ar possa penetrar a máscara. Caso contrário, como conseguiríamos respirar com ela posta?
Se testar a capacidade de filtragem de uma máscara fosse assim tão simples, não haveria necessidade de recorrer à entidades competentes. Nos laboratórios são seguidos protocolos que procuram resultados consistentes através de experiências constantes.
No que respeita às máscaras reutilizáveis (ou comunitárias), não reconhecidas como material de proteção médica, o Infarmed explica que “os estudos de desempenho deverão ser realizados após simulação do uso real e dos números de ciclos máximos de reutilização previstos”. Nesse mesmo documento, a autoridade do medicamento em Portugal apresenta as especificações técnicas. Estas máscaras, cujo uso está destinado à “população em geral para as saídas autorizadas em contexto de confinamento”, está previsto um “desempenho mínimo de filtração de 70%” e um uso máximo de quatro horas ininterruptas, sem “degradação da capacidade de retenção de partículas nem da respirabilidade”.
Além disso, o fabricante — no caso das máscaras produzidas com objetivo comercial — deverá indicar ao utilizador o número de reutilizações seguras e as precauções de lavagem a ter em conta. A ASAE deve ser também notificada sobre o fabrico das máscaras e ser informada sobre “as características da matéria-prima, a descrição do processo de fabrico” e os testes realizados à eficácia do produto, que devem ser sempre realizados em laboratórios certificados.
Não é a primeira que este tema suscita dúvidas — nem foi apenas agora que começaram a surgir ações de desinformação a este respeito. O uso de máscara na comunidade, seja ela comunitária ou caseira, tem levado à multiplicação de equívocos que o Observador tem procurado desmontar nos últimos meses (como fez aqui, aqui, também aqui e aqui).
Conclusão
Há regras definidas pelas autoridades de saúde que garantem que a produção de uma máscara caseira é fidedigna e garante a proteção de quem opte pela sua utilização. Mas o propagado teste da vela — se é ou não possível apagar uma vela soprando a chama com a máscara colocada no rosto — não é considerado uma forma rigorosa de avaliar a qualidade destes equipamentos.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.