Por coincidência, a recente notícia sobre os bebés nascidos em 2019 em Portugal cruzou-se com um artigo do «Financial Times» sobre a bomba demográfica europeia. Comparando as duas abordagens do envelhecimento populacional, fica à vista uma diferença profunda de atitudes entre os especialistas portugueses e os europeus: enquanto os primeiros confirmam o carácter ideológico da abordagem predominante entre nós, segundo a qual «as mulheres desejam ter mais filhos mas não podem», os segundos abordam a questão com o necessário realismo perante o fenómeno e as suas consequências lógicas.

Os organismos europeus que seguem a evolução demográfica intervêm pois, conforme as situações nacionais, onde é objectivamente possível e desejável fazê-lo e não permanecem, como em Portugal, na expectativa do renascer da fecundidade a partir de um microscópico aumento de 0,6% dos nascimentos observado em 2019 e que se deve provavelmente a um ligeiro aumento de determinados fluxos imigratórios.

No melhor dos casos, em Portugal aponta-se com razão, mas sem eco, para a necessidade urgente de um investimento público maciço nas poucas, senão únicas, reformas susceptíveis de aumentar o número de nascimentos em Portugal ou, pelo menos, não o deixar diminuir, a saber: a criação de uma rede nacional gratuita de creches até aos 3 anos de idade e de jardins infantis dos 3 aos 5 anos. Os efeitos colaterais de uma medida como esta seriam benéficos para todos, excepto o sector dito não-lucrativo, pois a socialização e a pré-escolarização são magníficas para as crianças e permitem às mães continuar a trabalhar. Esta é a medida mais equitativa em que consigo pensar para Portugal!

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