Com uma nova eleição legislativa no imediato horizonte, acabam de ser divulgados os resultados da sondagem mais confiável que se realiza no país – a do ICS-ISCTE promovida pelo Expresso. Entretanto, foi lançada pela Rádio Renascença uma nova operação estatística semelhante à de vários países que consiste em obter a média de várias sondagens e que não difere muito da sondagem referida acima.

Ora, tanto num caso como noutro, os resultados mais recentes afastam a possibilidade de «maioria absoluta» pretendida pelo PS. Pelo contrário, segundo o histórico das sondagens do ICS-ISCTE, o PSD tem-se aproximado e não afastado do PS, de modo tal que, neste momento, a diferença de resultados brutos entre o PS (28%) e o PSD (22%) – isto é, considerando os votos brancos e nulos bem como os abstencionistas e um terço de indecisos – está dentro da margem de erro +/-3,3%…

A passagem desses resultados brutos para votos presumidamente definitivos é feita por distribuição proporcional dos 30% de hesitantes, o que pode falsear um pouco os resultados definitivos sem se saber bem em que direcção. Concretamente, ignoramos o que farão os inquiridos que declararam abster-se (16%), os quais serão certamente muito mais do que isso, assim como aqueles que hesitam em quem votar (14%), os quais poderão, por sua vez, ter querido esconder o voto num dos pequenos partidos descartados pela «mídia»!

Ora, a votação final prevista para o PS (38%) não teria hipótese de atingir a maioria dos deputados, apesar de a desproporção da elegibilidade ser cada vez mais favorável aos «grandes partidos» em detrimento dos «pequenos». Com efeito, a marca mais negativa do nosso actual processo eleitoral é a diferença cada vez maior que se verifica entre os dois «grandes» e os «pequenos» na conversão do número de votos em deputados, acabando o PS e o PSD por açambarcar o parlamento com manifestos inconvenientes.

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O registo mais importante da evolução das atitudes dos eleitores perante a eleição de 30 de Janeiro em relação à anterior sondagem do ICS-ISCTE é o facto de o PS ter perdido 2% das intenções de voto enquanto o PSD ganhava 5%, ficando respectivamente cada um com 38% e 31%, porém dentro de uma margem de erro grande. Quanto aos outros sete pequenos partidos, nenhum ultrapassa 7% de intenções de voto. Todos juntos valem menos do que o PSD, para não falar do PS, o qual se tornou, depois do «golpe parlamentar» de 2014, nesse «dono da política» que sempre pretendeu ser.

A forma como os dados finais da sondagem foram tratados é particularmente cuidada. Os inquiridores apoiaram-se numa bateria de características sociais e políticas dos inquiridos que haviam declarado não estar certos de ir votar e em que partido. O seu pequeno número não permite, porém, controlar totalmente os efeitos eleitorais dessas características. Além disso, paira como sempre a «espiral do silêncio» em que os inquiridos estão por definição emersos. Lembrar-me-ei sempre de um estudo pós-eleitoral de 2002 segundo o qual o partido derrotado (PS) teria tido mais votos do que o partido vencedor (PSD)!

O Presidente da República tem razão quando diz que a conjuntura pandémica em que o país continua mergulhado há dois anos é, do ponto de vista eleitoral, a mais constrangedora de todas. Em contrapartida, o Presidente da República não tem provas do fim da pandemia que anuncia para breve assim como também não lhe compete apelar a um governo maioritário de quatro anos. A menos de um mês da votação, tais hipóteses não passam de propaganda. A verdade é que os resultados do novo golpe parlamentar do PS que ditou a queda do parlamento e a convocação de eleições são imprevisíveis. E não são o Presidente da República nem o primeiro-ministro quem decidirá.

Com efeito, este último desatou a fazer promessas sem qualquer garantia. Primeiro, começou por anunciar que, no caso de não ter maioria absoluta, se demitiria. Simultaneamente, declarava que o actual ministro Pedro Nuno Santos tomaria conta do partido, algo que o próprio não comentou. Perante a indicação de o PS não ter maioria absoluta, o primeiro-ministro deixou de falar na tal «maioria absoluta» para declarar que, «no caso de o PS não ficar em primeiro lugar», o que não é de todo a mesma coisa que ter «maioria absoluta», ele se demitiria da «presidência do partido»… É muito diferente!

Estará o primeiro-ministro a preparar o terreno para uma nova «geringonça» e, simultaneamente, um lugar para ele no estrangeiro, como se fala? Segundo a sondagem do ICS-ISCTE, com as actuais intenções de voto do PS e dos seus quatro eventuais parceiros (PCP, BE, PAN e «outro»), é possível fabricar uma maioria aritmética, embora isso dependa do número de deputados eleitos. A tendência, porém, vai no sentido oposto: estarão o PSD e os seus possíveis aliados a aproximar-se de uma aliança de tipo diferente?