Querido Pai Natal:

Nesta época do ano sei que recebes muitos pedidos, mas, como me portei tão bem (basta ver as sondagens), acredito que vais passar pela minha chaminé.

Queria-te pedir, antes do mais, muita saúde. Para mim, para a minha família, para os portugueses e para o Senhor Professor Marcelo. Ele é muito boa pessoa, tem muita energia e está sempre em todo o lado. As pessoas gostam muito dele e, enquanto não se meter muito na minha vida, desejo-lhe tudo de bom.

Peço-te que me ajudes com a Catarina e o Jerónimo – andam muito acirrados e tenho saudades dos tempos em que eram “cachorrinhos que ladram mas não mordem” (oops… se o senhor do PAN lesse isto zangava-se por causa lá da coisa das figuras de estilo com os animais – mas até calha bem, porque enquanto aqueles dois andam entretidos com estes assuntos o pau vai e vem…).

Também te peço que nos livres de um polícia do Governo – parece que se chama oposição. Sem ele, eu e os meus amigos podemos fazer o que nos apetece sem que ninguém nos dê um raspanete ou alguma coisa assim mais desagradável. É que o senhor do outro partido (já não me lembro do nome dele) nunca diz nada e assim é que está bem.

Peço-te ainda que os portugueses continuem muito quietos e mansinhos e não percebam que os estou a afogar num mar de taxas parecidas com as francesas e que passam quase metade do ano a trabalhar só para pagar impostos. É óptimo que continuem a vestir coletes apenas quando dão uns toques com os carros nas estradas esburacadas!

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Querido Pai Natal: livra-me da gentalha liberal, que pensa pela sua cabeça e que quer tomar decisões (para isso estou cá eu, bolas). E livra-me dos empresários e das empresas (que maçada, esta coisa da economia) – estão sempre a empreender e a criar negócios novos e isso dá muito trabalho porque tenho que estar sempre a inventar impostos novos e a dar importância ao comité mortágua!

E queria pedir-te, especialmente, que emigrassem as empresas grandes e com lucros porque tenho que aturar a Catarina e o Jerónimo, que me atiram com o Marx à cabeça todo o tempo.

Peço-te também que a imprensa e a televisão continuem a ser muito minhas amigas. Aqui entre nós, se for preciso eu também lhes dou um presente, mas sabes que com a tua ajuda já não preciso de lhes mandar sms a dizer o que devem escrever como há uns anos. Agora têm-se portado tão bem que só é mesmo preciso que continuem assim, com juizinho.

Peço-te que os portugueses percebam que fiz um orçamento muito bonito e generoso e cheio de presentes para todas as pessoas que são funcionárias públicas. Eu sei que Portugal não é um país rico, acho que devemos muito dinheiro que vamos ter que pagar e por isso estar a dar tudo a todos parece-me um bocado perigoso e irresponsável porque depois não chega para algumas coisas urgentes. Mas é só mais esta vez – prometo!

Por falar em coisas urgentes: peço-te que também ninguém repare nas más condições das escolas, transportes, tribunais, prisões, quartéis, paióis, estradas e esquadras de polícia. Sei que as pessoas merecem ter comboios que não caiam aos pedaços porque ninguém lhes presta atenção, nem os conserta, nem os pinta; escolas que não metam água nem frio, onde as únicas pessoas felizes não sejam os professores (acho que os alunos também são um bocadinho importantes por lá); e paióis militares que não funcionem em modelo supermercado sem caixas (vai-se lá, aviam-se umas granadas e não se passa nada). O problema é que, como toda agente sabe, Portugal é um país pobrezinho e não há dinheiro para essas coisas.

A propósito: quero pedir-te que os portugueses também não reparem muito no que se está a passar nos hospitais. Sei bem que o Centeno não investe lá há muito tempo e que as coisas estão mesmo a cair aos bocados… Mas não é por mal, e enquanto não der muito nas vistas vou-me safando. Ah, e vê se me ajudas a meter juízo nos médicos e nos enfermeiros. Que diabo! Já trabalham só 35 horas, já têm horas extraordinárias, já lhes melhorei as carreiras e continuam a pedir mais. Deviam andar um pouco mais satisfeitos e caladinhos!

Peço-te, querido Pai Natal, que desta vez, pelo menos desta vez, prestes alguma atenção aos meus pedidos. É que vêm aí as eleições e, depois de tudo o que fiz, acho que mereço uma maioria absoluta para poder descansar desta maçada de ter de estar sempre a fazer de conta que sou amigo de todos. Prometo que com essa maioria vou arrumar de vez o país e restaurar aquela fase gloriosa em que quem se metia com o PS levava!

Conto contigo!

P.S. Por favor faz o teu melhor para manter esta carta secreta e longe da CM TV, senão ainda sou apanhado…