As atenções estão em Alexandra Reis e em Hugo Mendes. Mas esqueçam essas personagens secundárias. São meros apparatchiks do poder socialista. Alexandra recebeu uma indemnização cujo valor foi decidido no ministério de Pedro Nuno Santos. Nunca saberemos quantas indemnizações semelhantes foram pagas a outros funcionários do PS. Mas a facilidade com que esta foi paga, e a informalidade da decisão (mensagens do WhatsApp, semelhante ao modo como os meus filhos e os amigos organizam festas de anos e jogos de futebol), sugerem que haverá outros casos parecidos de indemnizações.

Quanto ao jovem Hugo, mostra bem o carreirismo em que se transformou a militância do PS. Arranjou um padrinho, Pedro Nuno Santos, e progrediu na sua sombra e sob a sua proteção. Foi membro de gabinetes, foi chefe de gabinete (de Pedro Nuno Santos), foi secretário de Estado e teria sido ministro (ainda pode ser um dia, já que em Portugal tudo é possível com o PS), senão fosse o momento de loucura que o levou a escrever o email mais famoso da política nacional do século XXI. Mas no seu currículo, há uma pérola que me chamou a atenção: “adjunto de um adjunto de Sócrates.”  Quem foi adjunto de um adjunto de um PM como Sócrates, terá tudo menos sensatez. A verdade é que PNS escolheu pessoas como Hugo Mendes para o ajudar a mandar na TAP, e para chegar a líder do PS. Também diz muito sobre PNS.

Fernando Medina e João Galamba também são figuras secundárias. Medina deve a sua carreira política a Costa. Resta saber se também deverá uma futura liderança do PS ao PM. Galamba é um autor de blogues que chegou a ministro do PS. No passado, mostrou uma enorme admiração por Sócrates. E consta que é próximo de PNS. Mas nada decide sobre o futuro do PS.

A TAP foi desde o início do primeiro governo socialista, em 2015, um assunto de António Costa e de Pedro Nuno Santos. O primeiro quis renacionalizar a TAP porque estava obcecado com a reversão de medidas do governo de Passos Coelho; de outro modo como justificaria uma aliança com o PCP e o Bloco, adversários históricos do PS? A TAP foi o símbolo das reversões de António Costa. Eis o resultado.

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Para PNS, a renacionalização da TAP foi sempre uma questão mais ideológica. Acredita numa intervenção forte por parte do Estado na economia. Mas se Costa e PNS estavam de acordo em relação a reverter o que o governo anterior tinha decidido em relação à TAP, a companhia rapidamente se transformou no centro da luta política entre os dois.

Para PNS, a intervenção na TAP serviria para mostrar que estaria preparado para liderar o PS. Costa sempre pretendeu o oposto: a TAP deveria ser a causa da queda de PNS. A luta entre os dois continua, agora com PNS a combater fora do governo. Com a demissão de PNS, Costa ganhou a primeira batalha. Mas o antigo ministro tudo fará para que Costa perca a batalha final.

Esta guerra socialista mostra a natureza do PS. O uso do poder serve os fins particulares, do partido e dos seus militantes na luta pela liderança partidária. Para Costa e para PNS, os mais de três mil milhões de euros que os portugueses pagaram são apenas um detalhe no meio dos seus desígnios políticos e da sua luta pelo poder.

Alexandra Reis e Hugo Mendes não contam. Mesmo Galamba e até Medina não interessam. Os culpados da desgraça de tudo o que se passa à volta da TAP são António Costa e Pedro Nuno Santos. Gastaram uma fortuna, paga com os impostos dos portugueses, para satisfazer os seus caprichos políticos e ideológicos. Desconfio que a TAP acabará por derrotar os dois.

PS: Viajo quase todas as semanas na TAP. Apesar de tudo, mantenho-me fiel. Ainda bem. Os seus profissionais são excelentes. As minhas felicitações pelo trabalho de todos na TAP, no meio de tantas dificuldades.