Decorrido um mês das eleições legislativas e debruçando-me sobre o seu resultado, existe uma realidade que não pode ser deixada de lado: a maioria de esquerda na Assembleia de República.
Portugal continua assim a ser, desde a primeira Assembleia Constituinte, um país de esquerda.
O que aconteceu à direita admirada?
A direita sempre governou grande parte do mundo. Quase todos os países desenvolvidos ostentavam a bandeira democrática com bases na família e no capitalismo. Quase todas as grandes cidades, que se ergueram de guerras e destroços, foram transformadas em cidades cosmopolitas, com universidades, galerias de arte e educação forte, devido ao princípio do livre comércio. Quase todos os Estados viram no período pós-guerra mundial o sabor da liberdade como uma meta para alcançar a estabilidade – aqueles que se recusaram a isso, rapidamente se viram num tremendo problema. O mundo americano, crescera tão rapidamente e de forma tão perfeita, que teve a possibilidade de fazer renascer países caídos em depressões – em virtude da iniciativa privada e da vontade individual de enriquecer.
A direita triunfara devido à liberdade e à vontade de procurar algo até esse tempo inexplorado.
Acontece que direita do século XXI caiu no erro de achar que a liberdade de pensamento e o seu modelo capitalista – que acabaria por se tornar selvagem – seriam suficientes para solidificar a sua posição no mundo desenvolvido. Não foram, e dessa forma despertou uma antiga tendência política, mas desta vez, renovada: ergue-se assim uma nova esquerda. Esquerda essa que se dizia diferente da esquerda dos países de leste ou pelo menos mais moderada. Dado que durante todo esse período não conseguiu potencializar as suas crenças, aproveitou-se do seu novo discurso (disfarçado) para apresentar temas que considerava estruturantes. Verificou-se, do mesmo modo que já se tinha verificado anteriormente, que estas ideias estruturantes, defendias como progressistas, rapidamente se tornaram em ideias radicais.
Essa esquerda que até à época usava a bandeira da liberdade como grande estandarte do seu ideal e o princípio coletivo como a meta da sua finalidade, reviu as suas prioridades e adaptou-as. Adaptou a liberdade, restringindo-a ao pensamento que considerava correto, e orquestrou o princípio coletivo, à imposição de um só pensamento universal.
Um dos maiores exemplos disso, em Portugal, dá-se durante o período do pós Estado Novo. O CDS, partido à época liderado por Freitas do Amaral, votou no dia 2 de Abril de 1976, contra a nova constituição alegando que esta estava diretamente ligada aos ideais socialistas. Ao ser acusado de ser uma continuação do Estado Novo, o CDS viu-se obrigado a formar governo com o Partido Socialista, pois só dessa maneira teria a aprovação da esquerda como um partido democrático. É só nesse momento que passa a ser visto como um partido contra o Estado Novo. Porquê? Simplesmente porque a esquerda portuguesa assim o decidiu.
Este é o início de uma limitação ideológica imposta pela esquerda portuguesa a todos aqueles que são de direita. Só é possível ser-se de direita até um certo “limite” – imposto pela esquerda.
Hoje, é essa a realidade.
Vivemos uma época em que o nosso pensamento é moldado por uma autoridade moral à qual, infelizmente, já não reagimos. Tudo o que não se enquadra no seu ideal é, imediatamente refutado, procurando penalizar qualquer ideia divergente. Quando é que foi a última vez que uma pessoa de direita pensou de forma autónoma, sem ter de recorrer às autoridades da liberdade de pensamento e expressão? Quando é que foi a última vez que se classificou o BE como um partido de extrema esquerda e perigoso para a democracia? Há muito tempo. Isso porque, a máquina da propaganda bloquista e comunista é de tal maneira eficaz que consegue esconder todas as atrocidades cometidas por regimes idênticos e transformar o seu ideal (utópico) num programa de Governo. “Uma vez mentira, verdade para sempre.”
A situação é inaceitável, quando nos acabamos por conformar com a representação de partidos de extrema-esquerda na Assembleia da República e pouco ou nada fazemos para combater essa situação inconcebível. O leitor quer saber uma curiosidade? O Partido Comunista Inglês nas últimas eleições teve 1000 votos em todo o Reino Unido, a coligação PCP-PEV teve 329 mil votos em Portugal nas últimas legislativas.
Peço coerência e genuinidade nas atitudes.
Peço que alguém ao considerar-se conservador não lhe seja imposto uma etiqueta extremista. Peço que alguém ao considerar-se cristão não lhe seja imposto o rótulo de supremacista. Peço que alguém ao considerar-se liberal não seja visto como alguém que quer favorecer os ricos. Peço que alguém ao considerar-se patriota não seja visto como um nacionalista. Peço que alguém que entenda ser contra o aborto não seja visto como uma mente retrógrada.
A liberdade individual — ainda que inviolável — e que os partidos de extrema de esquerda teoricamente defendem, envolve responsabilidade – algo que o BE e o CDU não compreendem. Cada indivíduo, ao exprimir a sua liberdade de pensamento, tem que ser levado a sério pelas outras pessoas e, por sua vez, deve levar as outras opiniões a sério. Isso existe hoje? Não.
A direita tem que poder afirmar que é possível acreditar numa maior liberdade individual e numa menor representação do Estado, onde este, de modo pouco intervencionista deixe os mercados e as empresas agirem livremente. Deve poder dizer que não quer que o Estado se torne numa empresa e que a propriedade individual não seja substituída pela propriedade pública. Deve poder aderir à luta da igualdade (porque a igualdade é uma bandeira universal) de maneira equilibrada e sem radicalismos.
A esquerda não pode ser o bastião da moralidade, nem tão pouco usar isso como um ataque à direita.
Peço às pessoas que acreditem naquilo que defendem. E que defendam aquilo em que acreditam.
Que não deixem que lhes imponham as vontades dos outros. É exigido à direita que não tenha medo de ser isso mesmo: De Direita.
Porque ainda é permitido ser de Direita e não é preciso pedir autorização à esquerda para isso.