“Se uma árvore cair numa floresta sem qualquer ser humano por perto, ela faz barulho?” É uma pergunta filosófica utilizada por pensadores de todas as eras e todas as culturas e resulta sempre em discussões interessantes a propósito da participação humana no mundo. Quer dizer, resultava. Agora já não há discussão possível, pois a pergunta não deixa margem para debates: onde quer que uma árvore caia, mesmo que não esteja ninguém por perto, há-de haver um ambientalista aos berros a fazer barulho em todo o lado.
Aliás, nem é preciso que a árvore caia. Basta falar-se nisso e há logo gritaria ecológica e rasgar de vestes feitas de cânhamo adquiridas em lojas de roupa usada. Aconteceu agora com o PAN e outros grupos ambientalistas a propósito do abate de sobreiros para instalar uma central eólica. Depois de anos a exigirem a tal de descarbonização, os ambientalistas descobrem agora que a substituição de combustíveis fosseis por energias renováveis implica o abate de árvores para desocupar a área necessária à instalação das centrais. De árvores ou de javalis, como se descobriu, com escândalo, há uns anos.
E este histerismo todo só com o abate de alguns sobreiros. Esperem só até fazerem as contas às aves que morrem cortadas pelas hélices, ao uso de cimento para as sapatas das torres, à mineração dos materiais das baterias e de outros componentes, aos painéis fotovoltaicos que são produzidos por trabalho escravo na China e que, como a reciclagem é demasiado onerosa, acabam abandonados em aterros. Se calhar, pode-se ligar um cabo a cada ambientalista e produzir electricidade a partir da força das birras que fazem ao descobrir que não se consegue ter sol na eira e chuva no nabal.
Começo a desconfiar que o problema destes activistas com a energia não é com a sua fonte, é com a sua existência. Não querem electricidade mais sustentável, querem uma desculpa para não terem de ler à noite. A mesma coisa em relação à água: não têm medo de que um dia venha a faltar, querem é um pretexto para não tomarem banho. Mas nem nisso são racionais. Para evitar a banhoca, deviam ser a favor do ar condicionado. Quanto menos suarem, menos sarro produzem.
(Sei que estou a cair no estereótipo do ambientalista porcalhão, mas a verdade é que põem-se a jeito. Têm sempre um ar pouco lavado. O que ajuda a perceber a angústia que sentem em relação ao futuro. Se só se dão com outros ambientalistas, se toda a gente que vêem tem uma aparência pouco saudável, má cor, má pele, péssimo tónus muscular, maus dentes, odor esquisito, é natural que julguem que a humanidade está toda doente).
Aliás, os ambientalistas não são contra a electricidade, são contra a modernidade em geral. Por exemplo, a maior causa de desflorestação é a agricultura. Cortam-se árvores para se poder cultivar alimentos. Uma forma de usar menos terra é a utilização de sementes geneticamente manipuladas, que permitem maiores colheitas em áreas menores e com menor gasto de água. Sucede que os ambientalistas também querem proibir essas sementes. Não querem nada. Só apontam problemas e não aceitam soluções. Para quem está sempre a choramingar com as condições de reprodução dos animais, revelam-se uns empata-fodas.
Parecem o meu filho de 4 anos. No Natal recebeu dinheiro dos avós. Ficou todo contente porque lhe dissemos que podia comprar o brinquedo que quisesse. Na loja, quando percebeu que, para ter o brinquedo, ia ter de entregar o dinheiro, fez uma birra. Depois de lhe limpar o ranho, expliquei-lhe o conceito de custo de oportunidade com um exemplo. Disse-lhe que não se consegue fazer uma omelete sem partir os ovos. Infelizmente, é uma metáfora que, apesar de funcionar com crianças da pré-primária, não é apreendida por ambientalistas. Sendo vegans, eles conseguem manter os ovos intactos ao mesmo tempo que ingerem uma mistela produzida a partir da soja a que chamam, com total desrespeito pela culinária, omelete. Se adicionarem a essa soja uma soja ligeiramente mais firme e outra ainda mais maleável, chamam-lhe omelete com fiambre e queijo. É natural que achem que é possível acabar com a produção de energia a partir de combustíveis fósseis sem nada em troca.
Talvez seja altura de a porta-voz do PAN mudar de nome para Inês Sousa Cai na Real.