Os nomes de Tomás Braga, Marcelo Filipe Correia e Rafael Vaz Lopes dizem alguma coisa? Provavelmente não. Talvez o de Rafael Vaz Marques ainda suscite uma outra memória pois foi notícia recentemente. Tomás Braga, Marcelo Filipe Correia e Rafael Vaz Lopes fazem parte de uma lista de vítimas que não discutimos, não porque as circunstâncias da sua morte não o exijam mas sim porque temos medo de não usar as palavras certas. De sermos chamados isto ou aquilo. Eles são jovens mortos por esfaqueamento nos últimos doze meses, na zona de Lisboa. Uma pesquisa simples permite constatar o óbvio: para lá dos casos em que se registam vítimas mortais vão-se acumulando os casos de rixas entre gangues, grupos ou simples colegas de escola:
20 de Outubro de 2021: Rafael Vaz Lopes morre após ser esfaqueado na estação de metro das Laranjeiras, em Lisboa. (Há um ano, Marcelo Filipe Correia, de 16 anos, foi assassinado à facada na estação da Amadora).
15 de Outubro de 2021: Aluno esfaqueado por adolescente em escola em Almada.
29 de Setembro de 2021: Jovem dá três facadas a rival em café ilegal em Almada. Vítima foi primeiro agredida com uma soqueira e depois golpeada com uma faca de cozinha.
3 de Setembro de 2021: Michel Amorim, de 27 anos, foi morto com facada no pulmão dada por assaltantes que andam a aterrorizar distribuidores de gás em Mem Martins.
23 de Julho de 2021: A PSP de Benfica, Lisboa, deteve três jovens entre os 17 e os 19 anos e identificou um menor, de 16, que esfaquearam o dono de um carro nas pernas, antes de fugirem com a viatura e outros bens da vítima.
11 de Julho de 2021: Dois adolescentes foram esfaqueados na sequência de uma rixa na praia do Tamariz, no Estoril. Segundo a PSP tratou-se de um confronto entre cerca de duas dezenas de jovens.
12 de Junho de 2021: Rixa entre grupos rivais faz um ferido na praia da Conceição em Cascais.
6 de Junho de 2021: Jovem de 24 anos esfaqueado na via pública em Lisboa.
26 de Maio de 2021: Grupo de jovens bate e rouba em Cascais para subir na hierarquia do gang de rappers.
Esta lista está longe de ser exaustiva mas é mais que suficiente para ilustrar como vivemos em ondas de indignação devidamente seleccionadas: porque não falamos das mortes de Tomás Braga, Marcelo Filipe Correia e Rafael Vaz Lopes? E das rixas nas praias do Estoril? Porque não se pergunta a razão de estar fechada a saída da estação de comboio da Linha de Sintra que dá acesso à Cova da Moura, obrigando muitos utentes a fazer um enorme desvio pela Damaia?… Porque é a esquerda quem define o que se pode discutir e em que moldes e nestes casos, em que dificilmente se poderia culpar o colonialismo, o racismo, o capitalismo, o fascismo ou outro daqueles “ismos” sempre prontos a usar, impera o silêncio.
Este poder da esquerda é muito anterior à aliança de 2015. Muito antes dessa data já imperava uma frente de esquerda que definia o que se pode ou não discutir, o que é ou não um problema urgente, o que deve ser motivo de indignação ou pelo contrário ignorado. Os anos apenas acentuaram esse controlo por parte dos radicais e conduziram-nos a absurdos patéticos, em que o bem comum é sacrificado na prossecução de agendas sem qualquer adesão à realidade: discutimos como grande problema nacional e internacional a questão dos jovens transgénero e depois descobrimos que a Unidade Pediátrica de Cuidados para crianças e adolescentes queimados, seja qual for o seu género, do Hospital Dona Estefânia está em obras há mais de vinte anos! Mais grotesco ainda: no IPO há tratamentos que não estão a ser feitos por falta de pessoal mas os deputados vão aprovar a correr a legalização da eutanásia.
Esta frente não só existe há largas décadas como vai resistir a esta crise. Gozando de uma extraordinária simpatia nas redacções, instalados nessa teia de institutos, comissões, observatórios – o caso do operacional das FP-25 condenado por terrorismo que agora, na qualidade de presidente de um observatório do ISCTE, acabou a avaliar candidatos a juízes é um bom símbolo desse mundo que BE e PS repartiram entre si – vamos vê-los a mobilizarem-se contra a direita (pronunciar enfaticamente), banalizando absurdos e impondo contra-sensos, quer estejam ou não no poder. Para esta geringonça não há nem haverá crise. Da outra teremos notícias na próxima noite eleitoral. Mas enquanto não colocarmos em causa o poder da primeira — aquela que nos diz sobre o que devemos falar, como e quando — não seremos capazes de enfrentar a que vai a votos.
PS. A filha de Brad Pitt e Angelina Jolie voltou a ser rapariga? Durante anos jornais, revistas e televisões informaram-nos que Shiloh Pitt não se identificava como rapariga. Qualquer observação à pouca idade da criança para decidir em tais matérias era imediatamente apresentada como sintoma de transfobia. Pressurosamente adoptou-se uma linguagem neutra ou masculina para referir Shiloh. Alguns tratavam-na como John, o nome masculino que Shiloh gostaria de ter.
Acontece que Shiloh Jolie-Pitt fez agora quinze anos e apareceu ao lado da mãe na promoção de um filme. A menina Shiloh Jolie-Pitt não só não parece ter qualquer dúvida sobre a sua feminilidade como esta se manifesta de forma exuberante, facto em que os genes da mãe devem dar uma boa ajuda.
Agora os jornalistas teorizam sobre a prática da reciclagem de vestidos entre Angelina Jolie e as suas filhas. A criança transgénero ficou enfiada no armário. A causa agora é a salvação do planeta e lá havemos de chegar com as Jolie-Pitt a trocarem vestidos Versace entre si. De causa em causa até à estupidez geral!