O século XX foi a época áurea do petróleo. O ouro negro, como ficou conhecido, impulsionou a ambição de magnatas implacáveis e foi o motivo que levou vários países à guerra. Fizeram-se e desfizeram-se fortunas e até os mapas tiveram de ser redesenhados, à medida que as regiões ricas em petróleo expandiam a sua importância geoestratégica. No entanto, recentemente, o petróleo tem vindo a perder o seu encanto. As crescentes preocupações ambientais e o aparecimento de novas formas mais sustentáveis de gerar energia estão a ditar uma mudança de prioridades, com o petróleo a deixar de estar no topo das agendas políticas e económicas globais.

Hoje, novas fontes de riqueza e poder estão a emergir como consequência da evolução tecnológica, desencadeando transformações significativas nos negócios e em termos políticos e geoestratégicos. Desde que foi cunhada pela primeira vez, em 2006, a expressão “os dados são o novo petróleo” ascendeu à categoria de chavão. A expressão em si é um tanto abstrata, mas, sem dúvida, engenhosa, uma vez que sintetiza a essência de uma era em que a informação se está a tornar a mercadoria mais preciosa de todas.

Os dados são o Santo Graal moderno para aqueles que ambicionam riqueza, poder e influência. A sua relevância é percetível em inúmeros níveis. Em algum momento, todos já ficámos ligeiramente assustados com anúncios e mensagens relacionados com uma pesquisa recente que tínhamos feito online, que parecem ser dirigidos especificamente a nós. Ora, tal não acontece por acaso. Ao recorrermos à Internet, deixamos para trás um rasto de informação, que é analisada e depois usada em publicidade customizada. As empresas de tecnologia estão, por isso, numa posição privilegiada para reunir este pó de ouro contemporâneo, com as redes sociais e os motores de busca a desempenharem um papel central na recolha de dados acerca dos seus utilizadores, bem como na segmentação desses mesmos utilizadores para fins comerciais ou políticos.

Os dados são também considerados essenciais pelos governos. Deste modo, a tecnologia está a começar a afirmar-se como uma nova frente no confronto geopolítico entre os EUA e a China. Empresas chinesas como a Huawei e o TikTok fizeram manchete, exatamente por terem sido atacadas pelas autoridades americanas. Os políticos em Washington e na Europa estão cada vez mais preocupados com a capacidade das empresas chinesas de captar dados dos utilizadores e até mesmo de roubar segredos de Estado ou de âmbito industrial através das suas apps e dispositivos, a fim de obterem vantagens sobre os concorrentes ocidentais.

As sanções impostas pelo Ocidente à Huawei e ao TikTok podem bem ter sido a estreia de um novo tipo de conflito. Tal como no passado os países lutavam entre si para controlar a oferta e a distribuição de mercadorias físicas, atualmente, a disputa, embora ainda não na esfera militar, é por dados. No início deste mês, o Departamento de Estado dos EUA ordenou o encerramento do consulado da China em Houston, alegando que estava a ser usado como base para furtar informações detidas por um grande número de empresas energéticas e agrícolas com sede na cidade. Há reminiscências óbvias da Guerra Fria nesta história. Porém, a contenda não é mais territorial ou ideológica. Ao invés, concentra-se agora nos dados e em quem os possui.

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