22th July 2020
A música da Gulbenkian, lá em Lisboa, já não é exclusiva do Grande Auditório. Agora é tocada para outras auditórios e num registo que abre gretas e rachas, desafina e leva pateada, não havendo maestria que valha. Nem o Asilo do Vilar do Porto parece disposto a acolher tal chinfrim. O Calouste e o Azeredo Perdigão tremeram nas tumbas: a Gulbenkian abandonou o horizonte lusitano para que foi traçada, e enveredou não só pelo global “político” como a isso acrescentou o global “correto”, uma senda por eles nunca arriscada.
Num momento em que a Lusitânia anda a mendigar cêntimos por tudo quanto é sítio, não é que ocorreu à maior Fundação deles, premiar com um milhão de euros, não alguém identificado com os interesses humanitários (e necessariamente sociais e económicos) próximos às enormes necessidades e à personalidade irreplicável do Portugal, mas aquela pobre adolescente sueca, de seu nome Thunberg, uma doente com o síndrome de Asperger, e desordens alimentares, que tanta pena me dá, e que me parece não ter culpa nenhuma do torvelinho em que a meteram que a deve perturbar ainda mais?! E, caro Hans, não pense que é para pagar idas ao psicólogo, psicanalista, ou gastro-entereologista… Está-me a parecer que é apenas para a fazer crescer na sua triste qualidade de marionette ao serviço e a soldo de inomináveis interesses que manipulam a desgraçadinha até ao tutano, como estamos os dois a constatar desde que ela emergiu.
Será responsabilidade dos pais da criança? Ela agora mais parece uma estrela de menor idade do Circo Barnum. Sim, por que esse é o espectáculo que abriu esta semana naquele belo parque de Lisboa, com contorcionistas em velhas motas Cucciolo (esqueceram as potentes Harley Davidson algures) às voltas enlouquecidas no poço da morte em fantasia, acompanhadas dos Xiquinhos Labaredas a queimar o prestígio da coisa.
Ou será fantasia do picareta-falante, de quem o Hans se deve lembrar, pois foi de um pântano para mergulhar noutro, nas Nações Unidas, onde, miraculosamente, emudeceu, excepto desta vez em que, aproveitando a picareta, poderá ter ajudado a abrir gretas na Gulbenkian. Terá cadeira confortável à espera?
Ou será por que um júri preguiçoso e bem pago achou mais fácil esta banal solução “correcta” e à la diable do que escolher um candidato, fosse ele lusitano ou estrangeiro, que estivesse não só virado para a humanidade global, mas sobretudo para temas afins à Lusitânia universal, que é a que se identifica com essa causa, graças à irreplicável identidade e personalidade de uma história com 900 anos que ao Hans e a mim tanto fascina?
Estou em crer que teria sido forma de escapar, por um lado à carimbadela periférica com que há muito querem marcar Portugal, e por outro à colonização ideológica sem pátria nem lei que este episódio lhe traz.
Os cerca de 130 candidatos, coitados, portugueses ou estrangeiros (e havia-os brilhantíssimos e identificados com Portugal!) que ficaram pelo caminho, deviam saber de antemão que perante a invenção da pobre Greta, tinham poucas hipóteses.
Mas olhe, Hans, nesta coisa de globalização há um lusitano que creio se chama Ricardo Champalimaud (deve ser um pseudónimo, essa família não merece tal exemplar) que está nos píncaros da promoção das perversões sexuais lá paras bandas do Rio Sado. Contou-me um lisboeta que ao cruzar-se com uma amiga de antigamente num restaurante oriental da Avenida da Liberdade, que além de escultural, muito bonita, toda prafrentex e provocante, ela o desafiou para uma festa dia 25 de Julho que, a meu ver, não encaixa na tradicional razoabilidade lusitana: uma orgia sexual na salgadíssima Comporta, tudo ao molho, elas, eles e assim assim! Há variedades para todos os gostos, e os preços até me parecem razoáveis para tal originalidade, cerca de 2/3000 euros. Será que vão convidar a Greta para chamariz? O nome até é adequado! Com as regras de distanciamento social em vigor, aquilo deve ser difícil e diferente…
Se for à Lusitânia, passando por Londres, diga, pois apanho o comboio em Leuchars para a estação de Kings Cross, e vou ter consigo onde me disser, e o Hans dá-me uma boleia!
Yours ever
25 Juli 2020
Desculpe, mas não estará a exagerar quanto à Gulbenkian? De facto ouvi essa pobre adolescente na quarta-feira a titubear no canal de TV Zweites Deutsches Fernsehen que tinha recebido um prémio de um milhão de euros, não sabia de quem, nem de que país. Mas deixe lá essas divagações indignadas, essa gente do júri do Prémio Gulbenkian Humanidade deve estar apenas atacada por algum Covid neurológico passageiro.
Olhe, e para amenizar essa sua fúria, conto que recebi um SMS do nosso comum amigo Hans de Frankryker (continua em Lisboa!), com uma bela fotografia que aqui junto, e a dizer assim: “Na quinta feira, na Gulbenkian, 1ª e 5ª de Beethoven. Sem intervalo. Tudo de máscara (excepto no palco) e afastadinho. Cenário mágico, de grande beleza. Ambiente surreal. Prolongada standing ovation para o maestro Viotti, para os músicos e para o pessoal dos bastidores. Não fez mal nenhum a minha nota para a interpretação ser apenas 8/10: os neurónios animaram!”.
Tive uma notícia triste do seu querido Porto. Partiu esta semana para os verdes prados onde está certamente a ser bem tratado pelo Altíssimo, o Tomás Jervel. Pertencia à melhor fidalguia nortenha do empreendedorismo, numa mistura imbatível de sangue azul ferrete norueguês e lusitano. O Pai dele arrancou com a Auto-Sueco há mais de 80 anos, que agora faz parte de uma coisa bem maior, a Nors SA, diversificada pelo mundo, creio que hoje com 4.000 colaboradores. O William conhecia-o? Eu, muito bem, e ficámos amigos de vida, pois tivemos oportunidade de nos cruzar desde muito novos a competir na Noruega nessa coisa tão exigente que é o ski de fundo, desporto em que ele era bem melhor que eu!
Não me admira nada que você esteja com tanta vontade de deixar essa terra escocesa tão monocórdica no golf, e regressar à sua terra favorita ao Porto (e ao seu Oporto Golf Club!). Essa é cidade arejada que tem gente que não está infectada pela Côrte de S. Bento, e o que sabe é trabalhar e andar para a frente, o Estado que vá à vida, quanto menos ouvem falar desse polvo, melhor. Limitam-se a pagar brutos impostos sobre o que vão ganhando, e a não levantar ondas. É natural que o Estado, com aquela gente em Lisboa que parece querer tudo à soviética, os queira sugar: o Porto e o Norte, rendem! É um mundo aparte na Lusitânia, onde estão as empresas e as indústrias privadas, grandes, médias e pequenas, aquilo que produz riqueza, um mundo de heróis tipo Viriato, que arriscam a saber o que fazem, e não vivem à sombra de favores de banqueiros corruptos nem de S. Bento. O Tomás Jervel era um exemplo portuense de grande calibre, cujos notáveis êxitos acompanhei sempre com grande alegria e orgulho! Rezo por ele, pela Família, e pelos sucessores que, graças a Deus, estão à altura.
O William conhece bem a Woshiems Pharmaceuticals GmbH, de Basileia, e até já lá o levei. Não dou grandes detalhes, mas posso-lhe dizer que é um sector em que o Grupo é muito forte a partir lá da Suissa e até ao Japão, e que retrata, no valor das nossas acções, uma empresa que nos é próxima, a Verona Pharma, de Londres. Na semana passada o valor da Verona que era de 50 milhões de libras, passou de um dia para o outro, para 160 milhões de libras! Foi graças a um remédio para combater uma doença crónica de obstrução pulmonar. A droga chama-se Ensifentrine e foi inventada por David Jack, o cientista que também ajudou a Glaxo a evoluir de uma empresa famosa por produzir leite para bébés, para a Glaxosmithkline, um dos maiores gigantes mundiais da indústria farmacêutica. Ora na Woschiems também tivemos o falecido David Jack a inventar para nós! Por isso não se espante com notícias que lhe venha a dar, pois este tema do Covid estimulou o investimento na investigação em quantidades de capital nunca vistas, e esperam-se resultados bons para as farmacêuticas e melhores para a humanidade.
Sim, e por causa desse e de outros assuntos, vou ter que ir a Londres para a semana, para depois ir à Lusitânia onde vou aterrar no aeroporto de Vila Real para ir a Vila Franca das Naves, e depois a Lisboa. Por isso, na terça-feira apanhe o seu combóio para Londres, e vá ter comigo ao City Airport, e daí saímos para Vila Real. O William está com sorte!
Como alemão e como frugal, estou satisfeito com os resultados da cimeira europeia. Por um lado, a ineficácia dos gastadores sem juízo não vai ter tempo para dar destino àquele dinheiro todo, garanto-lhe! Por outro, se os não frugais pisarem o risco e começarem a usar os fundos mal, e para os amigalhaços, seca-lhes o euro milhões graças aos travões que o holandês Mark Rutte. Ele conseguiu-os instalar no modelo de ajuda financeira tão necessária para os que a souberem aproveitar de forma eficaz e honesta!
Com um abraço, e na expectativa de o rever, receba os meus muito amigos Grüße,
Palavras Cruzadas é o título de uma série de cartas íntimas trocadas entre dois amigos. Um é alemão (Hans Hoffmann), residente em Krefeld, perto de Dusseldorf, e outro escocês (William Archibald), residente em St Andrews, na Escócia, mas ambos com casa em Portugal, país que os apaixonou. A correspondência tende a revelar um Portugal e um mundo vistos por Hoffmann na perspectiva da floresta, mas mais como árvore nas cartas de Archibald. Misturam nessa correspondência acontecimentos políticos, sociais culturais e económicos tanto portugueses como internacionais, revelando o seu cosmopolitismo. Usam de ocasional ironia em factos por vezes semi-ficcionados.