A abrir o último Conselho Nacional do PSD, na passada quarta-feira, Luís Montenegro ofereceu um discurso misto.

Iniciando com um cansativo discorrer dos casos do desgoverno nacional, não fosse algum dos Conselheiros Nacionais andar distraído, lá foi dando notícia do que já todos sabiam. Sem novidade, arrastou-se numa estafante e sonolenta explicação sobre as razões porque entende estarem justificadas as posições tíbias do PSD relativas aos casos e casinhos. Lá deu conta da insalubridade do governo, mas não justificou a falta de iniciativa do PSD em oferecer aos portugueses uma forma de fazer diferente e propostas para o realizar. Brincando com o questionário das 36 perguntas e exigindo saber de António Costa qual a proposta inicial recusada pelo Sr. Presidente da República, não explicou ao Conselho Nacional qual seria a proposta alternativa do PSD ou, no limite, perguntando ao Conselho se tinha propostas com que o pudesse aconselhar!

Voltou à defesa da abstenção na passada moção de censura, encurralando o PSD às duas únicas posições que entendeu serem legítimas: ou se abstinha por não ser hora de provocar eleições antecipadas, ou votava a favor e isso seria um voto inconsequente porque sem maioria para derrubar o governo. Mas não explicou e não se lembrou que, excluindo o voto contra, havia ainda uma terceira via: a de votar a favor, pois que, ainda que não derrubando o governo, marcaria o momento deixando clara a censura política que o governo merece.

E pediu ainda a continuação da confiança dos militantes no apoio ao caminho que está a fazer para preparar o partido para ser governo. E os militantes têm-lhe dado essa confiança. E têm aguardado. E aguardam. E aguardarão?

Ao fim de meia-hora de déjà-vu, de provocação de bocejos e de dolorosas memórias da falta de oposição efectiva do seu antecessor, enfim, a custo e aos solavancos, lá arrancou para os últimos 10 minutos do discurso que poderiam ter sido o discurso inteiro: olhou para os conselheiros, para as câmaras televisivas e para as máquinas fotográficas dos jornalistas e, por fim, de voz viva e forte, comprometeu o Dr. Costa. Ao fazê-lo, finalmente, comprometeu-se também a si próprio.

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Hallelujah!

E disse, foi citado e aqui recordo: “Dr. António Costa, esta é a sua hora de mostrar o que vale. Se não estiver à altura da sua hora, o país terá mecanismos para atalhar caminhos”.

Disse e disse muito bem. Finalmente marcou o passo e posicionou-se na vanguarda da oposição. Ao estabelecer e marcar assim, finalmente, a hora a partir da qual cerrará fileiras e orientará a oposição no combate ao governo incompetente e em frangalhos, marcou também a sua própria hora. Estabeleceu, assim, a sua própria hora universal. A hora pela qual serão medidos todos os fusos do seu comportamento futuro. A hora pelo qual o país ganhou a promessa de um PSD que seja garantia de uma oposição forte, eficaz e séria. A hora de que os Portugueses conseguirão lembrar-se por ter nascido, com um PSD credível, uma alternativa ao mal menor que acreditaram ser o Sr. Costa e os seus amigos. (Gostava eu que fosse também a hora em que o PSD pudesse formar, enfim, o governo sombra de que Portugal já não pode prescindir.) A hora que o líder do PSD impôs ao Dr. António Costa, mas que se reflete também para o próprio Dr. Luís Montenegro. Esse sentido reflexo, a partir de agora, só pode ler-se também assim: “Dr. Luís Montenegro, esta é a sua hora de mostrar o que vale. Se não estiver à altura da sua hora, o país terá mecanismos para atalhar caminhos”.

E Deus nos livre dos atalhos inoportunos. Dr. Montenegro, deixou de ter espaço de manobra e tempo para hesitações. Respeite a hora universal que estabeleceu e faça-se à luta. Assertivamente, construtivamente e sem tibiezas. O país merece.