As pessoas da minha geração sabem que na Gália de Astérix e Obélix, os gauleses só tinham medo de que o céu lhes caísse nas cabeças. No século passado caiu-lhes com estrondo e com a pressa de um relâmpago na forma de uma pesadíssima suástica de ferro e fogo e de um colaboracionismo que os envergonha e de que não querem falar muito (excepto para culpar Pétain e dizer que, ainda assim, tiveram De Gaulle – que nome apropriado e uma daquelas ironias que a história nos vai deixando)! Estarão agora e outra vez à beira de ver o céu cair-lhes em cima com Le Pen? Irão a tempo de dizer: “Ce sera de la folie”?

Diz uma frase atribuída (talvez apócrifa, mas que não deixa de ser acertada) a Einstein, que “Insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Isto é, “La folie”!

Os franceses têm repetido o mesmo erro, esperando resultados diferentes. Os extremistas palestinianos atacam Israel selvaticamente e Israel responde desproporcionadamente, vezes sem conta, ambos esperando resultados diferentes.  O mundo organiza COPs (Conferência das Partes / Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), repetindo erros desde 1995 (a última, no Dubai [!!!] foi a 28º), esperando resultados diferentes. Mantemos teimosamente hábitos suicidas para o planeta inteiro, à espera de resultados diferentes. Criamos as condições para conflitos armados e esperamos resultados diferentes. Ignoramos todos os sinais potenciadores de conflitos, mas continuamos à espera de resultados diferentes. “C’est de la folie”!

E por cá? Por este “Portugal à flor das águas”, como lhe chamou Manuel Alegre na “Trova do Vento que Passa”?

Por cá, como não poderia deixar de ser, também nos preparamos para fazer o mesmo à espera de obter resultados diferentes? É bem possível, pois que Portugal acompanha as modas, umas vezes à frente, outras a passo e outras, muitas das vezes, cá nos cheguem só quando lá por fora já saíram ou estão prestes a sair de moda (e lá poderíamos deixar de correr atrás dos outros)? E se for para ficar atrás, então que seja na última fila. “Tipo” (como dizem os nossos jovens), ou somos os melhores alunos da Europa ou somos os piores! Ou mais à esquerda, ou mais à direita. No meio, onde está a virtude, ai isso é que não! “C’est de la folie”!

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Cansados dos governos socialistas, sempre com as mesmas pessoas ou as pessoas do mesmo grupo de assalto ao Estado, ora levando o país à bancarrota, ora conduzindo-o alegremente e como se nada fosse ou que fosse o que é normal depois da justificação que lhes der mais jeito, à ruptura dos hospitais sem que uma Mãe saiba onde irá parir e um doente saiba que irá morrer, das escolas que já não educam, das polícias que ganham menos que um repositor, das forças armadas sem força e sem armas, dos tribunais que não conseguem julgar a tempo, dos segredos que saltam do  Ministério Público, do desequilíbrio das ordens profissionais que se pretende agravar impondo-lhe novos estatutos, da habitação, da emigração, dos transportes, da subalternização da comunicação social, de ministros que não se demitem nem com a boca na botija, e por aí fora, mas tudo isto ao mesmo tempo, no mesmo governo, pois que se é para se fazer, então que se faça à grande. Será possível que os Portugueses ainda pensem e sequer se questionem se valerá a pena repetir o mesmo erro e, pelo que dizem as sondagens, voltar a votar nos socialistas na esperança de que desta vez seja diferente? Em 50 anos nunca foi diferente, com excepção da indiscutível e valorosa batalha contra os extremismos de esquerda de então, nos idos de 1975 e arredores, mas de que hoje já eles próprios se esqueceram. Porque haveria de ser diferente agora? Será mesmo possível que possam repetir uma aposta nas mesmíssimas pessoas que por lá gravitam há tantos anos e ora passam da crença de que as dívidas não se pagam, como passam para o oposto, sem perceberem que as contas certas são para os Portugueses e não os Portugueses para as contas certas (tal qual os sábados, como ensinou o Cristo aos fariseus)! Repetir a aposta em quem nunca percebeu que é no meio que está a virtude? Ah, “mas como é que pode?”, dir-se-ia no Brasil.

Não creio. Quem em sondagens deu preferência aos socialistas, estou certo que, refletindo, perceberá que não se pode repetir sempre o mesmo erro à espera de resultados diferentes. Se assim fosse, em França, ou nas colónias que ela ainda tem, e entre as nossas famílias que sempre tiveram e têm emigrantes, mas que hoje não querem imigrantes, dir-se-ia, “c’est de la folie”!

E, em Portugal, muitos daqueles que abriram os olhos e perceberam que os socialistas são estruturalmente incapazes de governar, porque partem da premissa errada de que o futuro se garante dominando todo o Estado e dele fazendo depender os Portugueses, não podiam contentar-se em só abrir os olhos? Tinham logo que os esbugalhar? Assim desfocando-os e deixarem-se levar por populismos de um demagogo pateta (mas chico-esperto, claro) que diz sempre e só o que o público quer ouvir, na hora em que quer ouvir, logo dizendo o seu contrário quando o público quiser ouvir outra coisa? Tinham que ir de um extremo ao outro e acreditar num fulano que se diz de direita mas fala como falam os de extrema-direita, convida todos os extremistas da direita radical europeia para as suas pequeninas reuniões de Nuremberga, comporta-se como o chefe único que é, que o partido é todo e só dele, mesmo que para isso seja preciso berrar “vergonha”, “basta” ou um seu sinónimo, como se fosse um pequenino “duce” ou “führer” cá do burgo, mas percebendo que o pode fazer a sorrir porque é mais empático? Será que os Portugueses já não saibam que “esbugalhar” quer dizer “esboroar”, “esmigalhar” e não só abrir muito os olhos? Como é que então o pretendem fazer com este perigoso agitador, manipulador, provocador, instigador, perturbador indivíduo que quer levar Portugal a embarcar numa aventura de onde só pode sair destruído e que agora, embalado pelas sondagens, promete tanto a tantos, que se gastasse o tanto que promete, esgotaria o Orçamento Geral do Estado no mesmo tempo que lhe leva e custa um discurso? Quererão mesmo passar do oito insuportável a um desequilibrado oitenta? Será mesmo possível que haja quem prefira a inépcia e a bancarrota de uma extrema-direita a uma inépcia e bancarrota de uma esquerda que por um prato de lentilhas se vende à extrema-esquerda? Será possível que os Portugueses não percebam que é no meio é que está a virtude?

Não creio. Porque se em sondagens o disseram por estarem zangados e por quererem protestar (o que consigo compreender e em muitas áreas concordar), com ponderada reflexão concluirão pelo disparate que isso seria. Concluirão, certamente, que não poderão votar nem na esquerda que se aliará à extrema-esquerda, nem na extrema-direita. Caso contrário, “ce sera de la folie”!

E ao Centro? Onde está a virtude! O mesmo centro (sim, que vai do centro-esquerda ao centro-direita) que não é perfeito, como não são os Homens, mas que não insiste em soluções que não deram resultado. Que percebe que para se obter um resultado diferente tem de se fazer diferente. Que reconhece e emenda os erros e procura reconciliar-se com quem antes ofendeu. O mesmo centro que, em 1982, enviou os valorosos soldados para os quarteis dando por concluído o Conselho da Revolução. O mesmo centro que, em 1982, inaugurou as revisões constitucionais que nos foram aproximando das democracias liberais europeias. O mesmo centro que, durante os dez anos a partir de 1985, deu a Portugal, finalmente, a sensação de que se caminhava em frente, com sucesso, com objectivos e que, enfim, modernizava Portugal. O mesmo centro que nos fez acreditar, e cumpriu, que os Portugueses podiam e deviam mudar para uma vida melhor. Que com menos fundos europeus do que aqueles que já se deram durante os governos de esquerda foi capaz de fazer muito mais. Fazendo muito mais com muito menos, ainda que com erros e desvios de percurso, mas com os quais aprendeu, porque sendo reformista e humanista, por definição, sabe que para reformar tem que mudar o que está mal, sempre centrado nas aspirações dos seus concidadãos, e cumpre. O mesmo centro moderado que nos deu no passado uma sensação de progresso, orgulho e esperança no futuro para nós, para os nossos filhos e netos, como desde então não voltámos a ter. O mesmo centro que é sempre chamado a resolver os problemas que a esquerda sistematicamente cria, tomando-lhe as dores, mas salvando o país. O mesmo centro que agora oferece uma solução pensada para o país, sem promessas inatingíveis, ainda que muitas sejam ambiciosas. O mesmo centro que para preparar o seu programa se rodeou de muita gente para lhe dar a correcta imagem do país, que o calcorreou de lés-a-lés para verificar e conhecer a vida real dos Portugueses e não só aquela que se vê dos gabinetes. O mesmo centro que não tem feito uma única proposta que não seja antes pensada, debatida e concluída por um conjunto de especialistas, e não só convenientemente viradas para onde o vento sopra.

Mas, é preciso mais! Para além de um claro desígnio bem sustentado (como defendi aqui), é preciso que os Portugueses acreditem e vejam cumprido o que que o centro diz, o que propõe, e o que promete. Precisa que o centro, através do PSD, que prometeu um “Regulamento de Ética e Designação dos Cargos Políticos do PSD” o publique e que o cumpra já, escrupulosamente, sem apelo nem agravo e, porque tendo prometido publicá-lo ainda não o fez, o faça de imediato e o cumpra desde já (ainda que eu tenha sérias dúvidas sobre estes modelos, mas isso fica para outra altura). É preciso que o centro dê o exemplo fazendo logo o que exige aos outros, que de Frei Tomás (“faz o que ele diz, não faças o que ele faz”) estão os Portugueses exaustos. Mas que o faça sem justicialismos, sem punições exemplares apressadas e sim de acordo com as normas, quer as próprias, quer as da república.

Perante escândalos que se arremessam ao centro, agora corporizado na Aliança Democrática, mas também a qualquer outro partido ou pessoas, é necessário o comportamento de Homens de Estado. Por exemplo, na altura em que escrevia estas palavras, tendo acabado de sair as notícias de eventual corrupção na Madeira, envolvendo militantes e dirigentes social-democratas, o PSD, julgo, não deveria ter dito logo e apenas que “mantém a confiança em Albuquerque”. Deveria antes e logo o seu líder, porta-voz ou secretários-gerais dos partidos que a compõem, virem dizer qualquer coisa como isto:

Portugal é um Estado de Direito, onde todas as garantias são concedidas aos cidadãos e onde perante uma denúncia ou suspeita, abre-se inquérito, investiga-se, reúnem-se provas e conclui-se pela acusação ou arquivamento. Se for acusado segue para tribunal. Se não for acusado, não é culpado. É tal e qual o que manda o Código do Processo Penal. Caso contrário, cairíamos no risco de qualquer acusação propositadamente maliciosa ou com um objectivo político encapotado pudesse remover toda uma classe política pela mera suspeita maliciosa levantada por anónimos.
A acusação não pode ser feita logo em praça pública, imediatamente seguida de condenação pelo mesmo público sem a existência de um processo penal, devendo a comunicação social fazer o que está legal e deontologicamente obrigada: dar a notícia com a verificação das fontes e investigação e não reportar ao primeiro tweet, denúncia ou acusação que aparece, para satisfação dos “shares” de audiência ou consulta.
O decurso do processo judicial, necessariamente mais lento, no entanto, não prejudica a imediata abertura de processo ou tomada de conclusões políticas, pelo que o PSD (no caso em apreço), reuniria a Comissão Política Nacional e o Conselho de Jurisdição para que, num prazo de 24 a 48 horas fosse produzida uma conclusão política inicial. O que daí resultasse, seria transmitido primeiro aos visados e depois à comunicação social, com a dureza e imparcialidade das decisões, custe o que custar, pois só assim se vê, que ao centro se pugna pelo cumprimento não só do Estado de Direito, mas dos princípios da ética política que exige aos outros, seja qual for a conclusão. As consequências penais e as consequências políticas são coisas diferentes, mas as segundas tem de anteceder as primeiras sempre e quando os indícios assim exigirem.
Por outro lado, não podemos esquecer que o PSD não pode demitir o Presidente de uma Região Autónoma ou de uma autarquia, que foram eleitos localmente, mas, se as conclusões políticas assim apontarem, pode retirar-lhes toda a confiança política e afastá-los dos órgãos nacionais onde, porventura, tenham assento, mas se e só se, no referido período de 24 ou 48 horas assim concluir, sem prejuízo das decisões dos órgãos locais e, claro, dos próprios visados.

Isto ou algo semelhante deveria ter sido dito. Jamais a trapalhada de comunicações precipitadas, desconexas, contraditórias e reveladores de insegurança e amadorismo. É preciso mais foco, mais calma, mais profissionalismo, maior ponderação e maior crença no próprio projecto. É preciso que os Portugueses acreditem e que seja verdade que o centro, corporizado na AD e nos seus partidos, têm a mesma posição, sejam os arguidos do PCP, do PS, do PSD, do CDS ou de qualquer outra formação política ou cívica: a lei é a lei e Portugal é sempre prioritário e maior que o ego de cada político.

É preciso que os Portugueses vejam e sintam a sua segurança num projecto de futuro ao centro e não no abrigo que só aparentemente oferecem as más soluções, porque já conhecidas, como as socialistas, ou o refúgio nas soluções radicais e de protesto de uma extrema-direita, com consequências tão ou mais graves que as infligidas pela esquerda. Como sempre, a virtude está no meio. Caso contrário, “ce sera de la folie”!

Por último, permitam-me concluir que, perante o que acima escrevi, estou convicto de que não foi Portugal que se transformou num país de estúpidos e insanidade generalizada. Há fenómenos (como sempre e periodicamente existem na história) que colocam todo o mundo numa encruzilhada ao mesmo tempo. Estamos numa dessas encruzilhadas, ainda que com motivações ou origens diferentes. Os ocidentais, com os seus complexos de culpa branca e intermináveis discussões estéreis de ideias inexequíveis, incoerentes e politicamente (uni)direcionadas ou meramente disparatadas e infundadas, mas, infelizmente, prenhas de consequências nefastas ou imprevisíveis para o presente e para o futuro. Os orientais com a repetição de conflitos regionais entre extremos de pobreza e de riqueza, extermínio (lembrem-se, entre outros, dos pobres e esquecidos Uigures) e um furioso capitalismo de Estado, continuando a imitar o ocidente no percurso industrial de destruição, mas não na democratização. África, na repetida destruição dos recursos humanos, industriais, urbanos e naturais, em golpes e contra-golpes ou ditaduras pessoais, mortes à fome, sede, raptos, guerras e atentados e deslocações em massa, afundando-se no meio das maiores riquezas naturais do mundo. Nas Américas, para além dos problemas partilhados com o ocidente, a deslocação maciça de populações, ataques a sedes de poder, narco-corrupção e oscilação dos partidos existentes em direção a extremos, incompatibilizando-os e em crescente afastamento suicidário. A Oceânia em mais uma crise ambiental e climática local, a juntar à global, ao roubo ilegal de terras, ao apartheid na forma de paternalismo em relação aos aborígenes, enquanto participa numa versão austral dos problemas ocidentais.

Como sabem os da minha geração, Astérix e Obélix diriam agora: “estes humanos são doidos”! O céu está a cair-nos na cabeça enquanto tweetamos (como se dirá agora que é X?), surfamos alegremente a net, a imprensa entra em falência porque foi atrás do imediatismo das notícias de última hora, para não perder por muito perante a rapidez das redes sociais, porque os valores se degradam e, finalmente, porque num materialismo utópico de falsa racionalização e auto-engrandecimento, julgámo-nos deuses e matámos Deus. E mesmo os que beneficiam com tudo isto, parecem não perceber que o benefício (o seu céu) lhes cairá também estrondosamente em cima da cabeça. “C’est de la folie”!

Não consigo deixar de pensar que os trogloditas queriam evoluir e sair das cavernas. Nós queremos regredir e voltar para as cavernas! “C’est de la folie”!