Junho é mês de Santos Populares. De Lisboa ao Porto, passando por Pyongyang, há arcos, manjericos e balões coloridos por todo o lado. Quer dizer, desconheço se Pyongyang é dada a arcos – embora o líder supremo seja bastante circular – e o manjericão, a existir, já foi todo ingerido, à falta da deliciosamente nutritiva proteína animal. Mas balões há, na capital da Coreia do Norte, e dos bons. Ficam é lá pouco tempo. Falo dos 600 balões que as autoridades norte-coreanas enviaram rumo à Coreia do Sul. Um gesto de boa vontade, harmonia e paz? Não. Um gesto de má vizinhança e porcaria que o vento traz. Uma vez que os balões foram previamente carregados com lixo, beatas e plásticos.

Ainda assim, bem bom. De tudo o que o chalupa líder da Coreia do Norte já se lembrou de lançar até hoje, balões repletos de entulho é, de longe, o mais benigno. Com sorte, falta-lhe verba para mísseis intercontinentais. O que é pena para o Bloco de Esquerda, que assim perde uma potencial fonte de financiamento. Bloco que, também necessitado de capital, lançou uma campanha de angariação de fundos. Ou seja, em aperto financeiro, a primeira coisa que Mariana Mortágua fez foi perder a vergonha de ir buscar dinheiro aos seus apoiantes que estão a acumular dinheiro. Mas como “a acumular dinheiro”, se eles não acreditam cá em economias de mercado e assim? Boa pergunta. Suspeito que seja por conta das poupanças feitas, durante décadas, ao nível higiene pessoal.

O lancinante apelo da líder do Bloco de Esquerda prende-se com a necessidade de angariar verbas para, entre outros imprescindíveis eventos, o habitual acampamento de jovens do partido e o Fórum Socialismo 2024. Mas será assim tão problemático? Um sítio onde toda a gente é uma espécie de sem-abrigo a viver em tendas, e onde não haja dinheiro sequer para sandes e água corrente é, já por si, um fórum onde se testam os bons resultados do socialismo. São dois eventos num só. E ainda poupam no cachet dos oradores do Fórum Socialismo. Imagino quanto não estará a cobrar, por exemplo, uma vedeta tipo Boaventura de Sousa Santos, com todo o acrescido mediatismo internacional que tem merecido nos últimos tempos.

Além de mês de Santos Populares, Junho é também mês de Eleições Europeias. E a campanha eleitoral, que estava meio mortiça, levou uma injecção de imigração e, qual Uma Thurman em Pulp Fiction, ganhou um inesperado novo fôlego. Imigração que entrou na campanha — mesmo à bruta — à conta da apresentação, pelo governo, do Plano de Ação para as Migrações. E o que pode dizer-se sobre o Plano de Ação para as Migrações? Por certo inúmeras e pertinentíssimas coisas. Infelizmente, dá-se o caso de eu não saber nenhuma delas. Mas sempre posso adiantar que “ação” devia ter um segundo “c”. E que, a julgar pelas reacções extremamente negativas ao Plano de toda a esquerda e — caso não esteja incluído na categoria anterior — do Chega, devemos estar na presença do melhor plano desde o célebre plano do interrogatório da Sharon Stone em Instinto Fatal.

Em particular o PS, pela voz de Pedro Nuno Santos, diz que o Governo faz um “diagnóstico errado” sobre a imigração e que o novo plano pode “criar novo problema”. Incrível, a perspicácia e capacidade de análise que Pedro Nuno Santos e seus camaradas ganham assim que saem do governo. Enquanto estão no governo não vêm nada, não percebem nada, não fazem nada. Assim que abandonam cargos executivos, pumba!, tudo o que é dirigente socialista torna-se indistinguível do Churchill. Há os treinadores de bancada e depois há Pedro Nuno Santos, o Primeiro-Ministro de bancada parlamentar.

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