Tenho boas e más razões para confiar e desconfiar desta economia, respetivamente. Não estou contra os seus fundamentos e do que nos traz quando ligada à Psicologia Positiva, sobretudo trazida por Seligman e a Universidade da Pensilvânia. A esta vertente estão conexos aspetos fundamentais de resiliência e de well-being, pelo lado positivo, mas também o estudo das múltiplas feridas da learned helpessness e os estímulos adversos a que um indivíduo é exposto, pelo lado negativo.

Tenho, sim, um parti pris visceral quanto ao lado pernicioso que a toxicidade desta indústria tem trazido. Por várias razões – e a principal é que vejo muitos dos meus queridos alunos embarcarem nela. Novo intake e nova perceção de que há um conjunto de alunos que não estão preparados para as agruras da vida. Mas faz parte da educação, do processo formativo, ser capaz de dosear as quantidades de “Cabo da Boa Esperança” e de sorrisos com a realidade nem sempre fácil das nossas vidas. Formar é também isto: fazer ver que nem tudo é um mar de rosas e nem tudo irá sempre correr a preceito. Mais: um problema não é, nem pode ser, o fim do mundo. Mal estaríamos. Pior: nem tudo o que são problemas são patologias ou síndromes que tipificam doenças. 5 tópicos que deixo endereçados neste escrito (podiam ser 100):

1 A dor não é normal; é doença. Contrariamente a uma ideia peregrina que se criou, a dor é absolutamente normal. Os problemas usuais do dia-a-dia não são problemas de saúde. E podem bem, a maioria, não ser doença alguma. Podem ter impacto psicológico, verdade. Mas tal não quer dizer necessariamente que se está em burnout ou em stress crónico. Quem nunca teve momentos maus, quem nunca achou que o mundo se virava contra si próprio, quem nunca sofreu que ponha o braço no ar. Normalíssimo. Tem de se contribuir, porém, e a educação é fundamental nesta caminhada, para construir uma capacidade para enfrentar problemas do dia-a-dia com a normalidade que eles encerram.

2 Há sempre uma ajuda para todos os problemas na vida. Nem sempre há ajudas para resolvermos todos os problemas da vida. Aprendemos a viver e a tornear problemas e a encontrar soluções para eles. Ninguém é intocável quanto à existência de problemas. Quem olha para o lado e só vê vidas perfeitas é bom que pense que esses são cenários que apenas existem nas nossas cabeças, em alguns jornais e em muitos fóruns e posts de “auto-desajuda”. Por isso digo, e peço muitas vezes aos meus alunos, para não lerem livros de auto-ajuda. Para falarem com colegas ou com outras pessoas. Para criarem rotinas de conversação, de partilha e de amizade. Perguntam-me frequentemente, porém, porque não devem ler livros de auto-ajuda? E a minha resposta é invariavelmente a mesma: porque não ajudam. Mais, infelizmente nem sempre existem ajudas para todos os problemas da vida. E sim, a principal ajuda para os vários problemas – não a única – está em nós mesmos: self-awarness e self-manangement.

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3 A permanente elevação de expectativas gera frustração incontida e incapacidade de a gerir. A profusão de imagens bonitas, de flores, de frases feitas (muitas delas associadas ao autor errado), de imagens belas e de estímulos positivos é de tal maneira que se tornou tóxica. Tóxica em fóruns, em redes e em eventos onde a realidade devia ser apenas a realidade. E não a hiperbolização irreal de uma realidade ficcionada.

4 Um comprimido ou um suplemento alimentar resolvem. Não, não resolvem. Podem ajudar parcial ou momentaneamente. Mas nunca resolvem. Quem resolve mais e melhor é a própria pessoa e a vontade em “lamber” as feridas da learned helpessness e ao conseguir gerir da melhor forma estímulos adversos.

5  As emoções não se gerem. Não, as emoções gerem-se. Treina-se a convivência com as emoções. Treina-se a preparação para os maus momentos. O fit psicológico tem de ser o mais adequado. O limite de tudo isto e de conseguires ou não, não está apenas nas tuas mãos, verdade. Mas está na tua capacidade de te conheceres e de te gerires. Está, igualmente, na forma como geres o contexto. Está na forma como ajudas a criar e construir esse mesmo contexto. Está na capacidade para gerires a tua própria pessoa, aprendendo a lamber feridas e a gerir da melhor forma estímulos adversos. Aceita que se torna impossível que tudo esteja sempre bem. A ansiedade, o medo e a tristeza correntes, fazem parte da vida de todos nós. Incentivam-nos a fazer diferente e são treinos para o que ainda nos espera. Não são fatalidades. Mal seria!

(*) seja lá isso o que for.