O estudo ao longo da vida pode “queimar-te” o cérebro se não tiveres alguns cuidados, mas pode, igualmente, ser um revigorante poderoso para conseguires ultrapassar mal-estares temporários e a proximidade a burnouts. Os piores problemas surgem na juventude universitária porque não aprendeste ainda a gerir-te (e depois de surgirem vão continuando pela vida fora). Mais à frente, e com a continuidade do ciclo de vida, o estudo pode tornar-se um bálsamo para a tua própria organização, para o teu life balance (não worklife balance porque o trabalho não é senão parte da vida), para a tua forma de olhar o mundo e a vida e para promoveres o teu permanente crescimento. Queres saber como? Vem daí:

  1. A neuroplasticidade estimulada. Quando abraças uma lógica contínua de aprendizagem ou múltiplas aprendizagens, mais ou menos formais, a tua mente autoestimula-se e cria, por essa via, um impulso à neuroplasticidade. A neuroplasticidade é, como sabes, a plasticidade neuronal ou plasticidade cerebral que dá reposta à capacidade que tens associada ao teu sistema nervoso central de se adaptar e moldar a novas situações. Envolveres-te em novos assuntos, dominares novas competências e superares desafios cria vias neuronais que te vão trabalhando a resiliência cognitiva e a adaptabilidade. Esse exercício mental constante pode potencialmente – e na maioria dos casos fá-lo mesmo – reduzir-te o risco de declínio cognitivo e a ocorrência de distúrbios mentais, promovendo-te um cérebro mais saudável à medida que enfrentas o ciclo da tua vida.
  2. A resiliência emocional amplificada. A educação formal não cultiva apenas habilidades intelectuais já que vai nutrindo, igualmente, a inteligência emocional. Ao explorares perspetivas diversas e mergulhares a tua vida no contexto do estudo, na inscrição e processo de tirar um curso/programa, no treino em arte e/ou no recurso continuado à leitura de história, vais desenvolvendo maior empatia e compreensão pelo que te rodeia e, em particular, pelos seres humanos que passam por ti, por nós, e que contigo estão. Essa resiliência emocional elevada vai-te capacitando para enfrentares dificuldades da vida com alguma desenvoltura, aperfeiçoando-te o bem-estar mental como um todo.
  3. O aperfeiçoamento do propósito e do significado da vida. A aprendizagem ao longo da vida alimenta-te a procura de um propósito e seu significado, elementos cruciais para manteres um estado mental positivo. À medida que adquires novos conhecimentos e competências, estás mais capaz de estabelecer e alcançar metas significativas, seja pelo “domínio” de uma nova área de estudo (marketing, mercados financeiros, e por aí fora) seja pela sua utilização prática, ensaiando mais e mais o que vais aprendendo. Essas conquistas contínuas geram-te um sentido de realização e de autoestima, atuando como escudo contra sentimentos de estagnação e/ou falta de propósito.
  4. As conexões sociais exponenciadas. A aprendizagem e o estudo em programas e cursos são empreitadas comunitárias, que promovem as tuas conexões com colegas que compartilham interesses semelhantes. Essas interações sociais, sejam elas em salas de aula tradicionais ou em fóruns online, criam-te um sentido de pertença e de solidariedade (e convívio também). As amizades e redes resultantes fornecem-te um sistema de apoio vital, combatendo o isolamento e a solidão, fatores conhecidos por contribuir para a saúde mental mais precária.
  5. O crescimento do autocuidado ou da autopreservação. A educação capacita-te a tomar decisões informadas, inclusive sobre a tua saúde mental. Ao estudares psicologia, liderança, negociação, comunicação, por exemplo, emergem práticas de bem-estar e técnicas que te levam à reflexão, ao espelho, à autoanálise, dotando-te de ferramentas para gerires melhor o stress, a ansiedade e outros desafios mentais. Esse conjunto de autocuidados, fortalecido pela aprendizagem contínua formal, posiciona-te para tomares medidas proativas em prol da manutenção do teu bem-estar mental ideal.

Se a velocidade das mudanças é rápida e a necessidade da tua saúde mental uma constante, a aprendizagem ao longo da vida emerge como uma abordagem revolucionária para te protegeres e melhorares o teu bem-estar mental. Não se trata apenas de acumulares conhecimento; trata-se de nutrires uma mente mais resiliente, promoveres conexões significativas (network) e abraçares journeys de autodescoberta que se estendem por toda a tua vida.

Não imponhas, pois, limites à tua grandiosidade. Sobretudo quando andas preocupado em adequares-te a tudo o que são “conceitos” que pululam pelas redes sociais e pelas bocas do mundo sem saberes os quês e porquês das coisas. Investires em ti é valorizares a tua existência e preservares a tua saúde mental.

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Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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