Acho, pelo que vejo aos meus alunos mais jovens, que os homens se comportam como que tendo um certo “medo” das mulheres. É normal que os estereótipos do passado e do homem macho se tenham desvanecido. É normal que a questão da igualdade, ao cimentar-se, apresente aos jovens homens um quadro sem referências possíveis no antigamente. É normal que apareçam e se tornem muito mais visíveis e claras as diferenças entre uns e outros. Já não é uma questão da vergonha inicial de pedir para sair. É uma questão sociologicamente mais complexa e que remete o homem para uma condição de desajeitado porquanto os velhos truques de filme não funcionam de todo.

Tive a felicidade de ter inúmeros alunos – e agora claramente mais novos que eu – ao longo da vida e alguns deles, aqui e ali, vão perguntando – ou deixando descair – a necessidade de falarem com alguém que conheça a vida e lhes dê umas dicas de como fazer. A proximidade que procuro trazer para a sala de aula ajuda.

Conto esta história porque lhe acho uma certa graça. Aqui há uns tempos um equatoriano da minha aula estava visivelmente interessado numa grega também da minha aula. Estabeleci um relacionamento interessante com ele porque sempre quis ir a Quito e ao Equador e ver aquelas paragens a deitarem para o Oceano Pacífico. Ele não teria mais de 25 anos e ela idem. Ambos alunos de mestrado. Mas a maturidade aos 25 anos de hoje não é, transversalmente, similar à maturidade dos 25 anos de há duas ou três décadas atrás. Disso tenho a certeza absoluta.

Dois povos diferentes, duas culturas diferentes e, no entanto, sentavam-se lado a lado na minha sala de aula. Ele, porém, olhava-a fixamente e via nela uma exuberância e uma segurança que provavelmente não veria nas suas paragens. Não sei o que ele via. Mas comecei a percebê-lo inibido e sempre que havia uma atividade mais de grupo ele preferia ficar calado e ouvir a clara e inequívoca liderança dela.

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Um dia, à saída, disse-me: “Professor, gostava de convidar a Milena para jantar comigo.” O nome dele era Diego. Fiquei a olhar para ele e quase lhe respondi: “Mas, que tenho eu a ver com isso?” Aqueles olhos não enganavam e o pedido era claramente de ajuda. Sugeri-lhe um café. E à volta de um café que demorou meia hora fui discorrendo. Mal? Bem? Julguem-me. Provavelmente não adaptado aos tempos modernos mas procurando ser o mais fiel a mim próprio e à condição de ser humano, apenas. Era isso que me importava.

Tens de conversar com a Milena, Diego. Não há como escapar a isso. Conversa. Antes de a convidares para um jantar conversa com ela. Preferivelmente olhos nos olhos. Mas se não tiveres como, constrói essa conexão, e porque não, através de um conjunto de mensagens e conversas online. Procura pontos de interesse. Procura desportos. Procura artes. Procura áreas de conexão que sejam de interesse para a Milena e para ti também.

Repara no que ela come, do que gosta. Mais à frente traz-lhe um chocolate, se for o caso, e coloca-o à frente dela. Traz-lhe qualquer coisa que a tenhas visto gostar e sem lhe oferecer explicitamente deixa deliberadamente à frente dela.

Escolhe um local apropriado e aberto. Envolve-a nas tuas escolhas. De que espaços gostas? Quais os ambientes que aprecias? Até chegares a um que lhe interesse a ela e a ti também. Sobretudo quando tiveres essa informação faz por escolher algum local que vos faça sentirem-se à vontade, confortáveis.

Quando a convidares sê específico. Não entres em questões do tipo ‘um dia jantas comigo?’. Não, propõe-lhe o dia, hora e local onde gostarias de jantar com ela. Explica-lhe a razão da escolha e o que o espaço oferece.

Fica atendo à disponibilidade que a Milena tem. Mas não pressiones muito. Vai tentando espaçadamente. Respeita tudo o que tens a respeitar na Milena. E respeita os nãos se os houver.

Tens de ser flexível pois se tiveres uma contraproposta de local, data e hora pois tens aí uma janela de oportunidade. Estás assim a demonstrar flexibilidade e disponibilidade. E a respeitar os seus tempos.

Sê genuíno. Não podes estar interessado num encontro e de um encontro sair um match perfeito. Pensa num encontro apenas como um encontro. Ponto. Sem expetativas de nada. Mostra interesse no que a Milena te diz e começa a gerar empatia.

Retira a arrogância. Mostra alguma confiança pois se estás sem qualquer confiança isso nota-se. E a confiança é atraente. Mostra-te autêntico. Genuíno.

Se ela for clara ao ponto de te dizer que não quer um encontro contigo, respeita. É a vida.

Tens de ser cortês: Independentemente da resposta dela, agradece a resposta. Isso mostra maturidade e mostra respeito.

Evita a pressão excessiva se o ‘não’ foi circunstancial e não estrutural: Não insistas se ela não parecer interessada ou disser que não pode naquele momento. Deixe espaço para que ela tome a sua própria decisão. A decisão é de ambos e não há essa coisa de a decisão ter de ser tua, Diego.

Se ela não aceitar continua a tratá-la com dignidade. E falar-lhe normalmente. E não uses o “pá” e o “tipo” demasiadas vezes (se eles fossem portugueses era o que sugeriria claramente). Não uses slang.

Passados alguns dias do nosso café o Diego veio oferecer-me uma pulseira. “For you, professor”. “It seems that you like this type of bracelets.” Olhei para ele e percebi o significado.

Tinha feito mais uma graçola no meio. Entre o café e a pulseira estavam eles, alunos, num grupo de 7 ou 8 no mesmo restaurante que eu e estava calor. A Milena e o Diego também estavam. Pedi à senhora que estava a acompanhar a mesa deles para abrir uma garrafa de vinho branco gelado e que lhes levasse uns copos. Depois, quando servidos, dirigi-me a eles e fiz um brinde aos meus alunos internacionais. E olhei para ele e para ela compassadamente.

E é assim que, uma vez por outra, me torno conselheiro sentimental. Ou melhor, um professor é também um conselheiro sentimental. Ciência não é. Será, quando muito, pedagogia. Fiz mal? Fiz bem? O normativo não é este? Não tenho que me meter em nada disto? Pois sim, mas se me pedem ajuda não fico indiferente e muito menos consigo ser o que me mandam ser hoje: assético. “My bad; Too old for that. I’ve always liked kids.