Há mesmo uma maldição dos seis anos para o Partido Socialista. Até hoje, os socialistas nunca conseguiram governar mais de seis anos seguidos. Os governos de Guterres começaram em 1995 mas acabaram de repente, no final de 2001, com a derrota nas eleições autárquicas. Foi um fim súbito que nada fazia antever. Na altura, o próprio Guterres reconheceu que o PS havia levado o país para o “pântano.”
Em 2005, Sócrates chegou ao poder com maioria absoluta – a única conquistada pelo PS até hoje. Durante anos o poder do PS socrático parecia quase absoluto. Mas, tal como Guterres, chegou ao fim seis anos depois, em 2011. Na altura, não foi o pântano. Foi a bancarrota. Ou seja, os governos socialistas não só chegaram ao fim após seis anos de poder, mas acabaram com desastres para o país.
Ao contrário dos seus antecessores socialistas, António Costa deverá permanecer mais de seis anos em São Bento. As eleições autárquicas correram melhor do que a Guterres em 2001. O país está longe da bancarrota, devido a uma combinação entre a austeridade fiscal socialista e as políticas monetárias do BCE, o que salva Costa de repetir Sócrates.
No entanto, apesar de continuar em São Bento até 2023, o governo socialista na realidade acabou. Já está em agonia e a partir de agora vai provocar muitos danos aos portugueses. A campanha das eleições autárquicas mostrou que Costa só tem uma política para oferecer ao país: o dinheiro da bazuca europeia. Não tem mais nada. Em Portugal, o socialismo deixou de ser uma ideologia política e passou a ser uma carreira profissional cheia de incompetentes e paga com o dinheiro dos outros, dos contribuintes e da Europa.
Não tem políticas de justiça social para combater a pobreza e as desigualdades. E, obviamente, não poderia ter. O socialismo tem sido a maior causa de pobreza em Portugal. Aliás se há uma regra na política europeia é a seguinte: os países mais socialistas são os mais pobres; os países mais liberais e mais conservadores são os mais ricos.
O governo também não apresenta nem implementa qualquer tipo de reformas para tornar o Estado mais eficiente e o país mais competitivo em termos económicos, industriais e tecnológicos. Aliás, o PS (e as esquerdas em geral) tornou-se um gestor do status quo e um partido reacionário empenhado em que nada mude.
Por tudo isto, durante a campanha eleitoral, Costa viajou por Portugal como um emissário de Bruxelas com dinheiro fresco, dizendo aos portugueses ‘votem no PS e nós temos dinheiro para vos oferecer.’ Em bom português, Costa andou a comprar votos.
Mas, por vezes, os portugueses surpreendem. Deram sinais de que começam a estar cansados da arrogância socialista e de serem tratados como crianças ou que lhes peçam para vender os seus votos. Reagiram provocando derrotas inesperadas aos candidatos socialistas nas principais cidades do país. Esta lição de dignidade democrática bastou para o governo socialista começar a mostrar fragilidades que estavam escondidas ou mais ou menos disfarçadas.
O PM está nitidamente cansado e desgastado. Multiplicam-se os casos e as trapalhadas envolvendo ministros. Aparentemente, houve uma revolta geral contra a austeridade imposta pelo ministro das Finanças aos outros ministérios. No discurso do 5 de Outubro, o derrotado Fernando Medina atacou o populismo radical do seu camarada Pedro Nuno Santos. Este faz tudo para sair do governo e dedicar-se à campanha para a liderança do PS. O que mostra que também ele sabe que Costa pode estar a chegar ao fim. Ao mesmo tempo, o governo resolve atacar as ordens profissionais, ou seja, a sociedade civil. Pior do que tudo, os serviços públicos, nomeadamente o SNS, dá sinais de colapso por causa da austeridade socialista, que desinveste no Estado para contratar funcionários do partido. Como vai o governo justificar as lacunas graves no SNS no pós-Covid?
Em suma, a dois anos das eleições assistimos a um governo frágil, com uma liderança cansada e um PS dividido e em luta pelo poder interno. Ao mesmo tempo os seus aliados orçamentais dos últimos seis anos lutam pela sobrevivência (o PCP) ou radicalizam a sua oposição ao governo (o Bloco).
Não sabemos quando acabará o governo socialista, mas sabemos que já começou a contagem final. Vai ser doloroso para os socialistas e muito mau para Portugal. Tal como aconteceu com Guterres e com Sócrates, o governo de Costa vai acabar mal.