Tenho sentimentos contraditórios em relação aos recentes processos de investigação do Ministério Público e aos “superjuízes”, que ao invés de uma investigação discreta, respeitadora da presunção de inocência, da proteção da prova e do segredo de Justiça, deixam-se emergir do anonimato para as luzes da ribalta, seduzidos por uma notoriedade que, tendo essa raiz, será sempre efémera e volátil.

No caso do Benfica, a minha formação jurídica leva-me a concordar com o bastonário da Ordem dos Advogados, quando com bom senso toca na ferida dos perigos de uma investigação mediática, vulnerável não ao juízo da Lei mas ao juízo da opinião pública, caracterizada por ser frágil e pueril nos fundamentos, mas tremendamente devastadora nas consequências que provoca.

Essa preocupação alarga-se até a todos os processos recentes associados ao crime económico. Tivemos um sistema – político, jurídico, económico e financeiro – verdadeiramente apostado em estimular os empresários a criarem dívida para investir, reinvestir, especular, como se fosse esse o desígnio maior do país que tinha que sair do modelo de isolamento e de provincianismo económico em que sempre esteve mergulhado.

O tempo era de globalização, de negócios internacionais, de paraísos fiscais criados pelos próprios governos e organizados pelas grandes sociedades de advogados para que o prémio e a remuneração fossem ainda mais aliciantes. O regulador não regulava, antes ajudava a estimular, e o dinheiro circulava, sem mancha de pecado, por empresários impreparados que apenas tinham o perfil certo, a postura cosmopolita e arrojada e a mesma ambição que era exigida aos agentes políticos e, no geral, a todas as classes dirigentes.

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Sócrates foi o primeiro exemplo de autofagia deste sistema hipócrita, que estimula comportamentos para mais tarde os castigar e sacrificar de forma violenta.

Não tenho nenhuma simpatia pelos visados nestes processos, mas tenho muito menos pelo sistema que criámos de milhões de juízes no sofá, arredados de qualquer responsabilidade cívica, e de tantos programas, comentadores e comentaristas que os acicatam para o sangue de uma justiça sem regras.

Preocupa-me, em especial, a mensagem que passamos às novas gerações – deste salve-se quem puder, onde o bom mesmo é estar sempre do lado cinzento do status quo ou do “politicamente correcto”. E de preferência do lado do sofá!

Mas estou a fugir do que queria dizer. E o que queria dizer deve-se, no essencial, à minha condição de benfiquista.

Acho que Luís Filipe Vieira deve sair da presidência do Benfica. Porque não é um dirigente desportivo competente, conhecedor e experiente e, principalmente, porque ao contrário dos grandes presidentes que fizeram a história do clube, vive do Benfica e não para o Benfica.

Preferia que Luís Filipe Vieira saísse pelo seu pé, por reconhecimento disso mesmo, mas sei que como qualquer “dependente”, não o fará. E por isso exorto os sócios a fazerem o que é correcto, que é exigirem novas eleições e escolherem livremente o próximo presidente do Benfica.

Também não acho que nenhum membro da direcção ou da administração da SAD tenha condições para lhe suceder. E muito menos Rui Costa. Que foi um excelente jogador. Que poderia ser um símbolo do clube, mas não o seu presidente. A sabedoria popular fala em “cada macaco no seu galho” e essa forma proverbial de afirmar o princípio da especialização é a melhor maneira de percebermos que uma coisa é ser um grande jogador de futebol, outra coisa, muito diferente, é ser presidente de uma organização com o tamanho e a glória do Benfica.

O próximo presidente do Benfica tem que ser alguém que dê provas de ter um projecto à altura das exigências de uma organização da dimensão de um clube que possui talvez a marca de maior valor existente em Portugal.

Tenho, sinceramente, ideias de quem possa ser, mas tenho principalmente convicções profundas de quem não pode ser. E não pode ser nenhuma das pessoas ligadas ao ciclo, passado ou recente, protagonizado por Luís Filipe Vieira. Mesmo que os processos sejam todos arquivados. Mesmo que se prove que esses dirigentes nada tiveram a ver com esta ou aquela acção do actual presidente.

Porque numa instituição como o Benfica se justifica, mais do que em qualquer outra, a ideia de que à mulher de César não basta ser, é também preciso parecer!

Queremos um Presidente que seja e pareça alguém à altura de um dos maiores clubes desportivos do Mundo!