Guardem o editorial do director do jornal Público sobre texto da historiadora Maria de Fátima Bonifácio. Porquê? A História precisa de datas e à falta doutra esta serve para assinalar o momento em que, em Portugal, se assumiu que vigora a ostraca.

Os muçulmanos têm a fatwa, nos temos a ostraca, essa prática da antiga Grécia para afastar determinados cidadãos, sendo que agora o nome daquele que se quer ver banido não se grava em pedaços de cerâmica mas sim nas redes sociais. Desta vez a ostraca caiu sobre Fátima Bonifácio. E chegou via editorial do Manuel Carvalho, director do PÚBLICO: “Um jornal como o PÚBLICO é um espaço de convivência baseado em valores. A Direcção Editorial tem o dever de proteger esse espaço, evitando que esses valores sejam postos em causa. Lamentavelmente, não foi isso que aconteceu.” – escreveu arrependendo-se da publicação do texto de Maria de Fátima Bonifácio.

Não interessa se concordo ou discordo do texto de Maria de Fátima Bonifácio sobre as quotas para negros e ciganos. Mas desde já acrescento que escusam as redes sociais de se enervar e o director do Público de se armar em extraterrestre: Maria de Fátima Bonifácio escreveu o que se diz não apenas nas periferias de Lisboa ou Setúbal mas muito particularmente nesse interior do país que tanto dizem querer proteger mas onde se multiplicam “as ocorrências”.

Maria de Fátima Bonifácio apontou o que tartamudeiam os paizinhos progressistas para explicar porque não colocam os filhos nas escolas públicas. Detalhou o que se vê e ouve quando se sai na estação de comboio da Damaia…

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Não admira que o texto de Maria de Fátima Bonifácio tenha gerado reacções e a própria sabe explicar as suas razões melhor que ninguém.

O que interessa, o que é grave, o que ensina o editorial do Público é que a técnica da ostraca venceu e todos mas mesmos todos, a começar por Manuel Carvalho, teremos a qualquer momento o nosso nome inscrito na lista dos que devem ser banidos.

Sejamos claros: a ditadura das causas triunfou. Neste momento não se debatem ideias, impõem-se causas. Estas são invariavelmente apresentadas como libertadoras e positivas. Logo quem diverge dos fins e dos meios adoptados pelos activistas-funcionários de tão altos desígnios não é uma pessoa que pensa de forma diferente mas sim um defensor dos horrores que essas causas se propõem combater.

Não se concorda com a criação de quotas para ciganos na universidade? Automaticamente é-se apresentado como sendo favorável à discriminação dos ciganos. Perante esta condenação ao banimento quem tem coragem para perguntar o óbvio: que cursos são esses em que se entra porque se nasceu mais ou menos moreno? Os cursos das chamadas ciências sociais e humanas porque a matemática e a física ainda não se aprendem por decreto (creio que depois de serem apresentadas como disciplinas dos ricos acabarão a ser tidas como reaccionárias). Como é mais que óbvio os seleccionados para essa progressão por razões da cor da sua pele irão alimentar esses berçários da esquerda radical que são os departamentos de antropologia, sociologia e estudos disto e daquilo.

Não se concorda com a escolha de pessoas para cargos políticos em função da cor da sua pele e de imediato se é a favor da discriminação dos negros.

Denuncia-se o racismo existente entre negros ou entre negros e ciganos e em segundos é-se apresentado como tendo uma visão estereotipada daquilo que no nosso caminho para a tribalização é designado como comunidades.

A ditadura das causas, como todas as ditaduras, conta com os seus defensores que naturalmente se acham investidos de uma superioridade moral. Conta com os seus actvistas logo transformados em funcionários porque, materialmente falando, o sector das causas é uma fonte inesgotável de empregos e financiamentos.

Quando a ditadura das causas acabar o jornal Público e seus clones encher-se-ão de artigos sobre as perseguições realizadas nestas décadas iniciais do sećulo XXI e de como a esquerda (noutros tempos foi a direita) se serviram dessas causas para ganhar votos numa época em que  já não tinham outro programa político que não fosse manter-se no poder. Como é óbvio eles, os activistas, os jornais activistas e toda essa milícia do pensamento que por aí anda, nunca tiveram nada a ver com tal assunto. Felizmente que a morte nos liberta a dado momento desses espectáculo porque vê-lo várias vezes ao longo da vida torna-nos mais cínicos.