Portugal tem mais de 2 milhões de pessoas em risco de pobreza. Quase 10% da população francesa precisou de auxílio para se alimentar no último ano. A Alemanha chegou a um número recorde de pobreza durante a pandemia. No Brasil há 15 milhões de famílias vivendo em pobreza extrema (com renda de até 89 reais (menos de 14 euros) por mês per capita). Não é preciso dizer muito mais. Basta isso para entender que a situação do mundo é trágica.

O Natal se aproxima e, com ele, a lotação de estacionamentos de shoppings, as filas em centros comercias, as entregas de compras online. Não estou aqui para condenar nada disso. Eu também sou uma das que faz compras para suas crianças e seus pais. Frequentemente mais do que o necessário. A questão é pensarmos um pouco sobre a partilha do que temos.

Que o mundo não é justo, não é novidade. Que a partilha de riqueza e de terra é injusta, também sabemos. Nenhum de nós acha que as tantas pessoas que trabalham mais horas do que nós e não conseguem nem alimentar suas famílias são pessoas pouco esforçadas ou que nós somos verdadeiramente merecedores de fatias tão mais gordas do dinheiro disponível numa nação. Todos sabemos que as coisas são injustas e ponto.

A pergunta que se coloca é o quanto do espírito natalino – de fraternidade, de partilha, de honrar os pilares de solidariedade do cristianismo – está presente nas nossas ações de dezembro. Eletrônicos de última geração, roupas bonitas, brinquedos excedentes para as nossas crianças, perfumes, garrafas de vinho. Lá vamos nós celebrar o nascimento de Jesus com excessos e mais excessos enquanto há gente passando fome ao nosso lado?

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Esse é um texto para pedir reflexão e partilha. Esse é um texto para pedir que pais e avós façam suas crianças entenderem que a tal “magia do Natal” só existe em casas onde há comida na mesa. Um texto para, mais uma vez, propor um Natal menos egoísta e menos incoerente com aquilo que Jesus Cristo pregou. Não é sobre dar o que sobra, sobre doar roupas que não se usa ou brinquedos que só ocupam espaço. É sobre ser verdadeiramente generoso e doar um dinheiro que poderia ser empregado de outra forma, mas que merece um fim mais digno do que ser mais um presente, mais um exagero.

Médicos sem fronteiras. UNICEF. Cruz vermelha. Anistia Internacional. Em Portugal: Banco Alimentar. Ajuda de Mãe. Comunidade Vida e Paz. Ajuda de Berço e tantos outros. No Brasil: Obra do Padre Julio Lancelotti. Amigos do Bem. Tem Gente Com Fome. Gerando Falcões. Fundo Solidário Mães da Favela. Não é preciso nem sair de casa. Quase todas as instituições aceitam doações online.

Repensemos nosso Natal. Repensemos os inúmeros embrulhos rasgados no chão das nossas salas enquanto há tanta gente sem um pão para comer, sem uma meia para vestir, sem um teto que lhes cubra. Até porque, no fundo, todos sabemos a tristeza que Jesus deve sentir ao olhar para as celebrações bizarras que fazemos para tentar honrar o seu nascimento. Menos coerente, impossível.