Portugal atingiu o patamar dos 85% de vacinação completa. É, sem dúvida, algo que deve ser registado e o Governo aproveita todos os momentos para o fazer. Contudo, é necessário reflectir um pouco mais sobre este tema.
No dia 26 de Novembro de 2020, o Governo fez sair o Despacho conjunto dos Ministérios da Defesa Nacional, Administração Interna e Saúde n.º 11737/2020, pelo qual formou a task force do «Plano de vacinação contra a COVID-19 em Portugal», cujo núcleo de coordenação seria dirigido pelo Dr. Francisco Ramos, alguém que teve funções em anteriores governos socialistas e que foi manifestamente incapaz de se opor ao nepotismo, favorecimento e compadrio característico do socialismo português.
Dois meses e uma semana depois, Francisco Ramos foi substituído na coordenação da task force pelo Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo. Recordam-se das razões para tal?
Quando foi iniciada a vacinação, tendo em mente a quantidade de vacinas disponíveis, foi elaborada uma lista de prioritários, que foi sendo actualizada, com estas indicações:
Primeira fase:
- Profissionais e residentes em lares e em instituições semelhantes;
- Profissionais e internados em unidades de cuidados continuados;
- As pessoas com mais de 50 anos e doenças associadas (doença coronária, insuficiência cardíaca, insuficiência renal ou doença pulmonar obstrutiva crónica) e todas aquelas que têm mais de 80 anos vão começar a ser vacinadas a partir de fevereiro;
- Profissionais de saúde directamente envolvidos na prestação de cuidados a doentes.
Segunda fase
- Pessoas entre 79 e 16 anos, por faixas etárias decrescentes;
- Pessoas entre os 50 e 64 anos com estas patologias ou condições (neoplasia maligna ativa, transplantação, imunossupressão, doenças neurológicas, diabetes, obesidade, doenças mentais, doença cardiovascular, insuficiência renal ou doença pulmonar obstrutiva crónica);
Não demorou muito até que os socialistas ultrapassassem os prioritários na toma da vacina, agindo como se fossem mais do que VIPs prioritários (pessoalmente penso que o caso mais vergonhoso foi o do ex-Presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, José Calixto). Na prática, a primeira fase pode ser assim caracterizada:
Socialistas:
- Presidentes de Câmara + família;
- Dirigentes da segurança social + família;
- Deputados de qualquer idade;
- Outros casos de interesse socialista.
Que fez António Costa perante os sucessivos atropelos socialistas? Nada. Limitou-se a expressar silêncio. O PS é um dos esteios da partidarização da administração pública e com António Costa os “boys” aumentaram. Para os socialistas, os interesses partidários são superiores ao interesse dos portugueses.
A partir do momento em que o Vice-Almirante Gouveia e Melo passou a liderar a Task Force, as coisas mudaram completamente. Quando se verificaram abusos e desvios das indicações dadas aos operacionais, Gouveia e Melo avisou logo para as consequências. Lembram-se do caso de vacinação indevida de jovens no agrupamento de Centros de Saúde do Grande Porto VI – Porto Oriental?
Quando foi necessária firmeza de liderança Gouveia e Melo demonstrou-a sem hesitação. O mesmo não pode ser dito de António Costa que se ausentou no momento em que a mesma era mais precisa. Há uma diferença substancial entre lealdade ao país e fidelização ao partido.
Portugal fez um excelente trabalho na vacinação contra o COVID-19. Mas o mérito não é do Governo. Não é difícil concluir que a colocação de um “boy” socialista na liderança inicial da Task Force atrasou o processo, pelo menos, em dois meses e uma semana.
Portugal precisa de uma administração pública isenta com funcionários públicos seleccionados pelo seu mérito e não pelo cartão de militante. E o PS, entre outros, jamais desistirá dos “seus boys”. A verdade é esta: Portugal precisa de outro tipo de políticos. Os partidos que herdaram Abril são piores do que o progenitor do Estado Novo.
“Fui vacinado depois de passar a minha idade. Enquanto militar tinha acesso à vacina e recusei esse acesso”. “Gostamos de pessoas transparentes e que cumprem regras, qualquer alteração às prioridades era grave e irritava-me”– Gouveia e Melo.
Espero que os portugueses aprendam com este exemplo e que passem a votar em partidos que defendem a transparência, que acreditam nas pessoas e que são leais ao país.
Membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal