A vida de António Costa enquanto líder do PS está cada vez mais difícil. A recente sondagem que dava vantagem à coligação que sustenta o actual Governo fez naturalmente aumentar a intensidade dos sinais de alarme que já soavam no Largo do Rato. Em si mesmo, o segundo lugar do PS na sondagem tem mais valor simbólico do que preditivo, já que a diferença é escassa e dentro da margem de erro, situação aliás em linha com anteriores sondagens que davam ainda uma pequena vantagem ao PS.

O que é realmente relevante, no entanto, é a acumulação de sinais e indicadores que apontam para o fracasso dos esforços de António Costa para se apresentar como uma alternativa de governação credível. Um fracasso da actual liderança socialista que assume contornos mais dramáticos face às enormes expectativas que haviam sido (imprudentemente) criadas por altura do processo de afastamento de António José Seguro da condução do partido. Um processo iniciado logo após, recorde-se, a vitória do PS nas eleições europeias.

Entre os vários factores explicativos do fracasso (até ao momento) de António Costa, há pelo menos dois que faz sentido destacar. O primeiro – para o qual alertei no meu artigo da semana passada – é a perigosa atracção pelo syrizismo manifestada publicamente por várias figuras destacadas do PS e próximas do seu actual líder. O problema é de tal forma evidente que começa a haver vozes no interior do próprio PS a manifestar publicamente a sua preocupação. Foi o caso, por exemplo, de João Assunção Ribeiro, ex-porta-voz do PS durante a liderança de António José Seguro, que achou por bem divulgar via Facebook essas mesmas preocupações:

“Acho que vou ter que fazer um desenho a alguns “socialistas” (passe a arrogância). Será difícil perceber que defender que o acordo pífio do Tsipras é uma vitória do Syriza (sendo o melhor possível para gregos, não cumpre o que Syriza prometeu) legitimará voto mais radical em Outubro, condicionando programa e discurso do PS ao ponto de alienar eleitorado moderado e eliminando qualquer possibilidade de voto útil contra a direita unida? Terei que ser eu, ex-porta-voz do Seguro, a explicar aos mais ferrenhos apoiantes da direcção nacional que estão a comprometer a maioria absoluta com a sua excitação pueril de quem só pensa a curto prazo e ignorante das implicações estratégicas globais?”

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A juntar-se a esta questão, Costa tem ainda de lidar com o dossier Sócrates. Uma gestão especialmente difícil tendo em conta a proximidade de Costa face a Sócrates (sob cuja liderança foi ministro) e o facto de o socratismo dentro e fora do PS ter sido a principal fonte de oposição a António José Seguro. Como acertadamente explica João Cardoso Rosas, há uma diferença notória – e potencialmente decisiva – entre Costa e Seguro no que diz respeito ao posicionamento face a José Sócrates e ao socratismo:

” (…) o afastamento crítico de Seguro em relação a Sócrates e ao socratismo, que Costa não pode operar por ter sido o número dois de Sócrates no partido. Ora, num contexto em que o principal argumento da coligação de direita é precisamente o do perigo do regresso ao passado da governação socialista, Seguro tinha melhores hipóteses de defesa do que tem Costa. Por outras palavras: o argumento da direita seria muito menos eficaz contra Seguro do que é face a Costa.”

Fora dos ambientes protegidos e amigáveis da Câmara de Lisboa e da Quadratura do Círculo, António Costa enfrenta o maior desafio político da sua vida e o balanço para já é negativo. Talvez não seja ainda tarde de mais para arrepiar caminho, mas a verdade é que de dia para dia crescem, justificadamente, o nervosismo e a apreensão entre as hostes do PS e não se perspectiva solução à vista no quadro do rumo da actual liderança.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa