A Espanha tornou-se um dos países mais interessantes na Europa. De acordo com as previsões da Comissão Europeia, a sua economia lidera o crescimento na zona Euro (2,5% de crescimento em 2015) – o enorme interessa dos investidores internacionais no país reflecte as boas previsões – e o seu sistema partidário passa por uma transformação profunda.

Primeiro, surgiu o Podemos. A insatisfação de um grande número de espanhóis empurrou o partido dos académicos para a liderança nas sondagens. O sucesso do Syriza na Grécia pareceu ser igualmente uma boa ajuda. Mas da Grécia vieram rapidamente más notícias. A irresponsabilidade e o radicalismo do Syriza estão a conduzir o país para o abismo; e o desastre grego será uma vacina contra o Podemos em Espanha. A governação de um país em crise é mais exigente do que a liderança de uma associação de estudantes ou de um sindicato. E a imagem do abraço entre Iglesias e Tsipras será fatal no fim do ano.

Mais grave do que o mau exemplo da Grécia será o financiamento da Venezuela. Os principais dirigentes do Podemos receberam milhões de euros do regime de Chavez, enquanto o povo venezuelano é condenado à miséria. Se alguém quiser comparar a pobreza resultante da ‘austeridade’ espanhola com a pobreza venezuelana, basta fazer uma visita a Madrid e outra a Caracas. Os espanhóis não gostam da corrupção do PP e do PSOE, mas percebem certamente que a corrupção do regime de Chavez é bem pior. Ora, esse é o dinheiro que financia o Podemos. Entre o exemplo da Grécia e o apoio da Venezuela, o destino do Podemos será baixar nas sondagens e alcançar um resultado eleitoral bem pior do que os seus dirigentes esperam.

Mas a reconstrução do sistema partidário espanhol não se esgota no Podemos. Surgiu um outro partido novo, o Ciutadanos. Resulta também da revolta dos espanhóis com a corrupção das principais forças políticas, o PP e o PSOE. Mas, ao contrário do Podemos, é moderado, sensato e responsável. Os seus responsáveis são oriundos das classes médias liberais, sabem como funcionam os mercados financeiros e os mercados de trabalho, não se deixam influenciar por utopias irresponsáveis, e entendem as virtudes da integração europeia e do Euro para Espanha. A sua moderação impede-os de mobilizar muitos espanhóis revoltados com as políticas do governo, mas capta o apoio de muitos eleitores dos dois maiores partidos, desiludidos com a corrupção de muitos políticos. O seu crescimento nas sondagens não tem sido menos impressionante do que o do Podemos.

Assiste-se assim à fragmentação do sistema partidário espanhol – agravado pela questão Catalã (ficará para outra ocasião) – num processo muito semelhante ao que se passa no Reino Unido (igualmente com a sua ‘Catalunha’, Escócia). Tudo indica que as eleições do fim do ano irão confirmar esta fragmentação. Será quase impossível para o PP ou PSOE alcançarem uma maioria absoluta sozinhos. E tudo aponta para um governo de coligação. Se o Ciutadanos estabilizar o seu crescimento – e não terá recebido dinheiro da Venezuela nem andou aos abraços com o Syriza – apostaria numa coligação PP-Ciutadanos.

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