É costume o início do novo ano ser pautado com uma lista de resoluções, sendo a boa saúde o primeiro item apontado como desejo maior. No final destes dois anos, a saúde passou a ser ainda mais valorizada. A ameaça permanente do vírus gerou em muitas pessoas uma angústia, e consequentemente aumentou o nível de vigilância e um aumento de cuidados.

É sabido, que com os olhos mais postos no covid, outras doenças foram descuradas e a saúde mental mais afectada. É um valor significativo cerca de 80% de psicólogos terem sentido um aumento no pedido de consultas. Ou seja, o estado geral da saúde psicológica piorou nestes últimos tempos; aumento das queixas ligadas às crises de ansiedade, queixas de sintomatologia depressiva, aumento de comportamentos obsessivos.

Com esta nova variante ultimamente não tem sido fácil fazer valer a esperança do fim à vista. Mas como, a esperança é a última a morrer,  esperamos que 2022 erradique as estirpes.  Desejamos sentir a liberdade dos nossos movimentos no dia a dia e reajustar as rotinas sem máscaras, testes, certificados, isolamentos profiláticos e afins. Queremos dar atenção a outros assuntos, eventuais problemas por resolver, tratar outras doenças, incorrer em novas (melhores) descobertas, que não o tema covidiano do dia, sempre nas primeiras linhas noticiosas.

A repetição entedia. A repetição do trauma patologiza. A espiral dos últimos dois anos já elipsou demasiado os nossos pensamentos e comportamentos. Toldou alguns projectos de vida e adiou-os. São comuns os comentários destes tempos, que parece que tudo ficou pendente. Envelhecemos sem dar conta do tempo a  passar. A dimensão da percepção temporal  ficou perturbada e confundida entre ora o “parece que foi ontem” e afinal já estamos em 2022.

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As relações afectivas ficaram bastante comprometidas. Uns conseguimos reforçar as relações de intimidade, pela maior cumplicidade vivida com mais tempo de partilha; outros de nós, quebrámos relações, pelo excesso e saturação, que trouxe ao de cima o que estava camuflado pela falta de tanto convívio. As relações fora do contexto da proximidade, deixaram saudades. Impera o desejo de retomar os abraços suspensos.

É mais do que tempo de retomar o que foi adiado, retomar o sentimento de se viver em pleno, de cumprir os planos e satisfazer a curiosidade de beber mais mundo. De fazer check na lista de desejos.

anaeduardoribeiro@sapo.pt