Agora é oficial: aqueles que dão lições de democracia a todos, que falam de inclusão, silenciaram e excluíram as vozes inconvenientes. Fazendo desaparecer 20 milhões de conteúdos em 2021.

Mark Zuckerberg, esperou três anos para admitir oficialmente ter cedido aos pedidos de censura de conteúdos publicados no Facebook por agências federais e depois pela administração Biden entre 2020 e 2021. Desde o pedido do FBI para censurar a circulação de um artigo do New York Post detalhando o envolvimento de Biden nos negócios obscuros do filho Hunter, exercendo assim uma enorme poluição do debate eleitoral, até à pressão levada a cabo pela administração Biden para censurar conteúdos que expressavam críticas, dúvidas e até sátiras à versão oficial do governo sobre a epidemia de Covid-19 e às medidas de emergência relacionadas.

Certamente não se trata de uma notícia desconhecida ou surpreendente, mas apenas da confirmação de factos já conhecidos de diversas formas. O que surpreende, de facto, é a simplicidade desarmante com que foi admitida, considerando que oprimiu, expulsou, suspendeu e ofendeu milhões de utilizadores, não só por lhes ter negado o seu direito à liberdade de opinião e à liberdade de receber e de transmitir informações ou ideias, mas também por os ter estigmatizado, discriminado e assimilado às franjas mais extremistas. De simples utilizadores a médicos, jornalistas, intelectuais, até cientistas conceituados como Tom Jefferson e Carl Heneghan.

Na carta endereçada ao presidente republicano do Comité Judiciário da Câmara dos Representantes, Zuckerberg assume que a decisão de remover ou não o conteúdo foi da inteira responsabilidade da Meta, ou seja, ele assume que foi um executor de propaganda governamental durante a pandemia e as eleições presidenciais americanas de 2020. O seu regime era de censura, em que as falsidades eram permitidas e a verdade censurada. E fê-lo mentindo descaradamente, uma vez que, quando o Facebook ou o Instagram censuraram ou rotularam publicações sobre Covid-19 ou sobre Hunter Biden como desinformação, justificaram-se alegando que os seus verificadores de factos tinham determinado que essas informações eram falsas. A carta publicada ontem esclarece de uma vez por todas que os verificadores de factos actuaram de acordo com a informação permitida pela administração Biden, e destruído as demais. O exacto oposto do que estipulam os seus “Padrões da Comunidade”.  E cobre esta prática execrável por detrás do nome orwelliano de “luta contra a desinformação”.

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Ainda mais grotesco é o facto de Zuckerberg, qual Saulo no caminho de Damasco, declarar-se arrependido por ter obedecido e permanecido em silêncio, e dizer que hoje não repetiria as operações de censura explícita e encapotada que a sua holding tem implementado pronta, repetida e consistentemente. Até a “retropectiva” entra em jogo, provando a inocência por detrás das decisões da Meta.

A verdade, porém, é que não há nada de inocente nas decisões no que diz respeito à censura. A Meta apresenta-se, desde há muito, como um cão de guarda (democrático, claro) do politicamente correcto, isto é, dos “valores” associados à ideologia progressista de esquerda, que visam uma uniformidade forçada, um alinhamento acrítico. Esteve e está, por isso, entre as empresas mais abertas às solicitações daqueles que defendem uma democracia com censura.  A lista de casos de censura arbitrária em nome da ideologia progressista de esquerda é interminável, mas certamente que todos nos lembramos daquele dia em que, perante o Senado, Zuckerberg (e Jack Dorsey) orgulhou-se de ter censurado Trump… em nome do combate à desinformação (não se ria). Mais recentemente manipulou a informação relativa à tentativa de assassinato de Trump, ao ponto de considerar “falsa” a icónica fotografia de Trump levantando-se após o ataque, e programou o seu programa de inteligência artificial para responder que o ataque a Trump nunca existiu, conforme denunciou o New York Post.

Censurar, com ou sem recurso ao shadow ban, é, por isso, um hábito consolidado no Facebook, mas sempre justificado por Zuckerberg, por supostos erros ou pressões, quando não se esconde atrás de algoritmos, que não distinguem noticias falsas de ideias diferentes, opiniões de insultos.

É por isso que acredito que não há realmente nada para comemorar no que diz respeito ao mea culpa de Zuckerberg. Pelo contrário. Repugna-me a hipocrisia e a censura endossada pelas mesmas pessoas que dia sim, dia não passam o tempo a tagarelar sobre o regresso do fascismo e para a transformação de sistemas pluralistas em regimes de vigilância de emergência.