Uma imagem que marcará para sempre o conflito na Ucrânia é a do Presidente Volodymyr Zelensky a vir para a rua, assim que o exército russo entrou no seu país, garantindo não ir a lado nenhum até se confirmar que a sua nação está a salvo. Não sei se também lhe aconteceu, mas a mim este momento trouxe-me à memória aquela outra imagem fortíssima do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a ir para casa, assim que o SARS-CoV-2 entrou ao nosso país, garantindo não ir a lado nenhum até se confirmar que ele próprio estava a salvo.
Antes da guerra na Ucrânia, o único Presidente da República ex-vedeta de televisão, além de Marcelo Rebelo de Sousa, de que tinha memória era Ronald Reagan. Que se revelou um homem de grande determinação, tendo um papel decisivo na queda da União Soviética. Ou seja, até aparecer Zelensky eu ainda me confortava com a ideia de que “OK, temos um Presidente da República que não é propriamente um grande estadista, mas quantos presidentes há que, tendo sido vedetas de televisão, se tenham revelado grandes estadistas? Só o Reagan.” Portanto, até surgir o Zelensky, termos um Chefe de Estado que granjeou fama na TV mas depois não se revelou grande espingarda era normal. Porque nessas condições só mesmo o ex-Presidente norte-americano. Eh pá, mas agora também com o caso do Zelensky já começa a ser um bocadinho azar nosso.
Longe de mim insinuar que Marcelo Rebelo de Sousa não é um homem corajoso. Marcelo é um indivíduo até bem valente. Porque mergulhar no Tejo em 1989, quando os esgotos da capital e arredores desaguavam diretamente no rio sem qualquer tratamento, não era para qualquer um. Está certo que não é exactamente o mesmo que dar o corpo às balas como Zelensky está a fazer na Ucrânia, mas a verdade é que nessa ocasião, em Lisboa, Marcelo deu a hepatite B ao corpo. O que não é nada simpático.
Mas o que o conflito na Ucrânia veio provar foi que não bastaram cento e tal anos de história. Não, era escasso. Foi mesmo preciso esta invasão russa para esclarecer eventuais dúvidas sobre a natureza do comunismo em geral e do PCP e Bloco de Esquerda em particular. Antes tarde que nunca. É mísero consolo, como é óbvio, mas para alguma coisa serviu esta desgraça na Ucrânia. Foi para atestar a essência dos partidos comunistas e para acabar de vez com a histeria da COVID. O combate à COVID nunca foi nenhuma “guerra”, ao contrário do que insistiram em proclamar Marcelos, Costas e Almirantes. Guerra é o que está a acontecer na Ucrânia. E quando há mesmo guerra deixa de ser giro brincar às guerras, não é?
Entretanto, as autoridade de Kiev pediram adesão à União Europeia. Para terem ideia do desespero que se vive na Ucrânia, neste momento fazer parte de um espaço político em vertiginosa decadência, como a UE, parece umas férias em suite presidencial no paraíso. Enfim, “vertiginosa decadência” talvez seja exagero. Embora tenha dificuldade em qualificar o estado de uma União que, com especial destaque para a Alemanha, beneficia há décadas da protecção dos EUA, via NATO, enquanto com o dinheiro que poupa na sua própria defesa compra energia à Rússia. Tornando a Rússia mais poderosa. Rússia essa que é a principal ameaça ao resto da Europa. E, logo, motivo primeiro para a existência da NATO. Que os americanos pagam. Vou talvez arriscar um “desembestada ruína”.
Por falar nisso e a confirmar-se a entrada da Ucrânia na UE, Portugal será um estupendo anfitrião. Estou certo que, de imediato, permitiremos à Ucrânia ultrapassar-nos em tudo o que é ranking de desenvolvimento, só para os ucranianos se sentirem bem-vindos. Fazendo jus à reconhecida hospitalidade lusitana.
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