Medida após medida, imposto seguido de imposto, orçamento após orçamento, o governo de António Costa perseguiu os investidores imobiliários, sobretudo os mais pequenos, aqueles que apostaram no Alojamento Local e no turismo como complemento ou mesmo como fonte principal dos seus rendimentos. O resultado está à vista: de acordo com dados divulgados pelo Observador, apenas relativos à Baixa e Zona Histórica da cidade do Porto, no 2º semestre de 2019 o investimento imobiliário desceu 27% em relação ao semestre anterior. Porquê? Por causa das medidas do governo contra o sector, anunciadas para o orçamento de 2020, que, naturalmente, afugentaram os investidores.
O potencial destruidor dessa política de perseguição, muito influenciada pelo Bloco de Esquerda e pela ala esquerdista radical do PS, que continuam a jurar que «a propriedade é roubo», era de há muito previsível. Nós mesmos o escrevemos aqui, chamando a atenção para o óbvio: que fora graças à liberalização do imobiliário que o país tinha, em boa parte, conseguido sair da crise de 2011; que, graças a ele, as cidades recuperaram os seus centros históricos devastados por décadas de políticas tresloucadas; que o turismo cresceu e teve milhares e milhares de leitos onde foi bem acolhido e bem tratado, a preços reduzidos face à concorrência europeia; e que, em consequência de tudo isso, o emprego aumentou exponencialmente. Os governantes socialistas, com o raciocínio politicamente manhoso que os caracteriza, pensaram doutro modo: “o grosso do investimento está feito, vamos, agora, sacar impostos e obrigar os investidores a colocarem os seus imóveis no arrendamento de longa duração, a preços baixos, para fazermos justiça social à conta deles”. “Vamos corrigir o mercado”, como arrogantemente sempre pensam poder fazer.
Pois bem: esqueceram-se, ou ignoram mesmo, que a economia é um processo e não um momento parado no tempo. Que, face às medidas persecutórias concretizadas e às ameaças de outras que estavam a caminho, quem (ainda) tem dinheiro para investir não o arriscará em países que praticam políticas tributárias erráticas e que alteram anualmente as condições dos negócios, sempre em desfavor do capital. Numa economia aberta, com tantos destinos mais aprazíveis para o seu dinheiro, porque haveriam de ser masoquistas e insistir em aplicá-lo onde e com quem os maltrata?
Mas os problemas da quase destruição do sector imobiliário não se ficarão por uma simples retração do investimento nacional e estrangeiro. Irão mais longe e mais fundo. É que, muitos dos portugueses que nele apostaram, contraíram empréstimos bancários para adquirirem os seus imóveis e criarem os seus negócios. Nada aprendendo com a crise de 2008, os nossos governantes parecem ignorar que os bancos, cujas falências eles sempre amparam com o dinheiro dos nossos impostos, estão profundamente pendurados no crédito imobiliário, como estavam nessa outra crise, boa parte dela também com origem aí. Esquecem-se que o turismo alimentou o país nos últimos dez anos e que muito dele utilizava os serviços deste sector. Desconhecem que o emprego cresceu graças a ele e não às suas mirabolantes políticas de aumentos de cêntimos das pensões e dos salários dos funcionários públicos. Que, em torno destas duas actividades conexas – imobiliário e turismo -, se desenvolveram a restauração, a hotelaria, a construção civil e múltiplas pequenas e médias empresas de toda a espécie de serviços. Dito de modo mais claro, que o país estancou a crise de 2011 e voltou a crescer devido a quem se dispôs a investir, num momento difícil, no imobiliário e no turismo, e não a um Estado completamente falido.
Hoje, já depois da quebra do 2º semestre de 2019, o investimento imobiliário não estará a zero, mas não andará muito longe disso. Com essa quebra, que, é bom realçar, é muito anterior à pandemia, e o desaparecimento abrupto dos turistas provocado pelo vírus – o que certamente alegrará os inúmeros patetas que achavam que as nossas cidades estavam a ser sequestradas por invasores alienígenas –temos uma combinação explosiva para a nossa rudimentar economia. Com uma agravante: quando o vírus estiver vencido, poucos voltarão a acreditar no Estado Português para se disporem a investir no sector que foi determinante para o relançamento económico.
Preparem-se, pois, porque aquilo que sempre desejaram vai mesmo acontecer: o investimento imobiliário vai parar e os turistas desaparecerão por muito tempo. Haverá casas vazias a rodos e os estrangeiros serão avis raras do Jardim de um Éden de que nos restará somente a memória. Depois, quando vierem queixar-se da “austeridade”, a tal que o António Costa das “cativações” jamais aplicará, lembrem-se do que lhe andaram a pedir para as actividades económicas que nos deram de comer na última década.