Foram mais de 4 anos de um pesadelo coletivo que insistia em não terminar. E, ainda assim, seguimos como nas madrugadas em que despertamos de um sonho ruim mas ainda não nos sentimos seguros para dormir outra vez, com medo do pesadelo continuar assim que fecharmos os olhos.
As violências constantes, as aberrações morais e éticas, o negacionismo, o vexame diplomático e a gestão criminosa da pandemia foram apenas alguns dos temas que levaram os brasileiros de algum bom senso a estar perto de colapsos emocionais ao longo do governo Bolsonaro.
Mas parece que – lentamente – o pesadelo vai perdendo força. Como bem disse meu amigo Gregório Duvivier, vencemos de forma democrática ou eleição nada democrática, vencemos um golpe em curso, vencemos a milícia sem precisar dar um único tiro. E isso é enorme.
Todavia, Bolsonaro não poderia encerrar seu mandato de forma digna – seja por falta de vontade ou simplesmente por falta de capacidade. Não poderia reconhecer uma derrota de cabeça erguida e, como em qualquer nação civilizada, cumprir o protocolo e fazer a entrega da faixa presidencial no dia primeiro de janeiro de 2023.
No dia 30 de dezembro, Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos, sem o encerramento formal de seu mandato. O porquê? Alguns dizem que por uma negativa moral de passar o poder (mas isso poderia ser feito sem precisar fugir do país, não?). Outros dizem que algo grave pode acontecer no dia da posse e que ele não quer ser acusado de participação em (mais um) ato criminoso. Outros dizem que é pura e simplesmente um ato de fuga em virtude da perda do foro privilegiado e das inúmeras acusações que despencarão sobre ele.
Nenhum de nós esperava um fim digno do mandato de Bolsonaro. Ninguém esperava uma conduta virtuosa, nem mesmo uma conduta honrada. Virtude e honra são palavras que não conseguem dividir uma frase com o ex-presidente brasileiro. Bolsonaro, covarde, está na Flórida – de onde duvido que retorne. Mas o Brasil, lentamente começa a florir outra vez. Com medo, mas cheio de vontade de apagar o cinzento e de voltar a vibrar em cores alegres.