Essa não é uma carta de boas vindas a um novo governo. É uma carta de boas vindas a um país que recupera seu rosto, ainda que por maioria apertada. Uma carta simplesmente para celebrar o fim de uma página infeliz da nossa história, como diria Chico Buarque.

Bem vindo de volta, Brasil. Um país que não quer viver de armas, de ameaças constantes, sejam elas entre nações, entre oponentes ou entre pessoas próximas. Um país que não quer viver com medo de levar uma bala na testa por uma briga de trânsito, que não quer desconfiar o tempo inteiro que a pessoa ao lado pode ser truculenta e letal.

Bem vindo de volta, Brasil. Um país que não que fechar os olhos para a miséria, que não quer maquiar a fome, que não quer tolerar pessoas morrendo por falta de teto, de cobertor, de comida, de água potável, de saneamento básico. Um país que enxerga o problema, assume suas responsabilidades e toma atitudes frente a isso.

Bem vindo de volta, Brasil. Um país que não quer ser homofóbico, que não se conforma com os índices de violência contra a população LGBTQIAP+, que se orgulha da sua diversidade. Um país que acredita na pluralidade das formas de ser, que deseja que todos existam nas suas formas, respeitados e em paz.

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Bem vindo de volta, Brasil. Um país que acredita na igualdade de gênero, que reconhece suas tantas falhas, mas luta pelo combate à desigualdade, à violência e à misoginia. Um país que tem asco de estupradores ao invés de abraçá-los e de dizer que eles são bem vindos e que a dignidade das mulheres é relativizável. Um país que sabe que meninas de 14 anos são meninas e que assim devem ser tratadas.

Bem vindo de volta, Brasil. Um país que ser bem visto internacionalmente, que preza a diplomacia e o multilateralismo. Um país que respeita as outras culturas, que respeita as normas internacionais e que quer contribuir para um mundo menos belicoso, menos conflituoso e mais justo.

Bem vindo de volta, Brasil. Um país que respeita a Amazônia, que não quer assistir a mais desmatamento, que não vende suas florestas, que respeita o direito à vida, mesmo que não humana. Um país que não brinca com a saúde, que não menospreza as dores alheias, que acredita em vacinas e em prevenção.

Bem vindo de volta, Brasil. Você ainda não está totalmente seguro. Você está dividido e nada parece muito estável. Mas é bom ter você de volta. É bom saber que as cores da nossa bandeira começam a ser resgatadas. O verde das nossas matas será protegido e não dizimado. O amarelo do nosso ouro será dividido e não orçado em segredo. O azul do nosso céu será para todos e não apenas para os que acreditam num único deus, numa única forma de ser e num falso amor, que tem mais de armas do que de abraços.