A geringonça morreu. E não morreu por divergências políticas insanáveis entre os seus protagonistas. Morreu por calculismo dos que decidiram a morte desta nunca antes testada solução governativa, apoiada nos dois partidos de extrema-esquerda que se condenam, a partir de agora, a serem para sempre grupos de protesto, jamais de governação outra vez.

Fica a saber também o PS que não pode voltar a fazer um governo seu depender de qualquer um destes dois partidos, o mais vetusto (e, na minha opinião, respeitável, consistente e coerente) PCP, e a esquerda urbana-chic caviar do Bloco de Esquerda.

O eleitorado, o povo português, mostrará a estes dois partidos que deixa de contar com eles? Serão eles reduzidos à mínima expressão?

Avancemos, seguindo o leque político, para o PS. Não está muito chateado por este chumbo, nem pela queda do Governo. António Costa acredita que poderá atingir a maioria absoluta, deixando de precisar das “remoras” de esquerda que lhe andaram coladas nos últimos seis anos.

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Acredito que só este frio calculismo terá levado o ainda primeiro-ministro a “deixar correr o marfim”, esticando a corda com a perfeita consciência de que ela ia romper.

É mesmo, só pode ser, esta vertigem de maioria absoluta – ou de ficar só a depender do apoio dum PAN, por exemplo – que anima Costa. Pelo caminho, e se a conseguir alcançar, não só se livra dos grilos falantes à sua esquerda, como aproveita para arrumar a casa governamental (Medina terá, obviamente, lugar ministerial, veremos o que acontece com rivais internos e ministros contestados, como o inefável Cabrita).

À esquerda, Costa não voltará a procurar, e mesmo que procure não vai encontrar, apoio. A geringonça morreu mesmo. A confiança entre os parceiros soçobrou.

E à direita? PSD e CDS vivem em tumulto e sobressalto, com lideranças desafiadas, contestadas e em risco.

“Chicão”, no CDS, terá dificuldades grandes para conseguir derrotar o challenger Nuno Melo que, por seu lado, caso triunfe, será a liderança menos iluminada (para ser simpático) da história do CDS.

A memória e o legado político de homens como Adelino Amaro da Costa, Lucas Pires, Adriano Moreira ou mesmo Paulo Portas, pessoas duma craveira intelectual superior, não mereciam isto, ver o seu partido condenado a uma escolha entre “Chicão” e Nuno Melo.

Ganhe quem ganhar, o CDS continuará a encolher, até que se consiga encontrar de novo a si próprio, provavelmente recorrendo a alguns dos seus militantes que podem ressuscitar a Democracia Cristã, como António Lobo Xavier ou Pires de Lima. Se eles estiverem para isso, claro.

Não creio que o caminho de Adolfo Mesquita Nunes, uma outra possibilidade para resgatar o CDS da morte anunciada, se possa continuar a fazer dentro do CDS, vejo-o cada vez mais num projeto como a Iniciativa Liberal.

No PSD, o processo é idêntico. Rui Rio e Paulo Rangel já alinham exércitos, limpam armas, cavam trincheiras e acumulam munições.

Com a vitória de Rui Rio, será ainda possível encontrar uma solução futura de governo de bloco central, uma coligação PS/PSD que poderia até ser uma boa solução para a gestão da enxurrada de fundos europeus que aí vem. Não é por convicção minha, mas poderia ser.

Com Paulo Rangel, essa solução, simplesmente, não será possível.

Quanto a Rui Rio ou Paulo Rangel, de qualquer modo é minha absoluta convicção que a qualquer um deles falta algo daquilo que é preciso para ganhar umas eleições legislativas.

Não acredito que o PSD consiga, nas próximas eleições, mais votos que o PS: é um feeling, confirmado pelas sondagens.

Nesse caso, e se o PS ganhar as eleições mas não conseguir a maioria absoluta (sozinho ou com o PAN), como irá governar este País, descartando desde já a hipótese de nova geringonça com BE e PCP ou com apenas um deles?

Temos depois a extrema-direita do Chega. Infelizmente, a probabilidade de a representação parlamentar deste partido unipessoal crescer é grande. Estamos, neste campo, já no nível tóxico da política, a falar de um conjunto difuso de ideias, muitas delas completamente trogloditas, cuja defesa embaraça a casa da Democracia. Mas, lá está, a própria democracia também tem destas coisas, de dar espaço e tempo a estes tristes.

Para o fim, falo do partido que não é de esquerda, nem de direita. O partido que é pela máxima liberdade dos indivíduos em todos os aspetos das suas vidas.

Mas que não é o papão que muitos querem fazer crer. Que está muito longe de defender o fim do Estado, da autoridade do Estado como necessária regulação da vida em comunidade. Que está muito longe de querer extinguir os apoios necessários para que ninguém seja excluído da possibilidade de poder viver e desenvolver-se com dignidade – com educação, saúde, segurança, trabalho, rendimentos e propriedade – sem a qual não há verdadeira liberdade.

A Iniciativa Liberal.

Este é o único partido que tem um real projeto de mudança, de fazer diferente, de alteração da receita de sempre, de libertação do Estado de todos os que o sugam e dele dependem.

Ao centro, claramente ao centro, pela liberdade, pelo desenvolvimento individual, mas com total respeito pelas identidades e livres opções de cada um de nós, com humanismo e universalismo.

Chegou a hora de mudar. Ou de deixar tudo na mesma. Os portugueses é que vão escolher.