As expectativas face à Cimeira de Minsk, ou melhor, face ao encontro entre os Presidentes da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Petro Poroshenko, eram muito poucas e as longas horas de conversação não foram suficientes para sequer dar início a um sério processo negocial, com vista a pôr fim a um conflito que já matou quase 2.500 pessoas.

É de salientar que o Presidente Putin pouco tempo prestou ao conflito armado no leste da Ucrânia, preferindo concentrar-se nas perdas económicas da Rússia se Kiev avançar com o cumprimento do Acordo de Parceria com a União Europeia.

Mais, voltou a insistir na tese de que Moscovo nada tem a ver com a guerra civil no país vizinho: “A Rússia não pode falar de condições do cessar-fogo entre Kiev, Donetsk e Lugansk. Isso é um assunto da própria Ucrânia”.

É sabido que milícias pró-russas apenas aceitam dialogar com Kiev na base do reconhecimento da independência da chamada Novorrosyia, enquanto as autoridades ucranianas classificam os separatistas como terroristas e não querem ouvir falar em federalização do país. Nesta situação, Putin diz-se disposto a apoiar o processo de paz, “se ele começar”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A julgar pelas declarações dos líderes dos dois países, o único acordo possível foi o de criar uma comissão para estudar a possibilidade do encerramento da fronteira russo-ucraniana, de forma a que não entrem armamentos ou homens do país vizinho no território ucraniano. Ora é sabido que se Moscovo realmente quisesse resolver esse problema, ele talvez nem sequer teria surgido -, os separatistas fazem o que o Kremlin manda.

Catherine Ashton, que representava a UE nas conversações, tal como qualquer pessoa minimamente informada, compreende que Putin está a fugir à verdade quando diz que nada tem a ver com a situação no leste do país vizinho e que os 10 militares russos (paraquedistas profissionais bem treinados) capturados na véspera, em território ucraniano, “apenas se enganaram” quando patrulhavam a fronteira. A imprensa da oposição russa está repleta de artigos sobre dezenas de soldados russos mortos e feridos nos combates na Ucrânia.

Neste caso, não se trata da opção entre “uma má paz e uma boa guerra”, mas do alastramento de um sério conflito armado no seio da Europa. Mas a posição da UE continua a não ser consolidada, ouvindo-se vozes como a da chanceler alemã, Angela Merkel: “Claro que o povo ucraniano deve ter a possibilidade de escolher o seu caminho, mas isso (as acções ucranianas) não deve prejudicar a Rússia”. Em Bruxelas parecem continuar a existir dúvidas de quem é o agressor e a vítima neste conflito, que se deverá arrastar por muito tempo e não permitir a realização de eleições parlamentares, marcadas para 26 de Outubro.

Então, Moscovo terá mais um argumento para apoiar o separatismo e manter a instabilidade da Ucrânia. Até que ela se afunde na falência económica.