Para António Costa, é sempre 2012. O tempo não passou, nada aconteceu. Esta semana, no parlamento, disseram-lhe que a inflação pode tirar aos empregados e aos pensionistas um mês de rendimento em 2022. Que respondeu ele? Falou dos “cortes da troika” de 2012. O mesmo, aliás, fez o líder da sua bancada parlamentar. Perdão? Que se passa aqui? Isto: depois de sete anos no poder, os socialistas não têm mais nada para nos dizer, a não ser que não estiveram no governo durante o ajustamento, de que aliás têm sempre o cuidado de omitir José Sócrates. Enquanto o PS governar, desconfio que será assim. Mude o mundo o que mudar, aconteça o que acontecer, venham guerras, pandemias e inflações, todos os anos serão 2012, e nada mais haverá para discutir do que o aumento do IVA de Vítor Gaspar. Bem-vindos ao parque jurássico mental de António Costa.

Sobre a inflação, o governo propõe-se “devolver” aos consumidores, através de subsídios aos preços, uma parte do aumento da receita fiscal. É um paliativo, não é um remédio. Infelizmente, ninguém conhece meios de domar a inflação que não sejam dolorosos, como o agravamento dos juros decidido agora pelo BCE. Mas além do que o governo pode fazer, é importante discutir o que o governo poderia e deveria ter feito.

A inflação é tanto mais cruel quanto mais baixos são os salários e as pensões. Uma coisa é ter de passar pela inflação com o nosso nível de rendimentos, outra é passar com um nível mais elevado. A governação socialista, ao provocar o empobrecimento do país, garantiu que a inflação vai agora doer mais em Portugal do que noutros países mais ricos. A questão é saber se tinha de ser assim. Para perceber isso, temos de sair do “tempo da troika” em que o governo quer fechar à chave o debate público em Portugal. Entre 2015 e 2019, Portugal teve provavelmente a conjuntura financeira e económica mais favorável da sua história, com juros baixos, apoios europeus, e investidores externos interessados. Mas a prioridade dos governantes socialistas, então apoiados na extrema-esquerda anti-capitalista e anti-ocidental, foi manter o poder através da expansão e clientelização dos dependentes do Estado. Precisaram, para esse efeito, de impor constrangimentos fiscais e regulatórios que, como seria de esperar, impediram os portugueses de aproveitar as oportunidades, como outros europeus aproveitaram. Por isso, houve países que convergiram, e Portugal não. Tinha de ter sido assim? Caímos, como agora ensina a comissária europeia Elisa Ferreira, na “armadilha do crescimento”, isto é, na dificuldade de continuar a progredir, uma vez passada a fase inicial de desenvolvimento? Se há armadilha, é a criada por um partido que não quer abdicar do poder que tem sobre a sociedade portuguesa.

Apertado na Assembleia da República,  António Costa reconheceu, por entre as graçolas que com ele se tornaram costume parlamentar, que “o país está obviamente pior do que o ano passado”. Não, Dr. Costa, não está só pior do que o ano passado, como aliás as oposições lhe mostraram. O empobrecimento não se mede só pela percentagem do que o nosso PIB vale em relação à média europeia. Mede-se também pela incapacidade, que o poder socialista gerou e de que vive, de admitir que, com as devidas reformas e o devido esforço, poderíamos melhorar a nossa situação. Nesse sentido, o país está obviamente pior do que alguma vez esteve, mesmo quando as dificuldades também eram grandes. Em 1975, num país a aproximar-se da guerra civil, Mário Soares fez-nos acreditar na democracia pluralista. Em 1985, ao fim de dez anos de crises, Aníbal Cavaco Silva fez-nos acreditar outra vez no crescimento e na convergência económica. Tivemos então líderes políticos que não nos deixaram desistir. Não tivemos essa sorte com António Costa. Entre 2015 e 2019, perante a mais favorável das conjunturas, António Costa fez-nos acreditar que não nos deveríamos mexer, a não ser para pedir um subsídio ou um emprego do Estado. Se Moisés tivesse sido como António Costa, o povo eleito teria ficado no Egipto.

P.S. Pense-se o que se pensar de André Ventura, o papel do presidente da Assembleia da República não é o de comentar os deputados, seja em nome do que for. É uma falta de respeito pelo parlamento. Porque para reagir ao que um deputado diz, estão lá os outros deputados. Se o presidente da Assembleia da República quer preparar a sua candidatura à presidência da república, tornando-se, como outros prováveis candidatos, comentador do regime, então que deixe a Assembleia da República e vá para as televisões, que é onde os outros comentam.

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