Sendo o último colunista a falar deste tema, sinto-me como aquele hóspede que chega tarde ao buffet do pequeno-almoço do hotel e já não há nada. Só fiapos de ovos mexidos, mini-pacotes de geleia e aqueles tomates moles e húmidos, em que ninguém toca. Mas um homem tem de comer.

A resposta que António Costa deu a Assunção Cristas já foi esmiuçada. Resta-me falar da resposta que António Costa não quis dar. Quando Cristas perguntou se condenava o vandalismo e apoiava a polícia, colocou Costa numa posição difícil. Obviamente, o PM condena o vandalismo e apoia a polícia. Cristas sabe disso. E sabe que, se Costa o admitisse, estaria implicitamente a criticar a postura buéda-jovem-a-bófia-não-manda-aqui do Bloco de Esquerda. Sob pressão, não querendo melindrar o aliado, Costa disfarçou com a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

Como é que essa coisa lá foi parar? O que aconteceu foi o seguinte: um dos jovens acólitos esquerdistas do PM recomendou-lhe: “Dr. Costa, temos de aproveitar isto das cenas identitárias. O racismo está na moda. Quando tiver oportunidade, enfie aí uma referência à discriminação que sofre devido às suas origens exóticas”. E Costa enfiou. Foi na resposta a Cristas, mas podia ter sido noutra qualquer. Se um deputado lhe perguntasse pelo atraso no novo aeroporto, Costa responderia: “Novo aeroporto? Está a mandar-me para a minha terra?”. Se outro criticasse o aumento de impostos, Costa diria: “Ai, os indianos são gananciosos, é isso?” Se alguém lhe apontasse o seu contorcionismo político: “Insinua que tenho a coluna maleável por causa do yoga?”

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