É o pior número desde 8 de maio. Em 24 horas houve mais 451 infetados em Portugal e seis mortos”, notícia do site do Observador, a 26 de Junho.

Vou tentar não responder directamente ao título deste artigo, mas apenas apresentar alguns dados inquestionáveis e não controversos, respeitantes única e exclusivamente ao nosso Portugal, deixando depois essa resposta à consideração do leitor.

O impacto de uma doença infecciosa numa sociedade vai depender da sua transmissibilidade (que irá condicionar o número de pessoas doentes) e da gravidade da infecção nas pessoas que a adquirem (indicado pelo número de mortos e de doentes com gravidade suficiente para necessitarem de internamento em enfermaria ou UCI).

Ah! É verdade! O impacto da doença na sociedade também depende das alterações causadas pelas medidas que forem implementadas para o seu controlo, e das consequências do medo que for induzido nas pessoas.

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No dia 25 de Junho, existiam 40.415 “casos confirmados” em Portugal. A comunicação social chama-lhes quase sempre “infecções” (como na notícia acima descrita), mas a DGS tem o cuidado de o não fazer. “Casos confirmados” é o termo invariavelmente utilizado pela DGS.

O que é um “caso confirmado”? Bem, de acordo com a norma da DGS 02A/2020, um caso confirmado é um “caso com confirmação laboratorial de SARS-CoV-2, independentemente dos sinais e sintomas”. Ou seja, qualquer pessoa que tenha um teste que se confirme ser positivo, independentemente dos seus sinais e sintomas, é classificada como “caso confirmado”.

Mas “caso confirmado” de quê? De doença Covid-19? Mas Covid-19 é uma doença, ou seja, é uma situação em que existem sinais e sintomas da infecção pelo SARS-CoV-2. Assim sendo, a presente definição de “caso confirmado” possui, em si mesma, uma enorme e grave incongruência, pois permite classificar como “caso confirmado” (pressupõe-se que de Covid-19) alguém sem qualquer manifestação de doença, em plena saúde, apenas com um teste positivo.

Ou será esta definição de “caso confirmado” não uma definição de “caso confirmado de Covid-19” mas afinal uma definição de “caso confirmado de infecção pelo SARS-CoV-2”? Porém, também aqui existe potencial para erro. Como já foi referido anteriormente, é possível existirem testes positivos sem haver uma infecção activa e viável pelo SARS-CoV-2. Por isso, esta definição também contém em si um enorme potencial para erro, se considerada como definição de “caso confirmado de infecção pelo SARS-CoV-2”.

Sendo assim, estes 40.415 “casos confirmados” correspondem efectivamente a que número de pessoas com a doença Covid-19? Bem, isso seria fácil de saber se, de cada vez que apresenta os dados sobre os novos “casos confirmados”, a DGS também especificasse quantos desses “novos casos” não têm qualquer sintoma.

Pois é, mas isso a DGS não faz. Sabemos que 11.316 apresentaram febre, 14.954 tiveram tosse e que em 4.041 existiu dificuldade respiratória. Mas, como não é dada informação de quantas pessoas tiveram os vários sintomas em simultâneo, não conseguimos saber o número de indivíduos sem qualquer sintoma, ou seja, sem doença. Não conseguimos, assim, responder com exactidão à pergunta: os 40.415 “casos confirmados” correspondem efectivamente a quantas pessoas com a doença Covid-19? São “casos confirmados” de quê? Ninguém sabe

Em alternativa, e entrando já nas consequências da infecção, podemos avaliar quantos destes 40.415 “casos confirmados” tiveram sinais, sintomas e outras consequências da infecção suficientes para justificarem um internamento hospitalar.

Pois bem, no dia 25 de Junho, e de acordo com o primeiro-ministro, sabemos que, dos “casos  confirmados” ainda não recuperados, 96,5% se encontravam em casa, 2,9% estavam internados em enfermaria e 0,6% necessitavam de cuidados Intensivos. O total perfaz exactamente 100%, pelo que calculo que estas contas estejam certas.

Se aplicarmos estas percentagens à totalidade dos 40.415, quer dizer que 39.000 destes “casos confirmados” ficaram em casa, sendo que 1.172 foram internados e que 242 necessitaram de Cuidados Intensivos. Estes últimos números não estarão completamente correctos, tendo em conta que estas percentagens, calculadas hoje, provavelmente não foram as mesmas ao longo destes três meses. No entanto, servirão para dar uma ideia relativa do número de “casos confirmados” que ficaram em casa, que foram internados e que necessitaram de cuidados intensivos.

Por fim, e em relação à mortalidade relacionada com esta doença, vou fugir propositadamente a toda a controvérsia relacionada com a correcta ou incorrecta classificação das causas de morte, bem como da idade avançada, fragilidade e curta esperança de vida expectável da maioria dos falecidos. Vou cingir-me aos números. No dia 25 de Junho, dos 40.415 “casos confirmados”, tinham falecido 1.549, ou seja, 3,8%.

Para comparação, em 2019 morreram 111.793 indivíduos em Portugal. Ou seja, estes 1.549 mortos com teste positivo corresponderiam a 1,4% da mortalidade total em Portugal em 2019.

Também para comparação, cumpre referir que, de acordo com a DGS, terão morrido mais de 3.300 pessoas de gripe na época de 2018-2019.

Em conclusão: até ao dia 25 de Junho de 2020, em Portugal, houve 40.415 “casos confirmados” (0,39% da população portuguesa). Não sabemos quantos destes “casos confirmados” correspondem efectivamente a doença Covid-19 ou serão apenas testes positivos em pessoas sem doença. Sabemos que um número aproximado de 39.000 destas pessoas terão ficado no seu domicílio e que mais de 1.000 terão sido internadas. Mais de 200 pessoas necessitaram de admissão em cuidados intensivos. Morreram 3,8% destes “casos confirmados”, num total de 1.549 pessoas, o que corresponde a cerca de 1,5% da mortalidade anual total no nosso País, e a menos de 50% das mortes por gripe na última época gripal relatada.

A partir destes números, cada um de nós poderá fazer a sua avaliação pessoal da gravidade desta doença.

A questão do impacto, não da doença, mas das medidas e do medo induzido, terá que ficar para outros mais habilitados.