De acordo com os dados da COVID-19 coletados em 106 países com uma população total de 6.4 biliões, as crianças e adolescentes menores de 20 anos contabilizam 19.8 milhões de casos, o que corresponde a 16% da população nessa faixa etária (UNICEF, Novembro de 2021). Os casos em crianças dos 5 aos 9 anos, e dos 10 aos 14, representam respetivamente 3.2% (cerca de 3.9 milhões) e 4.5% (cerca de 5.6 milhões) desses intervalos de idades.

Nos Estados Unidos, até 9 de Dezembro registaram-se cerca de 7 milhões de casos em menores de 20 anos(17.2% da população), e 1.9 milhões de casos, 8300 hospitalizações e 146 mortes na faixa etária dos 5 aos 11 anos (dados até 17 de Outubro). A taxa de hospitalização foi 10 vezes superior em adolescentes não vacinados comparativamente a adolescentes com esquema completo de vacinação, sendo que as projeções indicam que a vacinação irá diminuir o número de casos, hospitalizações e internamentos em UCI. Na Austrália, mais de um quinto dos casos referem-se a menores de 12 anos. A aprovação pela Food and Drug Administration (FDA) da vacina Pfizer-BioNTech para uso de emergência em crianças dos 5 aos 11 anos, a que se seguiu a recomendação para aprovação pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), foi fundamentada no estudo sobre a vacinação em 2268 crianças espalhadas pelos Estados Unidos, Finlândia, Polónia e Espanha, envolvendo hospitais, universidades e centros de investigação desses países, para além da Pfizer e da BioNTech. Também com base nesse estudo seguiram-se as recomendações para aprovação pelas agências europeias European Medicines Agency (EMA) e European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC). De acordo com a ECDC, os dados referentes a dez países da Área Económica Europeia indicam um aumento do número de casos neste grupo etário de 5.9 por 100.000 para 65.0 por 100.000 pessoas, entre 5 de julho e 3 de outubro de 2021, com reflexo nos internamentos que no mesmo período aumentaram de 0.025 por 100.000 para 0.24 por 100.000, o correspondente a um aumento de cerca de 9x. Com base nestes dados foi feita uma estimativa do risco de doença muito grave entre os doentes hospitalizados, tendo sido determinado um risco de cerca 10.5% entre estes doentes.

Em Portugal, de acordo com o Relatório da Comissão Técnica de Vacinação contra a COVID-19 (CTVC), desde 2 de Março de 2020 até 4 de Dezembro de 2021 registaram-se cerca de 175.000 casos de infeção em menores de 18 anos, sendo cerca de 69.800 em idades compreendidas entre 5 e 11 anos. Durante 2021, 6.9% do total de casos de COVID-19 ocorreram em crianças dos 5 aos 11 anos, uma percentagem que apresenta tendência crescente. Esta faixa etária é também a que apresenta a maior subida do número absoluto de casos em idades pediátricas. Até 3 de Novembro, em 217 crianças dos 5 aos 11 anos hospitalizadas com COVID-19 registaram-se 30 casos que requereram cuidados intensivos. A 15 de Dezembro registou-se o sexto óbito em menores de 20 anos. Na avaliação de risco-benefício para a situação epidemiológica em Portugal estima-se que uma cobertura vacinal de 85% das crianças com 5 a 11 anos evitaria até Março do próximo ano 51 hospitalizações e 5 internamentos em UCI. O relatório da CTVC incorpora ainda abundante informação das agências internacionais sobre os benefícios da vacinação em crianças e adolescentes: possibilidade de redução do risco da Síndroma Inflamatória Multissistémica Pediátrica; diminuição do risco de miocardites e pericardites que ocorrem em crianças com COVID-19; redução do Rt em 14.7% em países com elevada cobertura vacinal; e redução do risco de infeção por SARS-Cov-2 e risco de Condição Pós-COVID-19.

Estes dados ilustram a gravidade crescente da COVID-19 em crianças e adolescentes, nomeadamente na faixa etária dos 5 aos 11 anos, e a evidência científica que fundamentou a decisão da vacinação em inúmeros países. No entanto, temos vindo a assistir a alguns profissionais de saúde, incluindo pediatras, que na Comunicação Social negam esta evidência e especulam sobre os riscos ignorando os benefícios. São os mesmos que no meio de alusões demagógicas ao juramento de Hipócrates, violações dos direitos humanos e liberdades civis, já se tinham pronunciado contra a vacinação nos adolescentes dos 12 aos 18 anos com o mesmo tipo de argumentos. Vêm-nos dizer que a vacinação deve ser substituída pela imunização natural, teoria que nos traz à memória a farsa da Declaração de Great Barrington que os movimentos negacionistas saudaram efusivamente em Outubro de 2020 e que rapidamente caiu no esquecimento. Negam o aumento do número de casos porque, dizem, um teste positivo não significa que a criança infetada seja doente ou transmita o vírus, quando está bem demonstrado a capacidade das crianças transmitirem a infeção por SARS-CoV-2 a indivíduos de diferentes grupos etários. Mas quando ouvimos dizer que não se devem vacinar crianças saudáveis, aí ficamos na dúvida se sabem para que serve uma vacina.

Face às dúvidas que ainda persistem em alguns progenitores em vacinar os seus filhos, deveria a Direção Geral de Saúde empenhar-se numa campanha mediática pedagógica para promover a vacinação em crianças. Só com informação e educação se consegue combater a ignorância.

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