Paris, a cidade luz, é tida como uma das cidades mais visitadas no mundo, a par de Londres, Roma ou Nova Iorque. Nos céus, perto dos aeroportos, os aviões fazem literalmente fila para aterrarem na pista. O aeroporto de Lisboa, novo destino turístico na moda, está saturado e a rebentar pelas “costuras”.
Na torre Eiffel em Paris, no Coliseu em Roma ou na basílica de Santa Sofia (mais conhecida por Hagia Sophia) em Istambul, os turistas apressam-se para as longas filas a fim de visitarem os ex-libris destas cidades.
As ruas em Florença e de Bruxelas enchem-se de gente que misturam turismo e compras nas lojas de marca que pupulam os seus centros histórico. Até locais psicologicamente mais sensíveis (se é que assim se poderá designar) como Auschwitz se revelam destinos cada vez mais concorridos. Não se consegue desfrutar de um lugar quando há muita confusão.
Há cidades que querem impor limites à entrada de turistas. Os seus habitantes começam a sentir o peso desta fúria desmedida que traz não só mais movimento, mais barulho, mais confusão mas também o aumento do custo de vida.
A massificação do turismo por todo o mundo é uma realidade das últimas décadas (é o sector que regista maior crescimento) aumentando de forma exponencial. Como em tudo, todo o lado negativo tem o seu inverso, o lado positivo, “o outro lado”.
Muitos outros locais existem para lá do rebuliço turístico. Muitos outros locais estão por descobrir.
Em Florença, basta-nos passar para a margem esquerda do rio Arno, afastando-nos um pouco do Palácio Pitti encontramos ruas que calmamente nos transportam para tempos medievais. É nesta margem que podemos visitar a basílica do Espírito Santo (projectada por Filippo Brunelleschi, o mesmo arquitecto do Duomo de Florença), de frente para uma pequena praça onde agricultores vendem os seus produtos ainda frescos.
A basílica é belíssima, enaltecida pelo seu baldaquino e colunas laterais, no seu interior podem ser admiradas obras de arte de Michelangelo, Bernardo Buontalenti, Filippino Lippi entre outros artistas de renome.
Em Roma, e apesar de muito próximo do centro turístico, no corso Vittorio Emanuele II, parece que estamos à margem das confusões. Aqui podemos visitar a imponente, e ao mesmo tempo discreta, igreja barroca de Santa Maria in Vallicella. Assim que entramos somos recebidos pela “Deposição de Cristo” uma estrondosa obra de Caravaggio, pintado originalmente em 1603 propositadamente para esta capela (uma das peças-de-altar mais admiradas do pintor) – o original está na Pinacoteca Vaticana um dos museus do Vaticano.
O interior da cúpula central está coberta pela espantosa pintura da Trindade (1647 – 1651) do artista Pietro da Cortona.
Espantoso é também o painel pintado por Rubens para o altar-mor que, a certa hora do dia e com a incidência da luz do sol revela alguns segredos…
Mudando de continente, rumamos a Marrocos onde as cidades de Marraquexe e Casablanca fervilham de turistas sedentos por conviver com as tradições muçulmanas ou para rumar a Saidia a fim de desfrutar de um qualquer resort turístico.
Longe desta confusão, encontramos Fez (a Este do país), uma das cidades imperiais, carregada de cultura berbere e árabe, simbolismos e tradições islâmicos, ainda, sem muita correria turística. A sua medina, a maior e mais antiga do mundo, parece ter parado no tempo. Entrar nela é como recuar aos tempos medievais.
A vida pulsa dentro da medina. É possível ainda ver, na sua forma mais pura, a mais pequena padaria onde o padeiro põe o pão a cozer no forno de lenha, o tratamento e curtição de peles ou a transformação do latão em verdadeiras obras de arte.
Até mesmo no nosso país existem mais casos. Mesmo aqui ao pé, a Serra da Estrela é outro exemplo curioso. É já natural que a partir das primeiras quedas de neve haja uma correria à Serra, mais propriamente à Torre. Para a maior parte dos portugueses a Estrela é inverno, Torre e neve.
Afastados desta tríade estão alguns dos locais mais belos desta montanha. O Covão da Ponte, por exemplo, onde o Mondego, acabado de nascer, traça a fronteira entre os concelhos de Gouveia e Manteigas e alimenta as culturas dos Casais de Folgosinho ou do arvoredo do belíssimo parque de merendas.
Longe dos luxos, é um óptimo ponto de partida para conhecer a Serra e alcançar o maciço central. De bicicleta ou a pé, principalmente no verão e primavera, o contacto com a natureza, as gentes e os últimos pastores da Estrela fazem esquecer os confortos dos hotéis.
Seguindo o Mondego, não muito longe dali, em Videmonte, há um pequeno aglomerado agrícola especial com casas de xisto. Aqui, para além da agricultura mais tradicional, ainda existe a pastorícia e uma das maiores manchas de azinheiras do Parque Natural.
Como em tudo, muitas vezes “no outro lado” revela-se o melhor.