A ida de Zelensky aos Estados Unidos para se encontrar com o presidente Biden, os governantes e os eleitos norte-americanos ao cabo de dez meses de combate ininterrupto confirma que se trata de uma terceira guerra mundial. Só tem o envolvimento directo dos dois contendores actuais – a Rússia invasora e a Ucrânia invadida – mas já envolve também alguns parceiros da Rússia e, frente a estes, a generalidade dos países da NATO, em especial os Estados Unidos e a Inglaterra em defesa da Ucrânia! O carácter mundial da guerra em curso deve-se, desde logo, à ameaça nuclear emitida repetidamente pela Rússia desde o primeiro dia da invasão da Ucrânia.

Dito ao invés, os dez meses que a actual guerra já durou poderiam, eventualmente, ter terminado com a derrota da Rússia se não fosse o risco de esta recorrer à nuclearização da guerra e à sua propagação ao resto do mundo. Ora, se há algo que ficou claro dos vários encontros de quarta-feira passada – sem falar daqueles que não foram publicitados mas adivinhamos – é que, a menos de serem atacados pela Rússia, o que não parece concebível, os Estados Unidos rejeitarão totalmente a possibilidade de ripostar ao eventual ataque nuclear com que a Rússia tem ameaçado a Ucrânia sem parar!

Significa isto que, a ser exacta a minha opinião acerca das intervenções de Biden durante a estadia de Zelensky em Washington, os Estados Unidos não se deixarão arrastar para qualquer recurso ao nuclear contra a Rússia mesmo no caso de esta perder a cabeça… Dito isto, na impensável hipótese de a Rússia recorrer ao nuclear contra a Ucrânia, como tem vindo a ameaçar repetidamente, então o mundo seria arrastado para uma efectiva 3.ª guerra mundial que todos proclamam não querer… mas!

Continuamos, pois, a ser todos prisioneiros da loucura em que Putin e os seus cúmplices nos meteram. Dito de outro modo, a eventual vitória da Ucrânia sobre a Rússia concebida por Biden e o seu pessoal político-militar sem recurso ao nuclear é improvável perante a actual relação de forças. Para que tal viesse a ocorrer, seria necessário que Putin e a sua gente fosse derrubada e definitivamente arredada do poder.

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Os serviços de informação norte-americanos têm com certeza uma ideia a este respeito mas não no-la dirão tão cedo. Na realidade, todos os seus cenários, sejam eles quais forem, apontam num único sentido: a insurgência de uma parte decidida da população russa, em especial a massa de jovens chamados para a frente militar com as previsíveis consequências, e finalmente a tomada do poder central contra Putin com o acesso da mal conhecida classe política russa ao controle temporário do poder.

Nada que os Portugueses e tantos outros «activistas» pelo mundo fora não tenham conseguido durante um tempo limitado e transmitido no final o poder legitimado pelas eleições aos candidatos à governação do país. Dito isto, aquilo que se conhece do imenso território que é a Rússia e da sua incipiente cultura democrática não augura nada de parecido com as experiências ocidentais.

Dada essa alternativa pouco convincente, o mais provável é, segundo os observadores estrangeiros e os refugiados, a ascensão ao poder de gente actualmente próxima de Putin que o tem acompanhado até aqui, incluindo militares e polícias oriundos do antigo KGB: os «SILOVIKI» de que já falei e susceptíveis de fazer uma «reconversão» compatível com a política internacional.

Primeiro que lá cheguemos – se alguma vez lá chegarmos, o que não é certo! – os custos humanos continuarão a ser pagos inteiramente pela Ucrânia por maior que seja a gigantesca despesa militar dos Estados Unidos e da NATO em geral. Tudo leva a crer, pois, que o preço a pagar pela Ucrânia continuará a ser enorme. A isso acresce, segundo o governo dos Estados Unidos deu a entender, não é provável que a Ucrânia recupere a totalidade dos territórios a recuperar, nomeadamente a Crimeia. Seja quem for que venha a tomar o poder na Rússia só muito dificilmente poderia perder a face se entregasse de volta toda a anterior Ucrânia.

Em contrapartida, é possível que, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia intervierem rápida e gratuitamente na reconstrução do anterior país, a nova Ucrânia acabará por se desenvolver como Portugal nunca se desenvolveu desde que se viu sem colónias… Basta ter presente que os famosos PATRIOT prometidos pelos Estados Unidos só chegarão em meados do ano que vem para concluir que será muito longo e penoso o percurso que falta ainda à Ucrânia percorrer, satisfazendo simultaneamente as exigências dos Estados Unidos por um lado e, por outro, as de quem vier a governar a Rússia acabada a guerra. Nesse sentido, o entusiasmo com a ida de Zelensky à América deverá ser não só contido no tempo como na solução final para o regresso à paz!