Bom, agora é aguardar quatro mesinhos pelas eleições. Ouvi várias pessoas indignadas com esta espera, mas para mim o único problema com a data escolhida pelo Presidente da República para o sufrágio é o facto de ser demasiado em breve. Ou melhor, para ser mais correcto, o meu problema com a data das próximas legislativas é existir uma. Quantas vezes a expectativa de termos um governo novo redundou na eleição de um executivo que realmente tenha trabalhado até muito bem?

De repente não vos ocorre nenhuma resposta, não é? Pois, está longíssimo de comprovado que, entre o deve e o haver, o contributo da esmagadora maioria dos governos que já colocámos à frente dos destinos de Portugal tenha sequer ficado a menos de vários anos-luz de positivo. Aliás, entre os tais deve e haver, o único resultado garantido é mesmo o país ter ficado a dever cada vez mais.

Quer isto dizer que estou pouco entusiasmado com as eleições de 10 de Março? Nada disso. Quer dizer, isso sim, que finda a legislatura do próximo governo tenho cerca de 98,7% de certeza que a Bulgária já nos ultrapassou em termos de PIB per capita. O que se revelará bastante deprimente, mas ainda assim menos deprimente do que continuarmos a acreditar que será das mentes brilhantes dos nossos políticos que sairão soluções geniais para tirar Portugal desta condição abjecta.

Quando na verdade aquilo que precisamos é que a classe política nos saia da frente e nos tire as mãos dos bolsos. Nos “tire as mãos dos bolsos” no sentido de deixarem de nos extorquir o que nos extorquem em impostos, bem entendido. Se mãos alheias estiverem em bolsos por outros motivos, isso é lá com o titular das manápulas e com o proprietário das calças. Longe de mim comentar tal. O que não deixarei passar em claro é o facto de ter sido, quase de certeza, a primeira vez que o verbo extorquir foi conjugado na terceira pessoa do plural do presente do indicativo na imprensa nacional e mesmo internacional.

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O que também deve constituir facto único no mundo é um professor universitário abandonar a vida académica para ser Ministro das Finanças e fazer o exacto oposto de tudo o que até aí defendeu publicamente; para depois ir directo para governador do Banco Central onde supervisionou medidas que ele próprio tomou enquanto Ministro das Finanças; para depois vir a público dizer ter sido convidado para passar de governador do Banco Central para Primeiro-Ministro pelo Presidente da República, sendo prontamente desmentido por este último. Senhoras e senhores, apresento-vos Mário Centeno e o rregular phunçionamento dâs inxtituissões demokrátiqas.

Garante do regular funcionamento das instituições democráticas seria, por certo, um eventual futuro primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos. Deus nos livre e guarde, mas foi um fraseado que me deu imenso jeito para colar com o parágrafo anterior. Pedro Nuno Santos que, para início de conversa e de criação de cenário de pesadelo para qualquer português com um QI maior de idade, apresentou a candidatura à liderança do PS.

E um primeiro facto que merece destaque na dita apresentação é a megalomania infra-estrutural. Que Pedro Nuno era um anunciador precoce de aeroportos já todos sabíamos. Agora, depois de ter chegado ao Largo do Rato acompanhado de Francisco Assis e de ter dito não querer “alimentar conflitos artificiais” com José Luís Carneiro, parece-me óbvio que Pedro Nuno quer construir pontes por todo o lado. Mas quão parecido com José Sócrates acreditará Pedro Nuno que os portugueses gostavam que ele fosse? Temo que muitíssimo.

Há no entanto uma coisa na qual Pedro Nuno Santos é único. Como o próprio revelou, é neto de um sapateiro. Portanto, se dúvidas havia que será a Pedro Nuno que vai servir o sapatinho de próximo líder socialista, estão dissipadas. Aquilo nem que seja um 36 e ele fique com os dedos todos encarquilhados, o homem tem de certeza sempre uma calçadeira à mão.