“The economy, stupid”, a célebre frase de Bill Clinton criada por James Carville, seu estratega-em-chefe, apontava para a importância da economia como eixo fundamental da campanha do (então) futuro Presidente dos Estados Unidos.

Tempos felizes, apesar de tudo: hoje, em contexto eleitoral ou pré-eleitoral, decisivo é o terrorismo. O terror, raiz da palavra, cega os aterrorizados – o medo tolhe a mente (“fear is the mind killer”, postulava, não sem razão, um conhecido romance há alguns anos) -, que fazem muitas vezes exactamente aquilo que os terroristas querem: destruir a sociedade que odeiam, seja materialmente, seja, sobretudo, na forma como vivem os seus cidadãos, na sua liberdade, no pathos que convocam e os faz retrogradar, socialmente, civilizacionalmente.

Não é fácil prever se os atentados de Manchester e de Londres terão um efeito decisivo nas eleições legislativas britânicas da próxima quinta-feira. Ainda hoje não sabemos de que forma o atentado de Paris de 20 de Abril, a poucos dias da primeira volta das eleições presidenciais francesas, influenciou o resultado.

Donald Trump, inventor do “tweetismo”, escreveu a esse propósito no dia 21 de Abril: “Outro ataque terrorista em Paris… As pessoas da França não vão aguentar muito mais disso. Terá um grande efeito na eleição presidencial”. Trump, apoiante confesso de Le Pen, acreditava que ela ganharia porque era “a mais dura com o terrorismo islâmico radical” e a respeito das fronteiras.

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Le Pen não ganhou. May ou Corbyn podem ou não ganhar. Macron pode ou não ter a maioria absoluta no parlamento francês.

Mas o terrorismo veio para ficar e, se é muito difícil vencê-lo, é impensável deixá-lo vencer.

Marine é dura com o terrorismo e adepta incondicional das fronteiras fechadas. Prometeu soluções radicais, garantindo que com as suas políticas o terrorismo seria derrotado. O mesmo assegura o Presidente norte-americano, que aproveitou o ataque de Londres para defender a sua lei (“executive order”) anti-imigração.

Mas Le Pen não ganhou e a lei de Trump continua bloqueada nos tribunais. O problema é de fundo, não se resolve com soluções avulsas, sejam muito ou pouco duras. As quatro medidas prometidas por Theresa May, depois de um sonoro “enough is enough” (“basta!”), por si só não resolverão nada, mas encerram pistas interessantes. São elas:

Lutar contra a ideologia do terror “afastando as pessoas” do extremismo islâmico, uma perversão do Islão “e da verdade”, atraindo-as aos superiores valores britânicos; regular o ciberespaço e acabar com a protecção que oferece aos terroristas; combater os refúgios seguros para o terrorismo no mundo real, seja combatendo o ISIS no Iraque e Síria, seja reduzindo internamente a tolerância para com o extremismo; rever a estratégia do contra-terrorismo, aumentando as penas até para os crimes menos graves relacionados com o extremismo islâmico.

Claro que não é suficiente. A própria May o reconhece quando acrescenta: “O conjunto do nosso país tem de se unir, de enfrentar este extremismo, e temos de viver as nossas vidas não numa série de comunidades separadas e segregadas mas como um Reino verdadeiramente Unido (“…one truly United Kingdom”)“.

Este é o ponto crucial. A luta contra o terrorismo, contra o mal que vem de dentro das nossas sociedades, porque é dentro delas que ele medra, não é fácil e não pode ser munição para o combate político interno, sobretudo se ele servir – ou pretender servir – ideologias nacionalistas proteccionistas e anti-globalistas. Porque o terrorismo derrota-se com bom senso e determinação.

O terrorismo derrota-se em três eixos fundamentais: com informação, visando as fontes que o alimentam; com integração, preferindo o “melting pot” (traduz-se por “integração”) ao multiculturalismo, a identidade que une à exclusão que odeia, nas “cités” como nos bairros monocultura (e monoreligiosos) de Maelbeek ou de Marselha; com desenvolvimento, vencendo o desemprego e a miséria, solo fértil dos “jihadismos”, violência da alma a brotar do corpo informe do subdesenvolvimento.

O terrorismo derrota-se, claro, com vigilância, de preferência multilateral, com a cooperação de polícias, serviços de investigação, agentes da justiça de todos os países afectados: a troca de informações, a partilha de dados, a colaboração efectiva na investigação, na apreensão e extradição dos activistas, são cruciais.

O terrorismo derrota-se “secando” as fontes de financiamento. Nem de propósito, o conflito no golfo, por enquanto diplomático, com a Arábia Saudita a liderar um grupo de países árabes contra o Qatar, acusado de ligações a movimentos e partidos radicais como o Daesh (e ao Irão…), talvez lance alguma luz sobre essas fontes… zangam-se as comadres, diz o ditado.

O terrorismo derrota-se, também, com a colaboração dos países e líderes espirituais muçulmanos. Este é um ponto essencial, curiosamente pouco evocado; e isso é estranho, se pensarmos que é justamente em países muçulmanos, na maior parte árabes, que tem havido o maior número de vítimas do terrorismo. Iraque, Síria, Paquistão, Afeganistão, Egipto, são milhares os mortos e feridos causados pelos ataques “jihadistas”. O Ocidente tem o direito de exigir que o Islão moderado assuma um papel central na luta contra o radicalismo… islâmico.

O terrorismo derrota-se, finalmente, com a convicção – com a certeza – de que os valores democráticos, éticos, humanos, são a coluna vertebral da civilização ocidental. Que não exclui, porque sempre soube incluir, e isso fez dela a força que ela hoje é.

Por isso, seja nas quatro medidas de May, seja nos três eixos referidos, seja na cooperação e colaboração multinacional e supranacional, se combaterá o terrorismo islâmico. E se vencerá o terrorismo islâmico.

O terrorismo islâmico é a expressão boçal e primitiva da crença humana – oh quão humana! – na transcendência divina. Uma expressão que o Ocidente – e o Islão moderado – rejeitam. Venceremos, apenas e só se a luta for nos nossos termos.

Sem radicalismos para a troca.