1 Escrevo estas linhas antes de serem conhecidos os resultados finais da 2ª volta das eleições em França – embora já seja sobejamente conhecida a forte polarização entre “Frentes” radicais rivais. (ver Post Scriptum, por favor).
Em contrapartida, já são conhecidos os muito estimáveis resultados das eleições britânicas – com uma vitória parlamentar muito expressiva do Partido Trabalhista, agora re-centrado pelo seu líder Sir Keir Starmer, e uma também confortável representação parlamentar do centrista Partido Liberal-Democrata.
2 Em suma, como escreveu em Editorial o Financial Times, “o centro na Grã-Bretanha – diferentemente do que se passa do outro lado do Canal (da Mancha ou Inglês, conforme os gostos) – resistiu globalmente”. (FT Weekend, 6/7 de Julho, p. 8).
Subscrevo inteiramente o balanço muito positivo do FT sobre os resultados eleitorais britânicos, assim como o balanço igualmente muito positivo da revista The Economist – nenhuma destas muito respeitadas publicações sendo “trabalhista” ou “de esquerda”.
3 Devo, contudo, expressar uma profunda preocupação quanto aos resultados do Partido Conservador – sobretudo no condado de Oxfordshire, onde não elegeu qualquer deputado, tendo dois círculos feito eleger dois trabalhistas e os restantes cinco cabendo aos liberais-democratas.
Muito apropriadamente, o (conservador) The Daily Telegraph de sábado recorda (p. 6) que pela primeira vez desde 1777 o Partido Conservador não elegeu qualquer deputado em Oxfordshire — onde vários antepassados de Winston Churchill foram sucessivamente eleitos pelo círculo de Woodstock (onde se situa o ancestral Blenheim Palace, berço de Churchill) durante o século XIX.
4 Dir-se-á que esta derrota conservadora em Oxfordshire é apenas expressão da derrota global dos conservadores, a maior derrota na história do partido mais antigo do mundo. É em parte verdade. Mas a derrota Oxfordiana tem, por outro lado, a virtude de apontar (ou, pelo menos, de sugerir) o caminho a seguir pelo Partido Conservador para retomar o papel liderante que tem ocupado durante séculos na ancestral democracia parlamentar britânica.
Por outras palavras, a derrota Oxfordiana a favor dos Liberais-Democratas e dos Trabalhistas (ambos agora re-centrados) mostra que o Partido Conservador deve retomar as suas ancestrais tradições de centro-direita. E deve retomar essas tradições em vez de sucumbir às pressões populistas que atormentam o Continente – e que, em Inglaterra, começam a fazer-se ouvir por algumas vozes favoráveis a uma patética “frente de direita” com os revolucionários do Sr. Farage.
5 A este propósito, não posso deixar de citar a excelente crónica no The Daily Telegraph de sábado (p. 26) do nosso amigo Charles Moore (biógrafo autorizado de Margaret Thatcher e frequente participante no Estoril Political Forum, promovido anualmente pelo IEP-UCP). Contrariando expressamente os que recomendam a aproximação entre o Partido Conservador e o partido populista do sr. Farage, Lord Moore recorda muito apropriadamente alguns temas estruturantes da Teoria Política.
Recorda, designadamente, que o conservadorismo britânico, (diferentemente do que muitas vezes aconteceu no Continente) nunca foi um movimento revolucionário da direita, por oposição aos movimentos revolucionários da esquerda (que, em Inglaterra, também sempre foram quase inexistentes). Lord Moore chega ao ponto de mencionar Oswald Mosley (que veio a ser admirador de Hitler!) como expressão do equívoco de querer fazer do Conservadorismo um movimento popular revolucionário e “anti-elites”.
Contrariando os que acusam hoje o Partido Conservador de não ser “suficientemente conservador”, Lord Moore recorda ainda que o conservadorismo não é uma mera coleção de reclamações políticas: “é algo mais subtil – uma mistura de convicções e de temperamento, um entendimento da natureza humana, um equilíbrio entre liberdade pessoal e coesão social, tradição e inovação”. Por outras palavras, o conservadorismo britânico (como em boa parte também o trabalhismo) foi sempre reformista e não revolucionário.
Por outras palavras ainda, recordando o historiador francês Élie Halévy, “o milagre da Inglaterra moderna não está em ter sido poupada à revolução, mas em ter assimilado tantas revoluções sem recurso à Revolução”.
Post Scriptum: Depois de escrever este texto, sou informado dos resultados da 2ª volta das eleições em França. Parece ter ocorrido uma vitória eleitoral da chamada “Nova Frente Popular”, que inclui vários sectores da esquerda radical. Faço votos de que os vencedores, bem como os vencidos, possam compreender que uma vitória eleitoral inteiramente legítima confirma a legitimidade do “sistema” demo-liberal – e que não é um convite à “Revolução”, nem à “Contra-Revolução”.