Estamos velhos. O país está velho e as ideias estão velhas e as estradas estão velhas.
Os orçamentos milagrosos, que cavalgam o milagre económico europeu em curso – que vai derramando sobre Portugal migalhas da sua cornucópia, tão finas quanto ilusórias – socorrem-se de muitos truques e artimanhas. Num país que pouco cresce, que aumenta a despesa, que oferece tudo a todos “sem cortes” e que reduz o défice, era inevitável ter trunfos na manga – na manga do grande ilusionista e do seu Ronaldo financeiro.
Os trunfos escondidos e jogados são as cativações e o desinvestimento na qualidade dos serviços públicos – sem finanças sãs, sem crescimento real e pujante, sem dívida controlada e sem incentivo verdadeiro ao investimento e à inovação (real motor da competitividade e da pujança da Economia), todos os gastos públicos em estruturas e em funcionários são em perda e são inúteis, como se provou.
São em perda e são inúteis porque são de curto prazo, são cosmética insustentável, roubam espaço e margem de manobra para o crescimento e, portanto, acabam por redundar também na degradação e na falência das estruturas que em primeiro lugar quiseram beneficiar.
E assim foi – reposições, reversões, despesa, despesa, despesa. De modo que o trunfo das cativações não é senão, posto isto, inevitável, como o é, de resto, a consequência há muito anunciada.
Fomos muitos a dizê-lo – e Assunção Cristas em primeiro lugar, a quem há dois anos louvei “as qualidades humanas e profissionais que indiscutivelmente possui”, fazendo votos de que as colocasse “ao serviço do seu partido e – não tenho dúvidas – ao serviço do país e do bem comum”. A “assunção de Assunção” – assim a qualifiquei então – dava-me esperança (mais do que confirmada) de vir a ter uma aliada na denúncia dos pressupostos orçamentais e das consequências inexoráveis que os mesmos produziriam sobre o país. E não me enganei – as infra-estruturas do Estado e os serviços básicos que este presta aos seus cidadãos degradam-se e apoucam-se a olhos vistos, com vista grossa do Governo e dos seus parceiros, cujo único móbil é reclamar aumentos em 2019.
E por isso este país é efectivamente para velhos. Os hospitais estão em regime de caos controlado; a fiscalização rodoviária não tem carros; os tribunais estão ingeríveis; as estradas têm cada vez mais buracos; os caminhos-de-ferro estão podres; a ponte, ao que parece, está no momento “ai-meu-Deus”; as escolas metem água, os professores estão de greve, o SIRESP ardeu e o Verão vem aí.
Mas os velhos – os velhos comunistas que apoiam os socialistas velhos – nada vêem, nada criticam, nada acusam. As preocupações com o bem-estar do povo resumem-se hoje em dia aos velhos sindicatos e aos salários que é preciso subir, porventura para comprar o acesso a serviços privados alternativos.
Não me canso de dizer: cabe à oposição fazer propostas novas, apontar reformas, defender a modernidade, a inovação e o crescimento económico. Este é o desafio que reitero e que dirijo especialmente à líder do CDS, recentemente relegitimada e cujo entusiasmo e empowerment são claros e inquestionáveis.
Este país não pode ser só para velhos e até as caras frescas do Bloco estão velhas de tanto faz-de-conta.
Venham os novos, venham as novas ideias, venha o sangue novo!