E já está, Gouveia e Melo é o novo Chefe do Estado-Maior da Armada (o chamado “CEMA”). Viram a tomada de posse do novo Almirante? Pois, eu também não. Pelo menos em directo não consegui ver. É que a cerimónia foi tão rápida que só a posteriori, e com recurso a imagens em câmara lenta, me foi possível perceber o que se passou na segunda-feira no Palácio de Belém. Aliás, esta tomada de posse foi de tal modo discreta que creio poder afirmar que não se via uma operação militar tão furtiva desde que os americanos apanharam o Bin Laden. Sendo que pelo menos neste caso os intervenientes foram avisados com a antecedência suficiente de molde a não serem apanhados de pijama no meio daquilo tudo.

Enfim, pijamas não houve mas, ainda assim, houve surpresas ao nível da indumentária. Isto porque Gouveia e Melo apareceu, todo pimpão, ornamentado com uma faixa verde a tiracolo. Dava ideia de ser uma daquelas faixas tipo as das Misses (e dos Misters também, suponho, embora não seja espectador tão assíduo deste outro género de certame de formosura). De início julguei tratar-se da faixa de Mister Fotogenia, tanto é o amor que Gouveia e Melo faz com as câmaras. Só que na sala estava também Marcelo Rebelo de Sousa, o detentor incontestado deste título. Por isso, e após análise mais cuidada, achei que seria a faixa de Mister Verborragia. Para, de novo, ser assaltado pela dúvida: espera, também ao nível da eloquência abundante e estéril não estará Marcelo ainda uns bons degraus acima de Gouveia e Melo? É possível, é. Olha, os dois que se entendam sobre o assunto. Não faltarão encontros em que o Comandante Supremo das Forças Armadas e o Chefe do Estado-Maior da Armada possam abordar estes temas decisivos para o futuro do país.

Mas voltando às questões fundamentais da tomada de posse de Gouveia e Melo. Um dos aspectos que marcou a cerimónia foi a ausência do anterior CEMA, o Almirante Mendes Calado. Que consta não ter apreciado a forma como foi substituído no cargo pelo coordenador da task-force da vacinação. Ora, juntando a ausência de Mendes Calado ao facto de Gouveia e Melo ter optado por não tecer comentários na cerimónia de posse, assistiu-se, em Belém, a uma ligeira variante do clássico “entrar mudo e sair calado”: neste caso saiu Calado e entrou mudo o novo CEMA.

Aliás, há uma importante ilação a retirar desta tomada de posse. “Mas quê, sobre uma eventual reorganização de todas as Forças Armadas que poderá daqui advir?”, indagarão os leitores interessados no que tem a ver com uma eventual reorganização de todas as Forças Armadas que poderá daqui advir. Claro que não. A ilação a retirar desta cerimónia é que assistimos, por fim, a um evento em que tanto Gouveia e Melo como Marcelo Rebelo de Sousa não falaram aos jornalistas. Não abriram a boca, o novo CEMA e o Presidente da República. Onde é que já se viu isto? Que me lembre é inédito.

Portanto, tomo a liberdade de deixar uma sugestão protocolar. A partir de agora Gouveia e Melo e Marcelo Rebelo de Sousa fazem tudo juntos. E sempre que se encontrarem em público, o novo CEMA tem de ser reempossado pelo Presidente da República. Imaginem, por exemplo, o seguinte cenário. Faz muito calor nos primeiros dias de 2022. Marcelo Rebelo de Sousa não aguenta os afrontamentos e tem de ir tomar banho ao mar. Gouveia e Melo vai com ele. Para ser reempossado. Em pleno areal da baía da Cascais. Marcelo todo encharcadão com a pança ao léu, e Gouveia e Melo de sunga, com a faixa verde a tiracolo, claro. Ou só com a faixa verde a tiracolo, se o Almirante assim preferir. Que diabo, era o que faltava. Um submarinista-vacinador deste calibre sabe decidir quando deve patentear o seu submarino. Ou a sua seringa. O importante é que Almirante e Presidente permaneçam calados. Isso é que é fundamental. Não sei o que vos parece, mas eu acharia de sonho.

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