José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, cometeu um ato condenável ao ligar para a RTP para trocar impressões sobre um cartoon criticando a ação da polícia francesa a propósito dos distúrbios dos jovens naquele país. O Governo tomou as dores também sentidas pelo seu chefe máximo da Polícia.

No entanto um político experiente como José Luís Carneiro não deveria reagir a quente. Deveria saber que a Liberdade de expressão é um valor intocável da nossa democracia e que todos os cidadãos que atuam no espaço público são susceptíveis de arcar com críticas sobre a sua atuação. Mas neste caso, nem se tratava de críticas às forças policiais portuguesas e José Luís Carneiro passa desta forma a imagem aos cidadãos de que governa com receio de desagradar a quem está sob o seu “comando”, uma vez que ligou e falou com o presidente da última empresa pública a que deveria ligar a nível político, a RTP.

A indignação faz parte da democracia. Tal como eu me indignei com as caricaturas que os professores fizeram de António Costa numa manifestação, percebo bem que outras pessoas, se indignem ao ver retratada a sua “classe profissional” de forma menos positiva contudo é a democracia a funcionar…

Os efeitos de um discurso da extrema direita que anuncia a intocabilidade das forças de segurança começam a entrar lentamente no inconsciente dos políticos de outros partidos e até nos membros do Governo. É uma situação nova, a que não estamos habituados, e que obrigará os moderados como José Luís Carneiro a pensar duas vezes antes de agir porque se antes dizíamos que o PCP tinha uma “cassete” de discurso repetido, também existe nos dias que correm uma “cassete” da extrema direita que através dos seus slogans vai nos fazendo entranhar “chavões” que não podemos normalizar.

O Sr. Ministro nunca deveria esquecer que existem valores democráticos intocáveis e a liberdade de expressão é um deles mesmo que seja para tranquilizar o seu espírito e de outros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR