“I, I will be King…we can beat them just for one day, we can be heroes.”
Como se viu nos últimos dias, os jihadistas conseguem derrotar todos, um país, a Europa, o mundo livre, durante um dia. Seguramente que se sentem como reis quando matam indiscriminadamente e semeiam o terror. E morrem como “heróis” para muitos que sonham um dia morrer como eles. Bin Laden e aqueles que atacaram os Estados Unidos no dia 11 de Setembro de 2001 foram os “heróis” de quem matou, anos depois, em Madrid e em Londres. E os terroristas de 2004 e de 2005 terão sido os “heróis” dos irmãos Kouachi. E vão surgir mais “heróis”.
Não é fácil forçar milhares de soldados e polícias a prosseguir dois irmãos. A capacidade para resistir, nem que seja um dia, já constitui uma “vitória” e inspira os futuros “heróis”. Também não são muitos os que conseguem fazer as capas de todos os jornais pela Europa fora. Para culminar a sucessão de “vitórias”, os “heróis” obrigam os líderes europeus a abandonar o sossego dos seus lares, num Domingo, para marcharem em Paris ao frio e à chuva.
A biografia dos terroristas de Nova Iorque, de Madrid, de Londres, de Paris é em muitos casos semelhante. O percurso niilista levou-os da alienação ao fanatismo e, daqui, ao terror. E aparecem todos os tipos de explicações, oferecidas por sociólogos e psicólogos. Algumas delas são fascinantes. Aliás, vivemos em sociedades fascinadas com a sociologia. Nada escapa à explicação dos sociólogos. Mas a explicação não é o mais importante agora. A prioridade não é explicar, mas sim defender os cidadãos europeus (incluindo os muçulmanos, como se viu em Paris). E a defesa encontra-se no plano político; o da ação.
A ação política e a defesa da nossa segurança deve partir do reconhecimento da realidade, por mais desagradável que seja. Está na altura de enfrentarmos as verdades incómodas. Nas sociedades europeias, há milhares de jovens, homens e mulheres que vivem com ódio e estão dispostos a matar pelo que nós somos, e não pelo que fazemos. Para eles, não há inocentes, apenas culpados. E querem matar o maior número possível de pessoas. Se puderem matar 20, não assassinam apenas 12. Também devemos acreditar que quem faz isso se torna num “herói” para muitos outros. Na Europa, em geral, há uma enorme dificuldade em lidar com certas realidades, sobretudo quando não se explicadas pelas referências ideológicas e conceptuais dominantes. E a crença, quase religiosa, no progresso torna difícil aceitar que para certos problemas não há soluções satisfatórias. Ou melhor, só há uma solução: lutar e ganhar.
Há um ponto que me parece evidente. Os nossos governos e as nossas autoridades terão que ser capazes de defender a segurança dos seus cidadãos. Nenhuma sociedade aguenta viver com o medo de viajar tranquilamente de comboio, avião, ou metropolitano; ou de trabalhar com segurança nas redações de jornais; ou de ir em sossego para as escolas. A falta de segurança ameaça a legitimidade democrática. Nunca nos devemos esquecer que Hobbes chegou antes de Tocqueville; e o segundo não teria existido sem o primeiro.
Sem segurança, e com “heróis” à solta, arriscamo-nos um dia, perdidos e confusos com as explicações dos nossos sociólogos, a acordar e ver a Frente Nacional a governar a França. Nesse dia, será tarde.